sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Líbia 2015:A mais rica democracia africana é hoje "paraíso" patrocinado por EUA-OTAN





por Garikai Chengu*, 

Em 1967, o coronel Gaddafi herdou uma das mais pobres nações africanas. Quando foi assassinado, a Líbia era a nação mais rica da África. Antes do início da campanha de bombardeio comandada pelos EUA contra o país, a Líbia tinha o mais alto Índice de Desenvolvimento Humano, a mais baixa taxa de mortalidade infantil e a mais longa expectativa de vida de todo o continente africano.

20 de outubro marca o 4º aniversário do assassinato de Muammar Gaddafi. Foi quando os EUA acabaram de destruir uma das maiores nações de toda a África.


Hoje, a Líbia é estado destruído. A intervenção militar por exércitos ocidentais sob comando dos EUA gerou o pior cenário imaginável: todas as embaixadas ocidentais foram abandonadas; a região sul do país tornou-se abrigo seguro para os terroristas do ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico; e a costa norte é hoje centro de tráfico de migrantes. Egito, Argélia e Tunísia fecharam suas fronteiras com a Líbia. E isso acontece num quadro dantesco de estupros, assassinatos e torturas generalizados, que completa a descrição de estado destruído até a medula.


Hoje, na Líbia há dois governos que disputam o país, dois parlamentos, dois bandos que disputam o controle do banco central e da empresa de petróleo do país, nenhuma polícia ou exército funcionais, e os EUA agora temem que o ISIS comande campos de treinamento de terroristas em vastas áreas do país.

De um lado, no oeste do país, milícias aliadas de islamistas tomaram o controle da capital Tripoli e de outras cidades chaves, e impuseram ali seu próprio governo, depois de expulsarem um parlamento que havia sido eleito.

Do outro lado, no leste do país, o governo ‘legítimo’, dominado por políticos anti-islamistas e que vive exilado a 1.200 quilômetros de distância da capital, em Tobruk, já não governa coisa alguma. A democracia que governos ocidentais prometeram aos líbios para depois que o regime do coronel Gaddafi fosse ‘mudado’, se algum dia existiu, dela hoje não se veem nem vestígios.

Ao contrário do que ensina a mídia-empresa ocidental, a Líbia nunca foi alguma “ditadura militar de Gaddafi”; na verdade, a Líbia de Gaddafi foi um dos estados mais democráticos do mundo.

Sob o sistema de democracia direta de Gaddafi, único em todo o mundo, as instituições tradicionais do governo à ocidental haviam sido desmontadas e abolidas. O poder pertencia ao povo, que o exercia diretamente mediante comitês e congressos populares.

Muito diferente de país controlado por um único homem, a Líbia era nação altamente descentralizada e dividida em várias pequenas comunidades que, na essência, operavam como “miniestados autônomos” dentro de um estado. Esses estados autônomos controlavam seus próprios distritos e tomavam várias decisões, inclusive como alocar os lucros do petróleo e os fundos nacionais orçamentais. Dentro desses miniestados autônomos, os três principais corpos da democracia líbia eram os Comitês Locais, os Congressos Básicos do Povo e os Conselhos Revolucionários Executivos.

Os Congressos Básicos do Povo (CBP) ou Mu’tamar shaʿbi asāsi eram essencialmente o equivalente líbio, em funções, da Câmara dos Comuns no Reino Unido ou da Câmara de Representantes nos EUA. Mas os Congressos do Povo da Líbia não eram constituídos só de representantes eleitos que discutiam e propunham leis em nome do povo; o Congresso admitia a participação direta no processo, de todos os líbios. Estavam em operação em todo o país 800 Congressos Básicos do Povo, e todos os líbios podiam comparecer às reuniões e participar das discussões e tomar decisões em todas as grandes questões inclusive de orçamento, de educação, indústria e de economia em geral.

Em 2009, Gaddafi convidou o New York Times para que enviasse jornalistas que passariam duas semanas no país e observariam a operação da democracia direta líbia. Até o New York Times, que sempre foi crítico furioso do experimento democrático do coronel Gaddafi, reconheceu, pelo menos, que, pelo projeto político nacional

“[Na Líbia] todos estão envolvidos em todas as decisões (…) Dezenas de milhares de pessoas participam de reuniões de comitês locais para discutir e votar questões as mais variadas, de tratados internacionais à construção de escolas.”

A diferença fundamental entre os sistemas democráticos ocidentais e a democracia direta da Jamahiriya é que, na Líbia, todos os cidadãos tinham pleno direito de expressar diretamente a própria opinião – não em algum Parlamento de apenas umas poucas centenas de políticos ricos que, pressupostamente, representariam os pobres –, mas em centenas de comitês de cujas reuniões participavam dezenas de milhares de cidadãos. Longe de ser alguma ditadura militar, a Líbia governada pelo coronel Gaddafi foi a mais próspera democracia da África.


Inúmeras vezes, propostas do próprio coronel Gaddafi foram rejeitadas pelo voto popular nos Congressos, que aprovavam o exato oposto do que Gaddafi propusera; e o que foi aprovado foi convertido em lei.

Por exemplo: inúmeras vezes o coronel Gaddafi propôs a abolição da pena de morte, e queria implantar a educação doméstica, em vez das escolas tradicionais. Mas os Congressos do Povo sempre quiseram manter a pena de morte e as escolas tradicionais – e sempre prevaleceu a decisão dos Congressos do Povo. Assim também, em 2009, o coronel Gaddafi apresentou sua proposta para, essencialmente, abolir completamente o governo central e entregar toda a administração dos procedimentos de extração e comercialização do petróleo diretamente às famílias. Os Congressos do Povo também rejeitaram essa ideia.

