sexta-feira, 25 de setembro de 2015

CIA financia Policia Federal para construir no Brasil tirania oligárquica

A crise política, na avaliação do historiador Moniz Bandeira, autor de “A segunda guerra fria”, “Presença dos Estados Unidos no Brasil”, entre dezenas de outras publicações relevantes, tem acelerado a crise econômica por diversas razões, como, por exemplo, Operação Lava Jato, cujas consequências colocam em xeque atuação de grandes empresas nacionais, criando instabilidades, que produzem associações de interesses antinacionais, internos e externos, contrários às opções geopolíticas feitas pelo governo brasileiro de aliar-se às forças internacionais que contrariam as grandes potências, Estados Unidos e Europa. A criação dos BRICs, Banco Brics, moeda dos Brics, alternativa ao dólar como equivalente monetário global etc, é, certamente, o principal incômodo para Tio Sam.

O modo de atuação de juízes de primeira instância, como o juiz Moro, de Curitiba, de pautar investigações mediante métodos semelhantes aos utilizados por Hitler, pela Gestapo, na segunda Guerra Mundial, como é o caso de delação premiada, por meio da qual são feitas prisões sem dispor de provas concretas, configurando ações aparentemente legais, produz, segundo Bandeira, o que Aristóteles denominou de democracia extremada. Trata-se, nada mais nada menos, de praticar tirania oligárquica, algo semelhante ao que ocorrem nas ditaduras.

Os agentes nacionais de segurança, como a Polícia Federal, financiados, diz Bandeira, pela CIA e DEA, estão deturpando o processo democrático, em meio às dificuldades econômicas, agravando-as. Eles estão favorecendo, com tal atuação extremada, que lança dúvidas sobre sua legalidade, interesses financeiros internacionais, contrários às políticas nacionalistas, ancoradas em melhor distribuição da renda nacional. Contribuem as ações dos agentes policiais de segurança para fortalecimento de associações desses interesses externos com os internos, combinados com ação de uma oposição oportunista, que joga no golpe político, para desestabilizar a presidenta Dilma Rousseff.

Nesse contexto, a decisão da Standard & Poor’S de rebaixar nota de crédito do Brasil, na avaliação de Moniz Bandeira, prejudica as forças produtivas no País, a fim de satisfazer não apenas os interesses externos, mas os internos a eles associados, ligados à geopolítica de Washington, contrária às opções feitas pelo governo brasileiro na cena econômica e financeira internacional, aproximando-se, principalmente, da Rússia e da China, na tarefa de construção dos Brics.  O império norte-americano está profundamente contrariado com orientação nacionalista predominante no Brasil e, também, na América do Sul, ao longo dos últimos doze anos.

A aproximação de Lula de Cristina Kirchner, essa semana, em Buenos Aires, para apoiar candidato nacionalista kirchnerista-peronista, é mais um movimento para que se faça leitura política sobres os propósitos reais que animam a decisão da Standard & Poor’S. Leia abaixo entrevissta do historiador à Agencia de Noticas PT(CF)

Os métodos adotados pelo juiz Sérgio Moro para arrancar confissões por meio de delação premiada se assemelham aos praticados pelos fascitas. Levam à extremização da democracia que, segundo Aristóteles,  produz tirania oligárquica. Trata-se de jogo que intensifica a instabilidade política e favorece os que desejam paralisar a economia brasileira e a opção nacionalista adotada nos últimos doze anos por governos que optaram pela melhor distribuição da renda nacional de modo a promover desenvolvimento sustentável. Nada mais incômodo para os interesses do império, diz o historiador.

A entrevista de Cesar Fonseca (CF) com Moniz Bandeira (MB)

CF – A agência Standard & Poor´s rebaixou o grau de investimento do Brasil. O que o senhor poderia falar sobre isso?

MB – O rebaixamento não pode surpreender. Já estava previsto. O que ocorre no Brasil e contra o Brasil é uma campanha de interesses econômicos estrangeiros, devido a vários fatores, entre outras coisas, sua inserção no banco do BRICS, com a Rússia e a China, associada aos interesses políticos domésticos, de uma oposição sem ética, sem compostura, servindo aos interesses antinacionais.

CF – Essas agências de ”risco” estavam envolvidas, nos EUA, em escândalos que levaram à crise 2008 . A própria S&P´s foi condenada recentemente a pagar multa de US 1, 37 bilhão por seus envolvimentos com os escândalos de Wall Street em 2008. Tem moral para fazer avaliação de uma economia com a brasileira?

MB – As agências de risco pertencem aos bancos de investimentos dos Estados Unidos e seus critérios são mais políticos que econômicos. Estão a serviço de especuladores, subordinadas aos interesses econômicos e políticos de Washington e de Wall Street. Tanto isto é certo que, quando houve a reincorporação da Crimeia pela Rússia, logo ocorreu o rebaixamento da nota da Rússia. Isto não significa que não haja no Brasil uma crise econômica, porém ela muito mais agravada pela crise política e institucional, que abrange e envolve a Justiça e o Congresso.

CF – Por trás dessas avaliações haveria uma espécie de pressão para o Brasil adotar uma agenda neoliberal, com abertura econômica ainda maior ao capital estrangeiro?

MB – Não creio. É uma simplificação. É claro, o Brasil está dentro do sistema internacional capitalista, cada vez mais e mais globalizado, e tem de tomar certas medidas ortodoxas, para o reajuste fiscal. Porém, o governo deve necessariamente intervir no câmbio, que constitui forte fator de pressão inflacionária, ao encarecer as importações de matérias primas etc. Há enorme especulação do mercado, devido à apatia do governo, da inexistente reação ante os desfeitos dos especuladores e da oposição. E isso ajuda o enfraquecimento do governo. A questão, portanto, é mais complexa e não apenas econômica. É política, em que interesses estrangeiros se entrançam com interesses domésticos, na oposição. E o governo está na defensiva, o que é muito ruim. A defensiva pode resultar na derrota.

