quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Somos seres dependentes da natureza

por Marcus Eduardo de Oliveira
Não estamos meramente na Terra; antes disso, somos a Terra. Não ocupamos a natureza como meros participantes; somos a própria natureza, feitos de poeira das estrelas. Todo o material de que nós somos feitos (exceto hidrogênio e parte do hélio) foram manufaturados nas estrelas que morreram antes do sistema solar se formar. Portanto, nada mais somos do que produto das estrelas. Nas palavras do astrônomo Carl Sagan (1934 – 1996), somos “poeira das estrelas”.

Dependemos da natureza, das terras, da água, do ar, do sol, da chuva, das abelhas (sem elas não haveria alimentos), do fitoplâncton (algas microscópicas unicelulares responsáveis por 98% do oxigênio presente na atmosfera. O oxigênio produzido por estas microalgas através da fotossíntese é o mesmo oxigênio que respiramos na atmosfera, já que há troca de gases entre a água e o ar, daí a importância destas microalgas para a vida no nosso planeta) e dependemos muito das estrelas. Isso tudo não é prosa nem verso; é fato! São as estrelas com sua capacidade ímpar de brilhar que geram energia fundindo hidrogênio em hélio e, dessa combinação, permite-se aflorar o nitrogênio, o oxigênio, o carbono, o ferro que se localizam nos aminoácidos (unidades químicas que compõem as proteínas) e nas proteínas (que formam os músculos, os ligamentos, os tendões, as glândulas, enfim, que permitem o crescimento ósseo). Sem isso, a vida não seria possível. Somos, por consequência, a própria natureza ainda por razões filológicas. Não por acaso, somos originários do Adão bíblico (em hebraico, Adam significa “Filho da Terra”), ainda que isso seja puramente uma metáfora. Somos natureza ainda quando nos damos conta de que pelo aspecto filológico as palavras homem/humano vem de “húmus”, cujo significado é “terra fértil”.

Apenas por esse aspecto, cuidar da natureza é, antes de tudo, cuidar da vida em seu sentido mais literal possível. Lamentavelmente, para atender as solicitações do mercado de consumo, a atividade econômica, em especial, tem patrocinado a mais severa destruição das teias da natureza que conformam a capacidade de sustentação da vida. Destruir a natureza em troca dos apelos da voracidade do consumo de bens é, antes disso, destruir a própria vida em seu conjunto. O mercado, assim como toda a economia, e a nossa sobrevivência dependem do conjunto dos recursos naturais. A economia, enquanto atividade produtiva é apenas um subproduto do ambiente natural e depende escandalosamente dos mais variados recursos que a natureza emana. É importante salientar que nós, como todos os seres vivos, somos partes e não o todo desse ambiente natural que contempla essa riqueza chamada “viver”.

As demandas humanas se vinculam à capacidade da terra, contudo, essa é a conta que não fecha. “Em 1961, precisávamos de metade da Terra para atender às demandas humanas. Em 1981, empatávamos: precisávamos de uma Terra inteira. Em 1995, ultrapassamos em 10% sua capacidade de reposição, mas era ainda suportável”, quem diz isso é Leonardo Boff.

Em relação a isso, parece não haver dúvidas de que estamos falando de uma perspectiva que envolve essencialmente a manutenção da vida pelos íntimos laços que temos para com a Mãe Terra. Nesse pormenor, é oportuno resgatarmos a argumentação do educador canadense Herbert M. McLuhan (1911-1980): “Na espaçonave Terra não há passageiros. Todos somos tripulantes”.

A economia sendo um espaço de conhecimento das ciências humanas não pode prescindir em ajudar na disseminação de um discurso em prol da vida, e não a favor do deus mercado como tem sido freqüente desde o surgimento da Escola Clássica no século XVIII. Pelas lentes das ciências econômicas, discutir desenvolvimento econômico, confundindo-o com crescimento é o mais absurdo dos equívocos, pois a economia tradicional nos leva a pensar apenas em aspectos quantitativos, e não nos qualitativos. Por isso, para abastecer as prateleiras do mercado de consumo patrocina-se a destruição dos recursos naturais sem piedade. Perceber a economia apenas pela quantidade de coisas produzidas é um erro abissal que somente tem feito provocar ainda mais a cultura do desperdício e da falta de parcimônia em matéria de regular a atividade produtiva, ao passo que isso tudo aprofunda o consumismo, essa chaga do sistema capitalista que põe as teias da vida, da Mãe Natureza, sob o constante risco da dilapidação completa.

(*) Marcus Oliveira é professor de economia. Especialista em Política Internacional e Mestre em Integração da América Latina (USP).

prof.marcuseduardo@bol.com.br

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