Por mais de 40 anos, Gaddafi promoveu uma democracia econômica, e usou a riqueza nacionalizada do petróleo para manter programas de bem-estar social muito progressistas, e para todos os líbios. Sob governo de Gaddafi, os líbios gozaram não só de atendimento à saúde e educação universais gratuitos, mas também de eletricidade gratuita e empréstimos sem juros.

Hoje, graças à intervenção de EUA-OTAN, o setor de saúde já praticamente nem existe, depois que milhares de médicos e enfermeiros filipinos empregados do estado líbio fugiram do país; universidades públicas que havia em todo o país estão fechadas; e frequentemente falta energia elétrica na antes vibrante Trípoli.

Diferentes dos cidadãos ocidentais, os líbios não votavam a cada quatro anos para trocar o presidente, e eleger parlamentos que, por mais que se troquem os nomes, são invariavelmente povoados de gente rica que ganham um direito pressuposto democrático de defender os direitos dos pobres contra os seus próprios direitos de ricos. Líbios comuns tomavam suas próprias decisões de política exterior, política doméstica e política econômica, eles mesmos.

O bombardeio dos EUA em 2011 contra a Líbia, não destruiu apenas a infraestrutura da democracia líbia. Os EUA também trabalharam diretamente para promover Abdelhakim Belhadj, então líder de um grupo terrorista chamado ISIS, o mesmo grupo que, hoje, torna absolutamente impossível qualquer democracia na Líbia.

O fato de que os EUA têm longa e desgraçada história de apoiar grupos terroristas no Norte da África e no Oriente Médio só surpreenderia quem viva de ‘informar-se’ por noticiários de jornal e televisão e aplicadamente se dedique a não conhecer diretamente nenhum fato.

A primeira vez que a CIA aliou-se a islamistas extremistas foi ainda durante a Guerra Fria. Naquele momento, os EUA viam o mundo por uma equação não ‘simples’, mas caolha: de um lado, a União Soviética e o nacionalismo terceiro-mundista, que os EUA consideravam arma soviética; de outro lado, as nações ocidentais e o extremismo islamista, chamado “Islã Político”, que os EUA viam como seu aliado na luta contra a União Soviética.

Desde então, os EUA já usaram a Fraternidade Muçulmana no Egito contra a expansão soviética; o Islã Sarekat contra Sukarno na Indonésia; e o grupo terrorista Jamaat-e-Islami contra Zulfiqar Ali Bhutto no Paquistão. Hoje, não por acaso, aí está a Al-Qaeda-EUA.

Al Qaeda: ‘a base’ (de dados da CIA)

Não se pode esquecer que a CIA pariu Osama Bin Laden e amamentou seus terroristas durante todos os anos 1980's. O ex-secretário do Exterior da Grã-Bretanha Robin Cook contou à Câmara dos Comuns que a Al Qaeda é e sempre foi, sem nenhuma dúvida possível, criação das agências de inteligência ocidentais. Robin Cook explicou que a Al Qaeda – palavra árabe que significa, literalmente, “a base”, foi, na origem, a base de dados de milhares de extremistas islamistas que eram treinados pela CIA e pagos com dinheiro saudita para derrotar os russos no Afeganistão. Naquela época, o Islamic State of Iraq and Syria (ISIS) atendia por outro nome: Al Qaeda no Iraque.

O ISIS está em surto de metástase em velocidade alarmante, na Líbia, ainda sob a liderança de um Abdelhakim Belhadj. A rede Fox News admitiu recentemente que “Mr. Belhadj foi há algum tempo cortejado pelo governo Obama e membros do Congresso”, e que foi firme aliado dos EUA na campanha para derrubar Gaddafi. Em 2011, os EUA e o senador McCain elogiavam Belhadj como “heroico combatente da liberdade”, e Washington forneceu armas e apoio logístico ao grupo dele. Hoje, o senador McCain diz que a organização comandada por Belhadj, o ISIS, “é provavelmente a maior ameaça que há contra os EUA e tudo que defendemos”.

Enquanto Gaddafi viveu, o terrorismo islamista praticamente nem existia, e em 2009 o Departamento de Estado dos EUA dizia que a Líbia era “importante aliada na guerra ao terrorismo”.

Hoje, depois da intervenção dos EUA, a Líbia abriga o mais gigantesco arsenal de armas desviadas do planeta, e por suas fronteiras porosas transitam os atores não estatais mais pesadamente armados do mundo – tuaregues separatistas, jihadistas que expulsaram de Timbuktu o exército nacional do Mali e, cada dia mais, milícias do ISIS lideradas pelo antigo aliado dos EUA, Abdelhakim Belhadj.

Bem claramente, o sistema econômico e de democracia direta de Gaddafi foi dos mais profundos experimentos de democracia que os séculos 20-21 conheceram. A destruição da Líbia entrará para a história como uma das mais retumbantes derrotas militares que EUA-OTAN sofreram, em todos os tempos.

*Garikai Chengu é aluno da Harvard University

http://www.orientemidia.org/libia-2015a-mais-rica-democracia-africana-e-hoje-paraiso-patrocinado-por-eua-otan/


O ACORDO TRANSPACÍFICO, O BRASIL E A GEOPOLÍTICA

Grandes países impõem acordos comerciais. Os pequenos, assinam.

Por Mauro Santayanna


(Jornal do Brasil) - Com o acordo Transpacífico (TPP) nas manchetes, a direita neoliberal, e personalidades como o Ministro Armando Monteiro, voltam a defender a assinatura, pelo Brasil, de acordos comerciais, com a discutível tese de que se não fizermos isso, ficaremos isolados do mundo e do desenvolvimento.