A mim muito me admira como se permite que um juiz do Paraná e a Polícia Federal cometam tantos desmandos, ilegalidades, com prisões arbitrárias de grandes empresários, sem maior comprovação, a desmoralizar não apenas a Petrobras e as empresas estatais, mas também as grandes companhias nacionais, como a Odebrecht, as quais contribuem para a expansão do comércio do Brasil. Os chefes de governo de todos os países sempre promoveram, no exterior, as empresas de seu país. Por que o presidente Lula não podia abrir caminho em outros países para as construtoras nacionais? Quem está por trás de tamanha campanha contra o Brasil? A delação premiada é algo que se assemelha a um método fascista. Isso faz lembrar a Gestapo ou os processos de Moscou, ao tempo de Stalin, com acusações fabricadas pela GPU (serviço secreto).

No Brasil, um juiz determina, a Polícia prende, ameaça processar o indivíduo se não delatar supostos crimes de outrem, e assim, impondo o terror e medo, obtém uma delação em troca de uma possível penalidade menor ou outra dádiva qualquer. Não entendo como se permite que a Polícia Federal atue de tal maneira, ao arbítrio de um Juiz, que nenhuma autoridade pode ter fora de sua jurisdição. A quem servem? Combater a corrupção é certo, mas o que estão a fazer é destruir a imagem do Brasil no exterior e contribuir para outros interesses promovam a especulação econômica e as agências de risco aproveitem para rebaixar a nota do Brasil.

E o Ministério da Justiça, por que deixa que a Polícia Federal pratique tantas prisões arbitrárias, ilegais, sem que os presos tenham culpa judicialmente comprovada? Sinceramente, não entendo essa tibieza. Aqui, na Alemanha, onde moro há 20 anos, não mais seria possível. Só no tempo de Hitler. Aristóteles ensinou que uma democracia extrema podia levar a uma a tirania mais absoluta do que a dos oligarcas. E é o que se vê, atualmente, no Brasil. A tirania exercida por um juiz, abalando a economia e o regime, com a colaboração da Polícia Federal, que reconhecidamente recebe recursos da CIA e da DEA, e da mídia corporativa, em busca de escândalos para atender aos seus interesses comerciais.

CF – O capitalismo financeiro global depende de certas estruturas de dominação- do centro para a periferia. Essas agências de risco são instrumentos de dominação, já que o que decidem tem repercussão na mídia e em fundos de investimentos que as têm como referência?

MB – Claro. O dólar, como única moeda de reserva internacional, guarnecido pela OTAN, é que mantém a hegemonia dos Estados Unidos, que querem continuar como o único centro de poder e é contra essa situação que a Rússia e a China (acompanhadas pelo Brasil, Índia e África do Sul) se rebelam e trataram de constituir um banco, como alternativa ao FMI, instalado em Xangai.

CF – Os Brics podem ser uma alternativa a essa estrutura de dominação que tem como centro Washington?

MB – A aguda crise política no Brasil, alimentada por certos interesses econômicos estrangeiros e políticos domésticos, que não querem a continuidade de um governo popular, tem de ser compreendida no cenário internacional, ao qual o povo brasileiro está alheio. A mídia no Brasil está voltada, como nunca, a produzir escândalos e não dá quase nenhum espaço para as notícias internacionais ou simplesmente reproduzem as agências estrangeiras da Europa e dos Estados Unidos, a refletir os interesses de seus respectivos governos.

CF – O Brasil quebrou três vezes com FHC, as notas das agências de rating na época do governo tucano, inclusive as dadas pela S&P´s , eram bem mais baixas do que as dada hoje ao governo Dilma. Mesmo assim a mídia brasileira coloca o Brasil numa situação de país que estaria à beira de um abismo, embora tenha US$ 370 bilhões em reservas e seja hoje o 4º maior credor dos EUA. Como o senhor analisa esse quadro?

MB – Como disse antes, a mídia mundial, na qual a brasileira, de um modo ou de outro está inserida, é corporativa e atende aos interesses econômicos e políticos, como um instrumento de operações psicológicas, indispensável a toda e qualquer guerra. Em meu livro A Segunda Guerra Fria, eu analiso como atualmente se processam os golpes de Estado, as chamadas “revoluções coloridas” ou “primavera árabe”, com demonstrações instrumentalizadas por ONGs, com agitadores adestrados na estratégia subversiva de Gene Sharp para promover a “cold war revolutionary”, com protestos, demonstrações, marchas, desfiles de automóveis etc., até derrubar o governo, como aconteceu na Ucrânia, no ano passado. O governo brasileiro devia investigar as atividades da USAID e da NED e determinar o registro de todas as ONGs, a origem de seus recursos e gastos.

http://www.ligiadeslandes.com.br/21/09/2015/cia-financia-policia-federal-para-construir-no-brasil-tirania-oligarquica/

domingo, 20 de setembro de 2015

As “crueldades” de Muamar Kadafi para com o seu povo


A renomada revista suiça Schweizmagazin publicou artigo enumerando as "crueldades" de Muamar Kadafi para com o seu povo.


(So grausam war Gaddafi) - Assim foi a crueldade de Kadafi

Os "sofrimentos" que o tirano (segundo a mídia ocidental pró-americana) provocou durante 4 décadas:

1. Não havia conta de luz na Líbia, porque a eletricidade era gratuita para todos.

2. Créditos bancários, dos bancos estatais, eram sem juros (para todos, por lei expressa).

3. Casa própria era considerada direito humano, universal, e o governo fornecia uma casa ou apartamento para cada família.

4. Recém casados recebiam US$ 50.000,00 para comprar casa e iniciar a vida familiar.

5. Educação e saúde eram gratuitas, da pré-escola à universidade. Antes de Kadafi: 25% dos líbios eram alfabetizados. Até o ano de 2010, 83% eram alfabetizados.

6. Agricultores iniciantes recebiam terra, casa, equipamentos, sementes e gado gratuitamente.

7. Quem não encontrou formação ou tratamento desejados recebia financiamento para ir ao exterior, adicionalmente US$ 2.300,00 mensais para moradia e carro.

