quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

EUA: Hagel e os sionistas “neo-McCarthyistas”

do Paul R. Pillar*, Consortium News via Gilson Sampaio em seu Blog
Hagel and the New McCarthyism

Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Desde que foi aventado o nome de Chuck Hagel (na foto com Obama) - antigo senador pelo Partido Republicano - como Secretário da Defesa dos EUA, ele tem sido vilipendiado e colocado na “lista negra” por suspeita de ser “esquerdista” e não ter “suficiente apoio de Israel”; isso é uma nova forma deMcCarthyismo.

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Sou suficientemente velho para ainda ter lembrança vaga, mas direta, de uma mancha na história dos EUA que se tornou conhecida como “o McCarthyismo”. Numa das recordações mais vívidas, revejo meus pais, em 1954, assistindo aos depoimentos televisionados do processo Exército-McCarthy – a primeira investigação conduzida pelo Congresso que foi televisionada em rede nacional nos EUA.

Embora eu fosse então jovem demais para perceber, aqueles depoimentos marcaram o começo do fim da horrenda campanha de calúnias e difamação orquestrada pelo senadorJoseph McCarthy. Antes do fim do ano, o senador foi formalmente censurado pelo Senado dos EUA.



Joseph McCarthy

Um dos principais fatores que aceleraram o fim da campanha de difamação e detonação de reputações capitaneada pelo senador McCarthy foi o trabalho da imprensa naqueles primeiros dias da era da televisão. A cobertura pela mídia, dos interrogatórios e depoimentos de 1954, que duraram várias semanas e nos quais se ouviam acusação e defesa, todos reunidos numa mesma sala de audiências, tornou completamente impossível não entender do que realmente se tratava, nas ações do McCarthyismo. A televisão influiu muito, ao levar aquelas cenas dramáticas para dentro dos lares norte-americanos pela primeira vez, em todo o país.

Outro fator importante, foi a coragem com que inúmeras figuras denunciaram o senador McCarthy, diretamente e claramente, diante dele. Um desses foi Joseph Welch, destacado advogado que trabalhava como principal conselheiro do exército dos EUA nos depoimentos.



Joseph Nye Welch

Quando McCarthy tentou aplicar seu método de declarar culpados-por-associação, contra um jovem advogado do escritório de Welch, Welch levantou-se. Disse, de público, que as táticas de McCarthy não passavam de “perversidade insaciável”; e pronunciou a frase mais memorável daquelas audiências horrendas:

Já basta. Chega! O senhor não tem nenhum senso de decência? Será que não lhe sobra mesmo nenhum senso de decência, senador?

Hoje, as coisas não estão, de fato, de modo que se possa, tão clara e diretamente, interpelar os agentes do neo-McCarthyismo. A imprensa é mais difusa; há muitos meios para impugnar os principais desmandos; ao mesmo tempo, a internet ou programas de entrevistas, por rádio e televisão, já causam impacto maior que sessões televisionadas do Congresso dos EUA.

Resta a questão da disposição de personagens influentes para falar com clareza e declarar crimes, os crimes – claramente, explicitamente. O professor, jornalista e empresário israelense Bernard Avishai escreve sobre a falta que fazem esses personagens, intimamente relacionada ao aspecto mais daninho (e abundante) das atuais táticas de estilo McCarthyista: a difamação (hoje quase sempre mascarada sob o que Avishai chama de “falsas campanhas contra a difamação” [no Brasil-2012, foram falsas campanhas pela “ética” udenista, ou, melhor dizendo: campanhas muito reais e ativas por uma suposta “ética” golpista udenista, sempre falsa (NTs)]. Naquelas falsas campanhas contra a difamação, agride-se, quase sempre, quem se atreva a questionar as políticas israelenses ou a conivência dos EUA com aquelas políticas.

A difamação é praticada por gangues de intelectuais midiáticos, jornalistas e comentaristas de televisão que dizem cultivar os interesses de Israel, mas que, na prática, pregam apoio acrítico, incondicional às políticas do governo israelense de direita hoje no poder – o que absolutamente não é cultivar os interesses de Israel.



Bernard Avishai

Avishai, que é um pouco mais jovem que eu, também já percebeu o que há de semelhante entre o que hoje se vê e o McCarthyismo original. Hoje, a difamação inclui arrastar para o centro do palco qualquer argumento, qualquer calúnia, qualquer mentira que ajude a destruir o nome a ser destruído, em cada instância. Nesse processo jamais faltam, embora não sejam as únicas calúnias, acusações injustificadas de antissemitismo.

E, como no McCarthyismo original, o processo constrói-se não só com atos de difamação direta de nomes seletos, mas também com intimidação, para paralisar muitos outros que poderiam não apenas questionar as políticas israelenses e norte-americanas, mas também o próprio processo de intimidação. O artigo de Avishai é claro e vai direto ao ponto; poderia citá-lo praticamente inteiro; melhor que todos leiam diretamente: “Hagel e os neo-mccarthyistas”, 26/12/2012, The Daily Beast.

Avishai escreve a propósito do tumulto criado em torno da indicação de Chuck Hagel ao posto de Secretário da Defesa. Como eu e outros já observamos, o assunto recebeu tanta atenção que a definição terá efeito no processo de deixar rolar à vontade o neo-mccarthyismo, ou dar-lhe um basta. Mas o presidente Obama ainda não se decidiu.

Mas mesmo que a indicação de Hagel se confirme, não bastará. Ainda falta quem dê nome aos bois, claramente, diretamente, explicitamente; e exponha o neo-McCarthyismo praticado por grupos e indivíduos que se apresentam como defensores de Israel e que, em nome disso, manifestam-se sobre qualquer indicação do presidente dos EUA ou, afinal, sobre qualquer assunto.

Quando Joseph Welch fez calar o senador McCarthy, as galerias irromperam em aplausos. Ouso crer que muitos dos observadores até agora passivos também aplaudirão, se alguém se levantar e fizer calar os neo-McCarthys.



Paul R. Pillar*, com experiência de 28 anos na Agência Central de Inteligência (CIA), passou a ser um dos seus principais analistas. Atualmente também é professor visitante na Georgetown University para estudos de segurança. (Este artigo apareceu pela primeira vez como um post de blog no site The National Interest na Internet. Aqui reproduzido com a permissão do autor).

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