Mesmo que esteja, aparentemente, bem intencionado, o Ministro Armando Monteiro e a costumeira malta dos alegres defensores do neoliberalismo, deveriam se perguntar por que países como a China - que não vai fazer parte do TPP -  estão, apesar disso, cada vez menos isolados, e cada vez mais desenvolvidos.

Por que os europeus não apresentaram até agora sua lista de propostas ao Mercosul, nem conseguiram obter um mínimo de apoio ou consenso de seus agricultores para a assinatura de acordo com essa organização sul-americana.

Por que o Brasil está enfrentando problemas e a ponto de ser processado na OMC – Organização Mundial do Comércio, devido ao uso de incentivos fiscais em áreas como a automotiva, de telecomunicações e de tecnologia, enquanto países desenvolvidos sempre apoiaram esses setores e os protegeram e continuam blindando-os da competição estrangeira, como é o caso dos Estados Unidos.

E por que milhares de cidadãos de todo o mundo, entre eles, por exemplo, mais de 250.000 alemães – cidadãos de um país que consideram “modelo” e desenvolvido - foram às ruas, outro dia, em uma gigantesca manifestação no centro de Berlim, para protestar contra negociações visando à  entrada da União Européia no mesmo Acordo Transpacífico, que, aqui no Brasil, estão querendo nos vender como panaceia.

Quem sabe isso poderia levá-los a refletir  sobre uma verdade simples:

Assim como a Guerra – como dizia Clausewitz – é uma extensão da política,  acordos comerciais são um reflexo e uma projeção do poder nacional, aplicado à geopolítica.

No âmbito comercial, e a história da expansão do poder “ocidental” não é mais do que isso, grandes nações impõem acordos comerciais – quase sempre leoninos – e as pequenas nações os assinam.

Na década de 1960, no auge da Guerra Fria, John Kennedy visitou a Alemanha, e, para demonstrar sua solidariedade aos alemães “capitalistas” na crise de Berlim, logo após a conclusão do muro pelos soviéticos, disse:

“Ich bin ein berliner” – “eu sou um berlinense.”

Frente às declarações do Ministro Armando Monteiro – ainda que possam ter sido bem intencionadas - e dos “analistas” de sempre, que, na mídia, não perdem uma oportunidade de repetir seus mantras entreguistas sem perceber que eles estão longe de ser uma unanimidade hoje, e sem se perguntar por que tanta gente insiste em discordar deles, e se dispõe a enfrentá-los nas ruas, em muitos lugares do mundo;  e, principalmente,  em consonância com as  dezenas de milhares de alemães que desfilaram pelas ruas da capital da maior economia da Europa, protestando contra a perspectiva da entrada de seu país no Acordo Transpacífico, dá vontade de dizer, quanto à tentativa de “globalização”, ou melhor, de “norte-americanização” forçada do comércio “ocidental”: eu sou um berlinense, “ich bin auch ein berliner!”

Por que deveríamos pensar diferente?

O Brasil tem, em sua região, a mesma importância que a Alemanha tem na sua.

Não é de se crer que tenhamos a menor vocação para deixar de ser - com todos os nossos eventuais problemas – a oitava economia do mundo e o país mais importante da América Latina, para nos entregarmos definitivamente à condição de uma província a mais ou de um mercado a mais, totalmente aberto e subalterno aos produtos e aos ditames norte-americanos, em seu esforço para manter sua cada vez mais ameaçada hegemonia, logo em um século, em uma época, em que deveríamos estar nos preocupando em defender o lugar que nos cabe no mundo e os nossos interesses, e não os dos EUA.

http://www.maurosantayana.com/2015/10/o-acordo-transpacifico-o-brasil-e.html

Do zero ao espaço em 70 anos

por Aleksander Verchínin

"A Rússia é hoje um dos líderes mundiais no desenvolvimento e produção de sistema de defesa aérea. O C-300 e C-400, por exemplo, não possuem análogos no exterior. Mas até 70 anos atrás ninguém no país tinha a menor ideia de como produzir esse tipo de armamento."