8. Na compra de automóvel, o estado contribui com subvenção de 50%.

9. O preço de gasolina, o litro: 0,10 Euro = R$ 0,23.

10. Faltando emprego após a formação profissional, o estado pagava salário médio da classe até conseguir a vaga desejada.

11. A Líbia não tinha dívida externa - as reservas de U$ 150 bilhões. Após a ocupação os valores foram retidos ou desviados pelos bancos estrangeiros, incluindo investimentos em bancos estrangeiros e reservas em ouro.

12. Parte de toda venda de petróleo era diretamente creditada na conta de cada cidadão.

13. Mãe que dava a luz, recebia US$ 5.000,00.

14. 25 % da população líbia tem curso superior.

15. Kadafi construiu o projeto GMMR (O Grande Rio Artificial), transportando água dos lençóis subterrâneos do Rio Nilo para as cidades e agricultura, irrigando as principais cidades do país e parte do deserto.

“Graças à Deus, à Otan e aos rebeldes, o povo líbio está livre de tudo isto”.

Agora é só uma questão de tempo para o povo derrubar o governo fantoche criado pela Otan a serviço das potências imperialistas.

O país sofrerá um atraso de muitas décadas, mas pelo menos os governos dos EUA, França e Inglaterra venderam e compraram muitas armas, e passarão a roubar o petróleo e o gás natural da Líbia por algumas décadas, impunemente.


http://boilerdo.blogspot.com.br/2012/12/as-crueldades-de-muamar-kadafi-para-com.html?q=kadafi

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Não-Judeus existem para servir os Judeus















O líder israelense sefardita Rabbi Ovadia Yosef, em seu sermão seminal no sábado à noite declarou que não-Judeus existem para servir os Judeus.
“Goyim nasceram apenas para nos servir. Sem isso, eles não tem qualquer lugar no mundo; somente para servir o Povo de Israel,” disse ele durante uma discussão pública sobre qual tipo de trabalho não-Judeus são permitidos desenvolver no Shabbat.
"Por que gentios são necessários? Eles trabalharão, lavrarão, colherão… Nós sentaremos como um senhor e comeremos," disse ele a alguns risonhos.
Yosef, o líder spiritual do Partido Shas e o ex-rabi-chefe Sefardita de Israel, disse também que as vidas de não-Judeus são protegidas com o intuito de prevenir perdas financeiras aos Judeus.
"Com gentios, será como qualquer pessoa: Eles precisam morrer, mas Deus lhes dará longevidade. Por quê? Imagine que o asno de alguém morresse, eles perderiam seu dinheiro. Assim é seu criado. Isso é o motivo pelo qual ele obtém uma longa vida, para trabalhar para esse Judeu”, disse o rabi, que recentemente chegou aos 90.
Uma gravação em áudio de algumas das observações do rabi foi transmitida no Canal 10 de Israel.
O Comitê Judaico Americano (CJA) condenou as observações do rabi em uma declaração circulada na Segunda.
"As observações do Rabi Yosef – sugerindo escandalosamente que as Escrituras Judaicas afirmam que não-Judeus existem para servir os Judeus – são abomináveis e uma ofensa à dignidade e igualdade humana,” disse o Diretor Executivo do CJA David Harris. "O Judaísmo primeiro ensinou ao mundo que todos os indivíduos são criados à imagem de Deus, o que contribuiu para formar a base de nosso código moral. Um rabi deveria ser o primeiro, não o ultimo, a refletir esse ensinamento fundamental de nossa tradição."
http://judaismoemaconaria.blogspot.com.br/2010/10/lider-sefardita-yosef-nao-judeus.html

Venezuela: Justiça condena um golpista

por Atílio Boron
reprodução
A canalhice da mídia internacional apareceu novamente e ensurdeceu o mundo inteiro, denunciando o fato consumado pela Justiça venezuelana: a condenação de Leopoldo López a uma pena de 13 anos, 9 meses e 7 dias de reclusão, por “incitar os protestos”, segundo nos (mal) informou o patrono dos jornais mentirosos do mundo hispanoparlante, o espanhol El País. “Incitar os protestos” é o termo que este e muitos outros diários latino-americanos usam para se referir ao chamado público em favor da violência política visando derrubar um governo democraticamente eleito e alterar a ordem constitucional da Venezuela?
 
Essa direita desesperada, por não poder derrotar os governos progressistas e de esquerda da região nas urnas, jogou pela janela todos os escrúpulos que ainda tinha, e fez da mentira e da agressividade sem consequências sua estratégia política principal.
 
O que López fez não foi somente uma travessura, uma jogada inocente, mas sim algo que em qualquer país do mundo se chama sedição, e que, por exemplo, nos Estados Unidos significaria uma ofensa criminal com pena de longos anos de cadeia, ainda mais se é cometido em colaboração de todo um grupo dedicado à violência política e ocasionou a morte de terceiros, o que, segundo a lei estadunidense, poderia resultar em prisão perpétua. Para os espíritos colonizados que assolam a América Latina, o que é crime por lá (nos Estados Unidos ou na Europa), aqui, nos campos de várzea do capitalismo, é somente uma diabrura inocente. Não importa, portanto, se a “incitação” de López terminou com mais de quarenta mortos – a maioria deles, membros das forças de segurança bolivarianas, além das pessoas comuns, vítimas das barricadas, atingidas pelos franco-atiradores, além de uma enorme quantidade de edifícios destruídos, governamentais e privados.
 