Os combates da Segunda Guerra Mundial mostraram que a artilharia estava perdendo sua eficácia. A aviação, que se desenvolvia rapidamente, tinha um alcance e potência muito maior. O único problema era encontrar pilotos qualificados, que necessitavam de anos de preparação.
Os exércitos europeus começaram então a desenvolver projéteis aéreos não tripulados, chamados os sistemas de mísseis antiaéreos. A União Soviética, é claro, seguiu a tendência. O autor de um desses projetos foi o engenheiro Sergo Béria, filho de Lavrenti Beriado, comissário do povo para Assuntos Internos durante grade parte do governo Stálin.
Em 1951, ao fim de quatro anos de trabalho, a equipe de Béria, que operava em uma empresa secreta, criou um projétil voador que podia facilmente perfurar a blindagem de um cruzador.
Para combater bombardeiros convencionais não fazia sentido construir uma linha cerrada de defesa. Afinal, os danos da queda acidental de uma bomba eram incomparavelmente menores aos custos de organização e produção de um sistema desses.
Mas, no caso de carga nuclear, tudo mudava: um projétil desses poderia destruir uma cidade inteira. Um novo objetivo passou a fazer parte da agenda de trabalho – construir um sistema de protegesse as cidades soviéticas e não deixasse entrar nem mesmo um único avião inimigo. Foi justamente aí que os sistemas de defesa aérea voltaram à cena.
O governo decidiu cobrir Moscou com dois anéis de sistemas de defesa aérea ligados entre si por um caminho de concreto, pelo qual os mísseis eram transportados. Tratava-se então de um novo tipo de arma capaz de detectar o alvo por um radar e destruir seus mísseis com ogivas.
Primeiro de muitos
Cinco anos foi o tempo necessário para o desenvolvimento e teste do projeto. Em 1955 foi aprovado o primeiro sistema de defesa aéreo soviético, o S-25. Na época, não havia nada igual em nenhum Exército do mundo.
S-25 foi primeiro sistema de defesa aéreo da URSS
Os mísseis conseguiam atingir um alvo voador se deslocando a velocidades supersônicas em altitudes de até 20 km. Para a concretização do projeto, a pequena equipe de Béria foi transformada em uma empresa de grandes dimensões, com milhares de funcionários.
O S-25 era bom, mas espalhar um sistema de defesa do gênero por todo o território da União Soviética exigia um sistema móvel que pudesse se deslocar livremente para poder ser colocado em segurança em caso de ataque de retaliação.
A solução veio com o S-75, cujo aparecimento causou uma verdadeira revolução no combate a aviões inimigos. Em 1960, um de seus mísseis atingiu pela primeira vez um avião espião norte-americano U-2 que sobrevoava Sverdlovsk.
Também foi devido a esse sistema que a Força Aérea dos Estados Unidos sofreu grandes perdas no Vietnã. Armados com mísseis soviéticos, os vietnamitas, que os levaram para a selva literalmente nas mãos, conseguiram abater mais de 2.000 aviões de combate norte-americanos.
Em Cuba, S-75 protegeu mísseis nucleares soviéticos instalados na ilha
Dois anos depois, o S-75 foi levado a Cuba para proteger os mísseis nucleares soviéticos instalados na ilha. Tentando escapar do radar do sistema de defesa aérea soviética, as aeronaves começaram a voar a altitudes extremamente baixas. Mas a resposta para combater essa tática foi implacável: o S-125.
S125 Neva 250 brPVO VS, september 01, 2012.jpg
Em 1967, os funcionários do departamento de projetos desenvolveram um novo sistema antimísseis de nova geração – o S-200. Ele conseguia atingir alvos a uma distância de mais de 200 km, tornando possível cobrir vastas áreas com um número reduzido de sistemas móveis corretamente posicionados.
S-200 é capaz de atingir alvos a distância superior a 200 km
Apesar da rápida evolução e dos diversos modelos, a verdadeira joia da empresa – que em 1977 passou a ser conhecida como o departamento de projetos Almaz – foi o S-300, adotado pelo Exército soviético em 1979 e mantido operacional durante 35 anos. O seu radar permitia detectar o alvo a uma distância de 300 km e disparar sobre 30 objetos ao mesmo tempo.
O seu sucessor, o S-400, apresentava parâmetros ainda mais atrativos: era possível combater os chamados aviões invisíveis, com tecnologia “stealth”.
S-400 não possui análogos estrangeiros
Em 2008, por meio da fusão de todas as empresas do ramo envolvidas no desenvolvimento e produção de sistema de mísseis antiaeronaves, nasceu o consórcio Almaz-Antey. Em termos de volume de exportação, a empresa ocupa a liderança no complexo militar-industrial russo.
Hoje, os engenheiros do consórcio estão desenvolvendo um sistema antimíssil de quinta geração, que permitirá à Rússia dar uma resposta eficaz a ameaças aeroespaciais.
Fábrica do consórcio Almaz-Antey
(OBS.: METAM A CARA, IMPERIALISTAS DA OTAN!)
http://gazetarussa.com.br/entre_ideias_e_armas/2015/10/29/do-zero-ao-espaco-em-70-anos_535127

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Pirâmide da Riqueza e Rendimentos Isentos de IR



Pirâmide da Riqueza e Rendimentos Isentos de Imposto de Renda
Fernando Nogueira da Costa*
Segundo o Informe sobre Riqueza Global 2015 do Credit Suisse, 34 milhões de pessoas, equivalendo a 0,7% do total da população economicamente ativa mundial, possuem mais de 1 milhão de dólares ou 45,2% dessa riqueza. Entre US$ 100.000 e US$ 1 milhão são 349 milhões de pessoas ou 7,4% da população com 39,4% da riqueza; entre US$ 10.000 e US$ 100 mil, um bilhão de pessoas ou 21% da população e 12,5% da riqueza; finalmente, com menos de US$ 10 mil, 3,386 bilhões (71%) só com 3% da riqueza!
A fortuna das 85 pessoas mais ricas equivale às posses dos 50% mais pobres do mundo. A Oxfam informa que 20% da população mundial vive com menos de US$ 1 por dia e 40% com renda inferior a US$ 2 por dia.
A concentração de patrimônio nos Estados Unidos atingiu seu pico em 1913 com 25% da riqueza em posse do 0,1% de famílias mais ricas. Após I Guerra Mundial, retomou a esse nível até o crashda Bolsa de Valores em 1929, e daí diminuiu até meados dos anos 70, atingindo 8%. A partir de então, aumentou mais 15 pontos percentuais até 2013. Na Era Neoliberal de permissividade com a autorregulação do mercado está voltando ao pico a concentração da riqueza norte-americana.
Lá, nos Estados Unidos, em 2014, ¾ do total da riqueza estava na posse dos 10% mais ricos. É menos do que na Rússia pós-soviética (85%), mas mais do que nos outros países do BRIC: a Índia (74%), o Brasil (73%) e a China (64%). Em todos os Estados de Bem-Estar Social – a Alemanha (62%), o Canadá (57%), o Reino Unido (54%) e o Japão (49%) – os 10% mais ricos tinham fatia menor.
Discute-se a possibilidade de um Imposto sobre Herança e/ou um Imposto sobre Doação ser um paliativo que serviria para atenuar o mal-estar social ou protelar uma revolta política provocada pela imensa desigualdade. No entanto, nos Estados Unidos esses tributos já existem com alíquota média de 29% e máxima de 40%. Na Alemanha, são respectivamente 28,5% e 50%, percentuais similares aos do Japão. Na Inglaterra, é unicamente 40%. Na França, sobre herança, o tributo médio é 32,5% e o máximo, 50%; sobre doação, 25% e 45%.
E no Brasil? O ITCMD é um tributo estadual que varia da média de 3,23% até o máximo de 8%. Porém, os outros países do BRIC não os adotam, com a exceção da Índia que cobra Imposto sobre Doação com médio de 15% e máximo de 45%.
Quanto ao Imposto sobre Grande Fortuna (IGF), o “efeito Depardieu” (fuga de capital) é mais provável, na medida em que pouquíssimos países o cobram. Na França, a alíquota máxima é de 1,5%, sendo aplicável apenas a indivíduos com fortuna líquida superior a € 1,3 milhão de euros ou R$ 5,566 milhões. No Brasil há 57.505 indivíduos com mais de R$ 3 milhões em riqueza financeira, no total de R$ 694 bilhões, e média per capita de R$ 12 milhões. Com mais de R$ 10 milhões há 8.842 e com mais de R$ 20 milhões,  3.902. Há 54 bilionários globais.
Na Índia, a alíquota máxima do IGF é de 1%, aplicável a indivíduos com fortuna líquida superior a 3 milhões de rúpias indianas. Na Noruega, é 1,1%. Na Suíça é 1,5%, mas os valores variam de acordo com os cantões. Na Alemanha foi abolido em 1997, no Luxemburgo em 2006 e na Suécia em 2007.
Na verdade, a Carga Tributária Bruta (CTB) no Brasil é similar à média dos 34 países da OCDE: 34,5% contra 34,1% do PIB entre 2008 e 2012. Esta CTB média no período na Rússia é um pouco maior: 36,7%. Mas China e Índia têm CTB média bem menor, em torno de 19-22% do PIB. Todos os países do BRIC adotam um Capitalismo de Estado, para tirar o atraso histórico em desenvolvimento socioeconômico, em vez do Capitalismo Liberal da OCDE.
Mas o que, de fato, diferencia o Brasil da média dos 34 países da OCDE é a estrutura tributária, isto é, a participação percentual de cada base de incidência na CTB. Aqui, a Tributação sobre Bens e Serviços (ICMS, ISS), que é regressiva, atinge 49,7%; lá, 32,9%. A Tributação sobre Renda e Lucros, progressiva, aqui é 17,8%; lá, 33,5%. Quanto aos demais tributos, sobre Segurança Social e Folha Salarial (INSS, FGTS, PIS-PASEP), suas participações são próximas: 26,5% contra 27,3%; sobre Propriedade (IPTU, IPVA, ITBI) também: 3,9% contra 5,4%. Outros tributos aqui somam 2,1%; lá, 0,9%.
Recentemente, com a divulgação dos Grandes Números da Declaração de Imposto de Renda (IR) de 2014 – AC 2013, tornou-se público que os “super-ricos” no Brasil representam só 0,3% do total de contribuintes do IR. Os 71.440 indivíduos que receberam no mínimo 160 salários mínimos (R$ 126.080,00) ao mês ou R$ 1,5 milhão no ano, obtiveram renda anual média, no ano-base de 2013, de R$ 4,170 milhões. Sem abater as dívidas, a média per capita de Bens e Direitos desta faixa mais rica atingiu R$ 17,7 milhões. O patrimônio líquido (contendo imóveis registrados em valores históricos) desse reduzido grupo equivalia a 22,7% de toda a riqueza em bens e direitos no DIRPF 2014/13. No entanto, o imposto de renda pago por essa faixa de rendimento acima de 160 salários mínimos equivale apenas a 6,51% de sua renda total.
Investigando mais um pouco essa DIRPF, os recebedores de lucros e dividendos, somados aos que recebiam rendimentos de sócios e titulares de microempresas (“CPF disfarçado de CNPJ”), totalizavam 2.100.823 declarantes. Entre aqueles “super-ricos”, havia 51.419 indivíduos com rendimentos isentos no valor total de R$ 161 bilhões (43% do total isento). Como os presidentes e diretores de empresas industriais, comerciais ou de prestação de serviços tinham R$ 178,5 bilhões isentos, provavelmente, são eles os pertencentes a aquela “casta de comerciantes-financistas”. Essa categoria profissional composta de dirigentes com 688.924 declarantes (32,8% do total desses isentos) era, disparadamente, a que tinha maior isenção do IR. Os 129.350 médicos (entre os 241.510 existentes, em 2010, 29% deles estavam no 1% mais rico da sociedade brasileira) situam-se em segundo lugar (R$ 24,6 bilhões isentos fora os “sem recibos”) e os 79.918 engenheiros, arquitetos e afins (R$ 19,3 bilhões isentos) em seguida.
Proprietário de empresa ou firma individual ou empregador-titular tinha 28% de rendimento tributável, 12% de tributável exclusivamente na fonte e o maior grau de rendimentos isentos (60%) por natureza de ocupação.
Um breve exercício: se elevasse de 6,51% de IR que os recebedores de mais de 160 salários mínimos pagam em relação à sua renda para 11,96%, que é o máximo pago em outra faixa (a de 20 a 40 salários mínimos), o fisco taxaria 5,45% sobre os R$ 161 bilhões isentos, o que daria R$ 8,8 bilhões. Mais 3,79% (11,96% - 8,17%) dos R$ 50,8 bilhões dos rendimentos isentos dos que recebem entre 80 e 160 salários mínimos aumentaria a arrecadação em R$ 1,9 bilhão. Esta contribuição de R$ 10,7 bilhões seria socialmente mais igualitária – e ajudaria o ajuste fiscal.
*Fernando Nogueira da Costa é Professor Titular do IE-UNICAMP. Autor do livro “Brasil dos Bancos” (Edusp, 2012)
http://www.jornalggn.com.br/noticia/piramide-da-riqueza-e-rendimentos-isentos-de-ir-por-fernando-nogueira-da-costa