O jornal espanhol deveria recordar aos seus leitores que em seu país, no dia 23 de fevereiro de 1981, o tenente-coronel Antonio Tejero Molina quis fazer o mesmo, alterar a ordem constitucional vigente, invadindo o Congresso espanhol. Apesar da grave situação para as vidas dos deputados que se mantiveram sequestrados quase um dia inteiro, Tejero não produziu uma única morte sequer, tampouco perdas materiais de nenhum tipo. Entretanto, a Justiça espanhola o sancionou com um castigo muito maior que o recebido por López: 30 anos de prisão, expulsão do Exército e perda de sua patente militar. Ao cumprir metade da pena, foi concedida a ele a liberdade condicional, somente depois de passar quinze anos de reclusão num presídio militar. Proponho que o diário El País e seus capangas midiáticos lancem uma campanha de reivindicação do golpista espanhol, e que seu caso seja revisado pela Justiça venezuelana, que seguramente o beneficiaria com uma sentença bastante mais leve, como a que recebeu López, além de entregar a ele o apoio comunicacional necessário para a plena recuperação do seu bom nome e da sua honra.

http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Venezuela-Justica-condena-um-golpista/6/34473

sábado, 12 de setembro de 2015

Os imigrantes europeus deixaram seus países pelos mesmos motivos que os refugiados de hoje


Descendentes de imigrantes alemães em Blumenau
Descendentes de imigrantes alemães em Blumenau


Antes de se tornar o principal destino de migrantes que chegam à Europa Ocidental, a Alemanha desempenhou em boa parte de sua história um papel bem diferente: não o de país que atraia, mas o de local de origem de pessoas em fuga de guerras ou em busca de uma vida melhor. O mesmo valeu para o resto da Europa.
O velho mundo que agora atrai migrantes e refugiados da África, do Oriente Médio e da Ásia foi durante um período que se estendeu da metade do século 18 até os anos 1960 o ponto de partida, e não o fim da jornada para milhões de pessoas.
Números consolidados por diferentes historiadores estimam que entre 50 e 60 milhões de europeus deixaram seus países em direção a lugares tão distantes como Brasil, Estados Unidos, Sibéria e Austrália somente entre 1815 e 1930. Uma parte deles chegou a voltar para a Europa, mas a maioria se estabeleceu de vez no novo mundo, passando a ter uma influência decisiva na construção desses países.
O Censo americano de 2009 estima que cerca de 50 milhões de habitantes dos EUA têm ascendência alemã, quase um 16% da população total. São os descendentes de cerca de 4,5 milhões de alemães étnicos que se mudaram para o país. No Brasil, cerca de 370 mil alemães chegaram entre 1824 e 1960, e estimativas apontam que eles deixaram cerca de 5 milhões de descendentes.
“O ‘homo migrantes’ existe há tanto tempo quanto o homo sapiens. A migração é uma parte da condição humana tanto quanto o nascimento, a reprodução, a doença e a morte”, afirma o historiador Klaus J. Bade, da Universidade de Osnabrück, autor do livro Migration in European History (migração na história europeia, em tradução livre).
Alguns dos motivos dessa “onda europeia” não foram muito diferentes das causas que estão provocando a atual corrente migratória em direção à Europa. Na maioria dos casos, ela refletia a situação e as transformações econômicas e sociais de cada um dos países de origem dos emigrantes.
A chegada em massa dos irlandeses nos EUA ocorreu após a grande fome de 1845-1852. Cerca de 300 mil espanhóis se mudaram para a América Latina entre 1958 e 1975 para deixar a pobreza e o regime repressivo do ditador Francisco Franco. Em outros casos, as mudanças sociais provocadas pela industrialização impeliam as pessoas a deixar seus países.
“As dificuldades econômicas, as transformações sociais, a opressão política, a hostilidade étnica, a perseguição racial e religiosa, e o trauma provocados por guerras no Oriente Médio, na Ásia e na África evocam de várias maneiras o que aconteceu na Europa num passado num muito distante”, afirma o professor Jean-Pierre Lehmann, do Instituto Internacional de Desenvolvimento Gerencial (IMD), na Suíça.
Mesmo países europeus que não costumam ser lembrados como geradores de emigrantes e que hoje são considerados prósperos foram profundamente afetados pela perda de população. “Um em cada 300 noruegueses deixou seu país entre 1861 e 1910”, afirma Bader. Já o Reino Unido, que hoje hesita em aceitar refugiados, foi o responsável por espalhar 11 milhões de emigrantes pelo mundo entre 1815 e 1930.
Já o pico da imigração alemã em direção ao Brasil, entre 1920 e 1929 – quando chegaram 75 mil alemães –, ocorreu após a derrota do país europeu na Primeira Guerra Mundial.
“Mais de 90% dos imigrantes alemães que vieram ao Brasil queriam escapar da miséria”, afirma o pesquisador brasileiro Rodrigo Trespach. “No início da imigração, no século 19, houve um choque cultural. Os imigrantes falavam outra língua e tinham outra religião [protestante], mas não houve uma xenofobia generalizada. A chegada era incentivada pelas autoridades interessadas em povoar o país e aproveitar essa mão de obra mais especializada. O mesmo ocorreu com outros grupos, como os italianos. O movimento em direção à Europa não é diferente de outras migrações do passado. A diferença está na maneira como os europeus estão acolhendo esses imigrantes.”
Guerra, miséria, perseguição
Com a ascensão do nazismo na Alemanha em 1933, a Alemanha experimentou uma nova onda de emigração. Boa parte desses refugiados era formada por judeus, mas também havia opositores políticos e religiosos, assim como artistas perseguidos pelo regime. Cerca de 16 mil conseguiram vistos de entrada para o Brasil. Entre eles estavam políticos alemães, como Johannes Hoffmann, que após o fim da Segunda Guerra voltou para a Alemanha e se tornou governador do estado do Sarre.
Entre 1933 e 1941, eram os alemães que fugiam para o Oriente Médio. Segundo dados do Museu do Holocausto dos EUA, cerca de 60 mil alemães de origem judaica migraram nesse período para a Palestina, na área que viria a formar o Estado de Israel, para escapar do nazismo. Um movimento similar ocorreu entre 1945 e 1952 em direção aos EUA, quando 400 mil refugiados europeus receberam vistos de entrada.
Em um artigo publicado recentemente, o ex-ministro das Relações Exteriores da Alemanha Joschka Fischer apontou que a atual corrente migratória em direção à Europa segue o mesmo padrão da antiga onda europeia pelo mundo. No século 19, a maioria dos europeus deixava seus países por causa da miséria e de novas oportunidades. Na primeira metade do século 20, para escapar da guerra e da perseguição política, étnica e religiosa.
O paralelo fez sentido na Alemanha até mesmo depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Logo após o fim do conflito, os antigos territórios no leste da Alemanha foram anexados pela Polônia e pela União Soviética, resultando na expulsão de cerca de 14 milhões de alemães dessas áreas. A maior parte desses refugiados ocupou temporariamente campos nas áreas ocidental e oriental do país, antes de finalmente se fixarem em outras cidades, de uma maneira não muito diferente das dezenas de milhares de sírios que estão chegando ao país atualmente.
Uma parte desses alemães encontrou abrigo em outros países. O Brasil, por exemplo, acolheu entre 1945 e 1952 mais de 29 mil refugiados – no sentido moderno do termo, conforme explicitado pelas Nações Unidas. Os EUA acolheram um total de 400 mil refugiados europeus entre o fim da guerra e 1952, entre eles vários alemães.
O declínio da contribuição de cada país europeu para o total de emigrantes variou bastante. Países da Escandinávia pararam de contribuir em massa para o fluxo migratório já no final do século 19.
Outros, como Itália e Espanha, ainda observavam a sua população ir embora mesmo na década de 1970, enquanto países como Alemanha e Reino Unido já experimentavam a entrada em massa de emigrantes da Turquia e de outros continentes. Outros, como a Ucrânia e a maior parte dos países dos Bálcãs, ainda continuam a gerar emigrantes.
Os países que hoje compõem a União Europeia só pararam de “exportar” pessoas para outros continentes a partir da década de 1980, quando os países do Mediterrâneo começaram a alcançar o mesmo padrão de vida do restante do bloco.
“Não há razão para que partes turbulentas fora do mundo europeu não alcancem a paz e a prosperidade no futuro. O que os europeus precisam fazer é tudo que esteja ao alcance para acelerar isso e ao mesmo tempo ajudar e socorrer as pessoas que podem desempenhar papéis em tornar isso possível. Nós devemos lembrar de quando éramos emigrantes e refugiados”, afirma Jean-Pierre Lehmann.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/os-imigrantes-europeus-deixaram-seus-paises-pelos-mesmos-motivos-que-os-refugiados-de-hoje/

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

As origens da polícia na Inglaterra e Estados Unidos





As cidades não tinham polícia, porque havia um alto grau de igualdade social, que dava às pessoas um sentimento de responsabilidade mútua. 

Por David Whitehouse

Na Inglaterra e EUA a polícia apareceu no intervalo de poucas décadas, aproximadamente entre 1825 e 1855. A nova instituição não era uma resposta ao aumento da criminalidade, e não tinha uma intenção verdadeira de experimentar novos métodos de lidar com o crime. A forma mais comum com que as autoridades tiveram que resolver um crime, antes e depois do surgimento da polícia, continuou sendo a delação de uma pessoa por outra.
Além disso, o crime é um ato individual, e as elites dominantes que inventaram a polícia estavam tentando responder aos desafios colocados pela ação coletiva. Em suma, as autoridades criaram a polícia para lidar com um grande e desafiador movimento de massas. Foi o caso
- das greves na Inglaterra
– dos tumultos no norte dos Estados Unidos
– e da ameaça de insurreição de escravos no sul do mesmo país.
Por isso, a polícia é uma resposta para as massas, e não para o crime.
Vou me concentrar em estabelecer quem eram essas massas e como elas se tornaram uma ameaça, um desafio. Veremos que uma das dificuldades enfrentadas pelos governantes, além do desenvolvimento da polarização social nas cidades, foi a demolição dos velhos métodos de supervisão pessoal da população trabalhadora. Nestas décadas, o Estado entrou em cena para emendar esta fratura social.
Veremos como, no Norte, a invenção da polícia era apenas uma parte do esforço estatal para controlar e moldar a força de trabalho em uma base diária. Os governos também expandiram seus sistemas de assistência social para regular o mercado de trabalho, e desenvolveram o sistema de educação pública para controlar a mentalidade dos trabalhadores. Vou relacionar estes pontos ao trabalho da polícia mais tarde, mas vou focar principalmente em como a polícia foi desenvolvida em Londres, Nova York, Charleston (Carolina do Sul) e Filadélfia.
Para se ter uma ideia do que há de especial na polícia moderna, nos ajudará falar sobre a situação quando o capitalismo estava apenas começando. Especificamente, vamos ver como eram as cidades comerciais do período medieval, em torno de mil anos atrás.
A classe dominante desse tempo não residia nas cidades. Os senhores feudais estavam assentados na zona rural. Eles não dispunham de uma polícia. Eles poderiam reunir forças armadas para aterrorizar os servos – que eram semi-escravos – ou poderiam fazer a guerra contra outros nobres. Mas essas forças não eram profissionais e nem em tempo integral.
A população das cidades era em sua maioria servos que tinham comprado sua liberdade, ou simplesmente fugido de seus mestres. Eles eram conhecidos como burgueses, o que significa residente das cidades (burgos). Foram pioneiros na implementação de relações econômicas que mais tarde ficaram conhecidas como capitalismo.
Para o propósito da nossa discussão, digamos que um capitalista é alguém que usa o dinheiro para ganhar mais dinheiro. No começo, os capitalistas dominantes eram comerciantes. Um comerciante usa o dinheiro para comprar mercadorias a fim de vendê-los por mais dinheiro. Há também os capitalistas que lidam apenas com dinheiro – banqueiros – que emprestam certa soma com o objetivo de obter de volta um montante maior.
Eles também podem ser artesãos, que compram materiais e fazem alguma coisa, por exemplo sapatos, para serem vendidos por mais dinheiro. No sistema de guildas, um mestre artesão supervisionava e trabalhava com os trabalhadores e aprendizes. Os mestres se aproveitavam de seu trabalho, então havia exploração, mas os trabalhadores e aprendizes tinham esperanças razoáveis de que eles também se tornariam mestres. Portanto, as relações de classe nas cidades foram bastante fluídas, especialmente em comparação com as relações entre nobres e servos. Além disso, as guildas operavam de maneiras que limitavam a exploração, de modo que eram os comerciantes quem realmente acumulava capital no período.
Na França, durante os séculos XI e XII, essas cidades eram conhecidas como comunas. Eram incorporadas ao status de comuna sob certas condições, às vezes com a permissão de um senhor feudal, mas geralmente eram vistas como entidades autogovernadas ou, inclusive, como cidades-estado.
Mas elas não tinham policiais. Dispunham de seus próprios tribunais, e um pequeno exército formado pelos próprios moradores. Estas forças não se encarregavam de acusar a ninguém. Se se roubava ou se sofria um ataque, ou se era enganado em um negócio, então o cidadão, como vítima, levantava as acusações.
Um exemplo dessa justiça faça-você-mesmo, um método que durou séculos, era conhecido como a gritaria. Se você estivesse em um mercado e via alguém roubando, a testemunha deveria gritar “Ladrão, ladrão!” e perseguir o acusado. O costume era que as pessoas que vissem isso se somariam à gritaria e também correriam atrás do ladrão.