domingo, 25 de outubro de 2015

O que é o que assustou o navio de guerra americano no Mar Negro?


A imprensa especializada mundial não disse nada sobre o incidente, mas os observadores e analistas militares, em todo o mundo, não param de comentar.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos, reconheceu que a tripulação do destroyer Donald Cook ficou seriamente desmoralizada depois do seu encontro com o caça russo Su-24, que não transportava bombas nem mísseis, mas apenas um dispositivo com um sistema de guerra eletrônica. Que outros dispositivos de guerra eletrônica terão as Forças Armadas russas?

No passado dia 10 de abril, o destroyer Donald Cook entrou no Mar Negro. A 12 de abril, um bombardeiro russo Su-24 sobrevoou o navio. Mais tarde comentou-se que a tripulação do Donald Cook tinha ficado desmoralizada após o seu encontro com o bombardeiro, e alguns média afirmaram que 27 marinheiros norte-americanos pediram baixa do serviço. O que é que assustou a tripulação do destroyer?

O Donald Cook é um destroyer lança-mísseis de quarta geração, pertencente à Marinha dos Estados Unidos. A sua principal arma são os mísseis de cruzeiro Tomahawk, que têm um alcance máximo de 2.500 km e podem transportar ogivas nucleares. Na sua versão normal, o navio está equipado com 56 mísseis, e na sua versão de ataque conta com 96 mísseis.

O destroyer está equipado com o sistema de combate, de última geração, Aegis, um sistema integrado que reúne os meios de defesa anti-mísseis de todos os navios em que está instalado, numa rede geral, permitindo controlar e atacar centenas de alvos ao mesmo tempo. Junto às amuradas o destroyer tem instalados quatro enormes radares universais, cujas antenas contam com uma potência semelhante à de várias estações de radar. Além dos mísseis Tomahawk, nos seus lançadores de proa e popa, conta com meia centena de mísseis antiaéreos guiados de várias classes.

O bombardeiro russo Su-24 que sobrevoou o Donald Cook não levava a bordo nem bombas nem mísseis. Sob a sua fuselagem tinha apenas um dispositivo com um sistema de guerra eletrônica chamado Jibiny. Ao aproximar-se do destroyer, o sistema Jibiny foi ativado e desativou os radares, os circuitos de controle, os sistemas de transmissão de informação ... Por outras palavras, todo o sistema Aegis ficou desconectado tal como quando se apaga uma TV pressionando o botão de um controle remoto. Depois disso, o Su-24 simulou um ataque com mísseis contra o navio, que tinha ficado completamente cego e surdo. E, ele repetiu esta ação num total de 12 vezes.

Quando o bombardeiro se afastou, o Donald Cook dirigiu-se rapidamente para um porto romeno e não voltou a acercar-se de águas russas.

Os guerreiros da frente invisível

« Quanto mais complexo é um sistema rádio-eletrónico mais fácil é de interromper o seu funcionamento por meios de guerra eletrônica », comenta o diretor do centro de pesquisa científica sobre a guerra eletrônica e avaliação da eficácia em meios de redução da visibilidade, da Academia Aérea Militar da Rússia, Vladimir Balybin. « Para vencer uma guerra moderna não basta dominar o espaço aéreo. É necessário conseguir a superioridade tecnológica ».

Além do sistema Jibiny, o complexo industrial militar russo trabalha no desenvolvimento de vários dispositivos que podem desencorajar tanto as unidades de um inimigo clássico como as de grupos terroristas. As unidades das Tropas Aerotransportadas começaram a ser equipadas com sistemas Infauna. Instalado num tanque ou qualquer outro veículo militar, este sistema localiza e isola a comunicação de rádio inimigo, nas bandas de HF e VHF do espectro eletromagnético, «adormecendo» as suas armas de controle remoto. Essas armas chegam a disparar, mas só depois das colunas de tanques russos terem passado por elas e se afastado para uma distância segura.

A Infauna dispõe de uma outra função: sensores ópticos montados lateralmente que detectam os flashes dos disparos e dão a ordem para criar uma cortina de fumaça que protege a coluna de tanques do fogo inimigo.

O dispositivo Lesochek executa as mesmas funções que o Infauna, mas é muito mais compacto: pode ser transportado numa mochila ou numa mala pequena. Com este sistema torna-se muito cômodo estar em importantes reuniões de negócios, já que os mais avançados serviços de espionagem não conseguiram espiar nem uma palavra dessas reuniões.

A base para a proteção eletrônica das comunicações do exército da Rússia é o sistema Borisoglebsk-2. Este sistema conta com um ponto automático de controle e quatro tipos de estações de interferência de rádio: estas localizam as fontes de atividade das comunicações inimigas no ar, e inutilizam-nas.

O dispositivo Zhítel localiza e bloqueia telefones por satélite e celulares, assim como sistemas de navegação por GPS. A sua eficácia ficou demonstrada durante o conflito na Ossétia do Sul, onde ele conseguiu desorientar os veículos georgianos não tripulados.

O reequipamento das forças estratégicas da Rússia com novos meios de guerra eletrônica avança a ritmo vertiginoso, segundo anunciou o vice-presidente do governo Dmitri Rogozin.

Se em 2020 o exército e a frota estarão reequipados em cerca de 70%, todos os dispositivos de potencial estratégico para a guerra eletrônica estarão atualizados a 100%.
«Os meios de guerra eletrônica permitem que as nossas armas inteligentes ajam e as do nosso inimigo sejam postas fora de combate. Isto é algo extremamente útil», assinala o vice-presidente.

http://www.voltairenet.org/article185355.html

Rússia destrói o sonho de Israel

Israeli Embassy in Russia
O plano corria bem. O conceito de guerras intermináveis para uma Grande Israel funcionava e produzia resultados impressionantes. De modo oportuno, com o agravamento de guerra após guerra, fatia por fatia de território árabe era usurpada e o mapa de Israel pouco a pouco se materializava. Pouco importa a instabilidade e o caos que cercam o Estado israelense pelas últimas sete décadas. Pouco importa a incansável resistência palestina e as violentas intifadas que irrompem internamente. O sonho sionista da Grande Israel persistia consistente e progredia sem grandes obstáculos.
 
Mas é da natureza do sonho que possa ser abruptamente interrompido - e facilmente transformado em um pesadelo. De fato, um piscar de olhos pode ser o bastante. 
 
Ninguém esperava que o sonho sionista fosse detido de modo tão repentino. Ninguém esperava que a Rússia se impusesse militarmente na região do Levante e, no processo, convertesse o sonho sionista em um pesadelo geopolítico e existencial. Agora, nenhuma expansão territorial é ao menos remotamente possível com a presença das tropas russas no Levante. E os israelenses sabem que os russos chegaram para ficar. 
 
A Rússia não é um inimigo declarado de Israel. Não foi propositalmente que os russos esmagaram o sonho sionista, mas consequência de uma posição que serve aos interesses regionais e globais da Rússia. Acontece que o sonho sionista estava no caminho das ambições russas. Simples assim. 
 
Mas, afinal, quais são os interesses russos em enlaçar o Levante?
 
Bom, em primeiro lugar, Putin pretende reabastecer a velha pretensão russa de estabilizar bases militares nas “águas mornas” do mundo, mais precisamente no Mediterrâneo, a fim de projetar seu poder e influência em direção ao ocidente com maior facilidade. Além, é claro, de estabelecer bases navais no mediterrâneo enquanto uma primeira linha de defesa contra o avanço das potências à oeste. A crescente presença militar dos russos na Síria é uma questão de “segurança nacional”, como Putin já declarou inúmeras vezes. A consolidação de multiplas bases no mediterrâneo não é possível desde a Guerra dos 6 dias (1967), quando perdeu a disputa pelo Oriente-Médio contra os EUA, simbolizada pela derrocada do Egito, zona de influência dos soviéticos naquele momento cuja estrutura militar foi devastada pela investida israelense. Investida, é óbvio, carregada com armamentos norte-americanos.
 
Hoje a Rússia compreende seu avanço sobre a Síria enquanto manobra geopolítica vital para restabelecer seu poderio no Oriente-Médio e novamente se consolidar como superpotência. Diante do caos no Levante, a ambição russa precisa ser implementada imediatamente, antes que a região caia nas garras do Estado Islâmico ou do sionismo.
 
Em segundo lugar, Putin observa a influência do Império Americano claramente se esvair, especialmente no Oriente Médio, e está tirando proveito disso: colocando em andamento sua proposição desafiadora aos EUA. Sim, Vladimir Putin, o presidente da Rússia conhecido pelo sangue-frio e pelo realismo, está tão ciente das fraquezas americanas quanto das potencialidades russas. (...) “Veja bem, você continua extremamente poderoso, mas está sangrando no Oriente-Médio e o estado agora ficou crítico. Você não pode arcar com um novo conflito em larga escala por aqui sem a garantia de reafirmar vitoriosamente sua dominação. E você também foi rebaixado em todas as últimas guerras na região - você ficou sem cartas na manga. Você não pode seguir por esse caminho desvantajoso, não pode ficar parado e tampouco pode retirar-se da região. Todas essas são opções estratégicamente inferiores e você vai continuar sangrando seu poder. Sua única alternativa é o pragmatismo. A única solução é dividir seu controle sobre o Oriente-Médio conosco, os russos. Nós já compartilhamos influência sobre a região durante a Guerra-Fria e, sim, isso gerou perigos e complexidades para ambos os países no passado. Mas hoje é diferente: não há Guerra Fria entre nós e nossa nova parceria pode apenas nos fortalecer”. 
 
Esse, caro leitor, é o pronunciamento diplomático da Rússia, recebido com grande alívio pela Casa Branca e desprezado pelos sionistas em Washington. Resumindo: Putin está na Síria e seu recado realista pros EUA é: “Compartilhem o Oriente-Médio conosco agora ou ambos cairemos no futuro”. E parece que o Obama silenciosamente captou a mensagem, de acordo com o interesse do Império e em nome do realismo, não por covardice ou submissão a Putin. O problema do Obama é que, embora concorde relutantemente com a posição do Putin, não pode respaldá-la em público, pois nesse caso os neoconservadores soltariam os cães da traição sobre ele, obstruindo seu mandato pelos próximos 15 meses e, no pior dos casos, prejudicando as chances de vitória do seu partido nas próximas eleições.