As cidades não tinham polícia, porque havia um alto grau de igualdade social, que dava às pessoas um sentimento de responsabilidade mútua. Ao longo dos anos, o conflito de classes se intensificou nas cidades, mas ainda assim permaneceram unidas, graças ao antagonismo comum contra o poder dos nobres, e continuaram com seus laços de responsabilidade mútua.
Durante séculos, os franceses mantiveram e idealizaram recordações dessas primeiras cidades comunas, comunidades autogovernadas de igual para igual. Portanto, não é surpreendente que em 1871, quando os trabalhadores tomaram Paris, a batizaram como Comuna. Mas demos um salto histórico grande demais para o tema que nos ocupa.
O capitalismo foi experimentando importantes mudanças à medida que estava crescendo no ventre da sociedade feudal. Primeiro, o tamanho da propriedade do capital cresceu. Lembremos que esta é a questão: converter pequenas pilhas de dinheiro em lotes maiores. O volume de capitais começou a crescer astronomicamente durante a conquista do continente americano, conforme o ouro e a prata eram saqueados do Novo Mundo e os africanos eram sequestrados para trabalhar nas plantações.
Cada vez mais e mais coisas eram produzidas para a venda nos mercados. Os perdedores na competição do mercado começaram a perder sua independência como produtores e tiveram que ser empregadas como trabalhadores assalariados. Mas em lugares como a Inglaterra, a força que impulsionava as pessoas a procurar trabalho assalariado era o Estado, que estava expulsando os camponeses da terra.
As cidades iam crescendo à medida que esse camponeses chegavam do campo como refugiados, enquanto a desigualdade nelas aumentava. A burguesia capitalista tornou-se uma camada social ainda mais distinta dos trabalhadores do que costumava ser. O mercado causava um efeito corrosivo sobre a solidariedade das guildas, algo que trataremos com mais detalhe quando falarmos de Nova York. As oficinas eram maiores do que nunca, e um patrão inglês podia ter sob seu comando dezenas de trabalhadores. Agora estamos falando de um período em torno de meados do século XVIII, o período imediatamente anterior ao início da autêntica industrialização.
Ainda não havia polícia, mas as classes ricas empregavam cada vez mais violência para reprimir a população pobre. Às vezes se ordenava ao exército que disparasse contra as massas rebeldes, e por vezes os juízes locais prendiam os líderes e os enforcavam. A luta de classes começou a se intensificar, mas as coisas começam realmente a mudar com o impulso da Revolução Industrial na Inglaterra.
Enquanto isso, a França estava passando por sua própria revolução política e social, que começou em 1789. A resposta da classe dominante britânica foi de pânico dos trabalhadores britânicos seguirem o caminho francês. Sindicatos e encontros de mais de 50 pessoas foram tornados ilegais.
No entanto, os trabalhadores ingleses participaram de manifestações e greves cada vez mais extensas entre 1792 e 1820. A resposta da classe dominante foi o envio do exército. Mas o exército só pode fazer duas coisas, e nenhuma é boa. Eles podem se recusar a atirar, e as massas continuam a fazer o que estavam fazendo. Ou eles podem disparar contra a multidão e produzir mártires trabalhadores.

É exatamente o que aconteceu em Manchester em 1819. Os soldados foram enviados contra uma multidão de 80.000, ferindo centenas e matando onze. Em vez de submeter as massas, esses eventos, conhecidos como o Massacre de Peterloo, provocou uma onda de greves e protestos.

Até mesmo a tática clássica de enforcar os líderes do movimento começou a sair pela culatra. Uma execução poderia exercer um efeito negativo sobre uma centena de pessoas, mas agora os reunidos para apoiar ao condenado eram cinquenta mil, e as execuções encorajava-os a lutar. O crescimento das cidades britânicas, e o crescimento dentro delas da polarização social (ou seja, duas mudanças quantitativas), começaram a produzir explosões de luta qualitativamente diferentes.
A classe dominante necessitava de novas instituições para controlar isso. Uma delas foi a polícia de Londres, fundada em 1829, apenas dez anos depois de Peterloo. A nova força policial foi projetada especificamente para aplicar violência não letal contra as massas, para quebrá-las e deliberadamente evitar que surgissem mártires. No entanto, qualquer força organizada para implantar violência rotineiramente acabará alguma vez matando. Mas para cada assassinato policial há centenas ou milhares de atos de violência policial que não são letais, calculados e calibrados para produzir intimidação e evitar uma resposta coletiva furiosa.
Quando a polícia de Londres não estava concentrada em esquadrões para controlar a multidão, se espalhava pela cidade para controlar a vida cotidiana dos pobres e da classe trabalhadora. Aqui se reúnem já as funções da polícia moderna: a forma dispersa de vigilância e intimidação, chamada luta contra o crime, e a forma concentrada de atividade contra greves, tumultos e grandes manifestações de massa.
Esse último ponto é o motivo para o qual foi criada, para lidar com as massas, mas o que vemos na maior parte do tempo é a presença da guarda. Antes de falarmos sobre a evolução da polícia em Nova York quero explorar as conexões entre essas duas formas de trabalho policial.
Vou começar com o tema geral da luta de classes em torno da utilização do espaço público. É uma questão muito relevante para os trabalhadores e os pobres. Os espaços abertos são importantes para os trabalhadores:
- para trabalhar
- para diversão e entretenimento
- para viver, se você não tem uma casa
… e para a política



Em primeiro lugar, o trabalho. Enquanto prósperos comerciantes podem controlar espaços fechados, aqueles sem meios são vendedores ambulantes. Os comerciantes assentados os viam como concorrentes e chamavam a polícia para expulsá-los.

Os vendedores de rua também são ótimos fornecedores de mercadorias roubadas, pela sua mobilidade e anonimato. Não foram apenas os batedores de carteira e ladrões que fizeram uso dos vendedores de rua desta maneira. Os servos e os escravos da classe média também roubavam seus mestres e passavam os bens para os vendedores locais. (Aliás, em Nova York havia escravidão até 1827). O roubo da riqueza das confortáveis casas da cidade é outra razão pela qual a burguesia exigia a ação contra vendedores ambulantes.

A rua também era o lugar onde os trabalhadores passavam seu tempo livre, porque suas casas não eram confortáveis. Era o lugar onde se desenvolvia a amizade e se podia encontrar diversão gratuita e, dependendo da época e do lugar, podia fazer contato com a dissidência política ou religiosa. O historiador marxista E. P. Thompson resumiu tudo isso quando escreveu que a polícia do século XIX era: 

“[…] Imparcial, tentando retirar das ruas com equanimidade os traficantes de rua, mendigos, prostitutas, artistas de rua, piquetes, crianças que jogavam futebol e oradores socialistas. O pretexto era muitas vezes uma denúncia de interrupção do comércio recebida de um comerciante”.

Em ambos os lados do Atlântico, a maioria das detenções estava relacionada a delitos sem vítimas, ou crimes contra a ordem pública. Outro historiador marxista, Sidney Harring destaca: “A definição criminológica de ‘delitos de ordem pública’ é perigosamente próxima da descrição dada pelo historiador das ‘atividades da classe trabalhadora em seu tempo livre’”.

A vida ao ar livre era (e é) especialmente importante para a política da classe trabalhadora. Os políticos do sistema e os empresários podem se reunir em locais e tomar decisões que têm grandes consequências porque estão no comando de burocracias e forças de trabalho. Mas quando os trabalhadores se reúnem e tomam decisões sobre como mudar as coisas, normalmente não têm muito impacto a menos que possam reunir seguidores na rua, seja para uma greve ou uma manifestação. A rua é o campo de provas para boa parte da política dos trabalhadores, e a classe dominante sabe disso muito bem. Por isso eles colocam a polícia na rua como um contrapeso quando a classe trabalhadora mostra sua força.

Podemos ver agora a relação entre as duas principais formas de atividade policial, as patrulhas de rotina e o controle de multidões. A patrulha de rua acostuma a polícia a usar a violência e a ameaça de violência. Isto os prepara para a repressão em grande escala, que é necessária quando os trabalhadores e os oprimidos se levantam em grupos maiores. Não é apenas uma questão de pegar prática com armas e táticas. O trabalho da patrulha de rua é crucial para criar um estado de espírito na polícia que a faça assimilar que sua violência é para um bem maior.

O trabalho de rua também permite aos oficiais descobrir quais policiais ficam mais confortáveis em causar danos, atribuindo a estes as linhas de frente quando há enfrentamentos. Ao mesmo tempo, o “bom policial” com o qual nos cruzamos desempenha um papel fundamental de “relações públicas” para encobrir o trabalho brutal que tem de ser feito pelos “maus policiais”. O trabalho de rua também é útil em períodos de agitação política, porque a polícia já esteve nos bairros tentando identificar os líderes e os radicais.

Vamos voltar agora na narrativa histórica para falar de Nova York.

Começarei com um par de perguntas sobre as tradições das massas antes da revolução. Durante o período colonial, podiam ocorrer, por vezes, tumultos, mas muitas vezes se formalizavam de modo que a elite colonial poderia aprovar ou pelo menos tolerar. Havia algumas festas que caíam na categoria de “distúrbios”, onde as relações sociais se invertiam e os estratos baixos podiam fazer como se estivessem acima. Para as classes subordinadas era uma maneira de liberar a pressão, satirizando seus amos, mas ao mesmo tempo reconhecendo o direito da elite de comandar em todos os outros dias do ano. Esta tradição de desordem simbólica era especialmente perceptível em torno do Natal e nas vésperas do Ano Novo. Mesmo os escravos eram autorizados a participar.

Havia também a comemoração do Dia do Papa, durante o qual os membros da maioria protestante desfilavam com efígies, incluindo uma de Papa, queimando todas elas ao final. Era uma pequena provocação sectária, sempre em um bom ambiente, aprovada pelos patrícios da cidade. O Dia do Papa nunca acabou em violência contra os católicos, porque eram apenas algumas centenas em Nova York, e não havia nenhuma igreja católica antes da revolução.



Essas tradições eram muito barulhentos e até mesmo tumultuosas, mas tendiam a reforçar a ligação entre as classes mais baixas e a elite, e não a quebrar esse vínculo.

Esses estratos baixos também estão ligados à elite pela supervisão pessoal constante. Isso afetava aos escravos e aos servos domésticos, é claro, mas os aprendizes e artesãos assalariados também moravam na própria casa do mestre. Por conseguinte, os grupos de subordinados não andavam pela rua a qualquer hora. Na verdade, houve por um tempo um decreto colonial que dizia que os trabalhadores só podiam estar nas ruas para ir e voltar do trabalho.