Em terceiro lugar, na minha opinião, a Rússia ocupa a Síria também com o propósito de realçar sua imagem e história de poder militar. Com a devastadora derrota da União Soviética na Guerra do Afeganistão (1979-1989) pelas tropas respaldadas pelos EUA e, considerando o forte nacionalismo impregnado na sociedade russa no que se refere a suas instituições militares, não é de se surpreender que qualquer líder russo moderno que arranque uma vitória militar sobre a nova versão do velho inimigo represente um marco moral e histórico.
 
Sim, a estrutura militar russa implantada na Síria, sobretudo a marinha e aeronáutica, agora parece relativamente permanente. E é isso que está causando insônia em Israel e em seus amigos sionistas de Washington. Eles sabem que o sonho da Grande Israel não pode ser concretizado com a Rússia dominando os céus e os mares do Levante. Essa é a atual e inescapável realidade. Como uma grande muralha russa que se levanta entre os sionistas e seu sonho imperial.
 
Alguns veriam nisso certa justiça poética. 
 
O sonho despedaçado enquanto realidade inaudita. Israel deixada sem recursos ou alternativas. Não pode entrar em enfrentamento direto com uma Rússia mais poderosa e recuperar seu domínio sobre o Levante. Não podia nem ao menos derrotar o Hezbollah em 2006, que não dispunha de nenhuma força aérea. E ainda mais frustrante pra Israel: também não pode chantagear, coagir ou comprar o governo de Putin. Em suma, com a gestão Obama, fica claro que os EUA não estão preparados para entrar em conflito direto com qualquer nação em nome de Israel, quanto mais com a Rússia. Os arquitetos do sionismo expansionista estão diante de um absoluto constrangimento. Sem mais pequenas reuniões para definir o próximo país árabe a destroçar ou o próximo território que possa ser usurpado. 
 
Alias, não há qualquer ideia na mesa dos arquitetos sionistas.  Apenas um genuíno silêncio.
 
Algo mais compõe essa catatonia que os sionistas vem experimentando: o fato de que a credibilidade do Estado Israelense nunca esteve tão baixa e, cedo ou tarde, a comunidade internacional - observando a fragilidade geopolítica de Israel - tende a pressioná-lo ainda mais, senão impôr uma solução de segundo Estado, pautado nas fronteiras de 1967. Ou seja, uma martelada ainda mais forte no sonho da Grande Israel. Não apenas deixará de expandir, mas possivelmente perderá uma porção dos territórios que (ilegalmente) ocupa hoje. Algo que o público e as autoridades israelenses não estão preparados para engolir.
 
Observando o padrão de comportamento dos sionistas, percebemos que aquilo que não podem controlar, geralmente eles destroem. E aparentemente essa é a única coisa que eles podem fazer nesse momento. Sem dúvida, veremos uma tentativa de prolongar os conflitos regionais por mais um século de guerras entre os árabes - eles vivem em função de estragar a vida dos seus vizinhos árabes.  Também sabemos que, quando os sionistas não estão dispostos ou hábeis para entrar em conflito, geralmente procuram mandar outras nações desejosas ou capazes. Mas como destaquei anteriormente, isso não será possível durante a administração Obama.
 
Que fazer então? Será que Israel preferiria que os EUA entrassem em confronto militar direto com a Rússia no Levante? Eu creio que sim. Mesmo com o risco de causar uma Terceira Guerra? Sim. Mesmo com o risco de disparar uma Grande Guerra? Sim.
 
Três vezes sim: a patologia dos sionistas fornece todos os indicativos. “A tribo acima de tudo” é seu mantra. São uma versão do Estado-Islâmico cheia de mísseis no porão. Suas intenções narcisistas são sempre notórias - e seus motivos e manobras nunca devem ser subestimados. 
 
Nós estamos em um ponto muito sóbrio da série de dramas que se travam no Levante e no Oriente-Médio. Todos procuram se preparar pro desconhecido. A conjunção de desconhecidos tão massacrantes é rara na história. A tensão geopolítica - apesar do nivelamento que os russos representam no Levante - mantém todos os personagens estressados. Todos tem muito a perder com um simples passo em falso. Movimentos hesitantes são feitos e agilmente desfeitos. Se perguntássemos ao Obama ou ao Putin o que aconteceria ao mundo no dia em que as duas nações entrassem em guerra, ambos responderiam sombriamente com um “Não sei”.
 
Por agora, os sionistas pretendem manter a morte da Grande Israel em segredo, esperando que o próximo presidente americano seja mais maleável e reacionário que Obama. Eles estarão matando tempo e torcendo para que assuma alguém mais sionista que Theodore Herzl. Ideologicamente mais violento que o Estado Islâmico e o Tarantino. Esperando, contra todas as chances, que o pequeno Estado de Israel sobreviva à catástrofe da Terceira Guerra Mundial com pouco estrago dentro de sua fronteiras. Esperando, contra todas as chances, que o mundo árabe ao redor Israel seja bombardeado de volta à idade da pedra, enquanto Israel continua como noiva super tecnológica do Oriente-Médio. Esperando, contra todas as chances, que a Rússia seja novamente derrotada pelos EUA - apenas para que os israelenses retomem as águas e o céu do Levante e revivam o sonho da Grande Israel. Esperando, contra toda e qualquer chance, que uma Terceira Guerra possa resolver os problemas de Israel.

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