Esta situação colocava os marinheiros e diaristas como elementos mais conflitivos, sem vigilância. Mas os marinheiros passavam a maior parte do tempo perto do porto e os diaristas, ou seja, os trabalhadores assalariados, ainda não constituíam um grupo muito numeroso.

Nestas circunstâncias, em que a maioria das pessoas já estava vigiada durante o dia, não era necessária uma força policial regular. Houve uma vigilância noturna, a fim de combater o vandalismo, prendendo qualquer pessoa negra que não pudesse provar que não era um escravo. Esta vigilância não era profissional. Todos tinham o seu trabalho durante o dia, girando neste trabalho temporariamente, por isso não patrulhavam de forma regular, e todo mundo odiava essa tarefa. Os ricos pagavam substitutos e se livravam da tarefa.
Durante o dia exerciam-na um pequeno número de policiais, mas não patrulhavam. Eram oficiais de justiça que executavam ordens judiciais, tais como intimações e notificações de detenção. Eles não exerciam trabalho de detetive. No século XVIII e no século XIX o sistema foi baseado em informantes civis para os quais se prometia uma parte da multa que o infrator tivesse que pagar.



O período revolucionário mudou muitas coisas com respeito ao papel das massas e a relação entre as classes. Na década de 1760, juntamente com a agitação contra a Lei do Selo, a elite de comerciantes e proprietários apoiou novas formas de mobilização popular. Ocorreram novas manifestações e motins poderosos que usaram as tradições, de forma evidente no uso de efígies. Em vez de queimar o Papa, se queimava o governador ou o Rei George.

Não tenho tempo para entrar em detalhes sobre o que eles fizeram, mas é importante ressaltar a composição classista dessas massas. Podiam estar presentes membros da elite, mas seu corpo principal era composto por trabalhadores qualificados, conhecidos coletivamente como mecânicos. O que significa que um mestre poderia estar na manifestação juntamente com seus assalariados e aprendizes. As pessoas de maior nível social tendiam a contemplar o mestre artesão como o tenente capaz de mobilizar o resto dos mecânicos.

À medida que o conflito com a Inglaterra se intensificava, os mecânicos se radicalizavam e se organizavam de forma independente da elite colonial. Houve atrito entre a mecânica e a elite, mas nunca se chegou a uma ruptura completa.

E, naturalmente, quando os britânicos foram derrotados e as elites estabeleceram seu próprio governo, já haviam ocorrido muitas agitações de rua. Continuaram se dando rebeliões e distúrbios nos recém-independentes Estados Unidos, mas foram tomando novas formas, em parte porque o desenvolvimento econômico estava quebrando a própria unidade dos mecânicos.

Voltaremos agora àqueles desenvolvimentos que se seguiram à revolução, alterações que produziram uma nova classe trabalhadora, saída de um amontoado de elementos sociais conflitantes.

Começaremos com os trabalhadores qualificados. Mesmo antes da revolução, a divisão entre mestres e assalariados tinham se agudizado. Para entender isso, temos de olhar mais de perto a persistente influência do sistema de guildas (corporações); formalmente as corporações não existiam nos Estados Unidos, mas algumas das suas tradições seguiam vivas entre esses trabalhadores.



As velhas guildas eram essencialmente cartéis, sindicatos de trabalhadores que tinham o monopólio em um ofício particular que lhes permitia dirigir o mercado. Eles podiam estabelecer preços obrigatórios para os seus bens e até mesmo decidir com antecedência o tamanho do mercado.

O mercado dirigido permitia certa estabilidade de relações entre os trabalhadores do mesmo ramo. Um mestre adquiria um aprendiz como um servente a prazo fixo, em troca da promessa a seus pais de ensinar-lhe um ofício e proporcionar-lhe alojamento e alimentação por sete anos. Os aprendizes se graduavam para ser oficiais assalariados, mas muitas vezes continuavam a trabalhar para o mesmo mestre, uma vez que não houvesse espaço para que eles pudessem se tornar mestres. Os assalariados recebiam seus salários correspondentes com contratos de longo prazo. Isto significava que recebiam o pagamento apesar das variações sazonais na carga de trabalho. Mesmo sem a estrutura formal das corporações, muitas de suas relações habituais seguiam funcionando ainda no período pré-revolucionário.

Entre 1750 e 1850, no entanto, esta estrutura corporativa nos ofícios entrou em colapso, devido ao fato de que a relação externa (o controle do mercado pelo artesão) também estava se quebrando. O comércio procedente de outras cidades ou de ultramar minava a capacidade do mestre de estabelecer preços, de tal modo que as oficinas tiveram que competir, de uma maneira que hoje nos é muito familiar.

A concorrência levou os mestres a se parecerem cada vez mais com os empresários, buscando inovações que economizassem trabalho e tratando a seus trabalhadores como assalariados à sua disposição. As empresas se tornaram maiores e mais impessoais, parecidas com as fábricas, com dezenas de funcionários.

Nas primeiras décadas do século XIX os trabalhadores não só estavam perdendo seus contratos de longo prazo, mas também seu alojamento nas instalações dos mestres. Os aprendizes tomaram isso como uma experiência libertadora, como jovens que escapavam da autoridade de seus pais e de seus mestres. Livres para ir e vir como quisessem, podiam se encontrar com mulheres jovens e criar a sua própria vida social com seus pares. As mulheres trabalhadoras estavam empregadas principalmente no serviço doméstico de vários tipos, a menos que fossem prostitutas.

A vida ao ar livre se transformava, à medida que estes jovens se misturavam com outras camadas da população, incluindo a classe operária crescente.

Esta mistura não era sempre pacífica. Imigração católica irlandesa começou a se expandir depois de 1800. Até 1829, havia cerca de 25.000 católicos na cidade, um em cada oito pessoas. Os irlandeses estavam segregados por bairros, muitas vezes vivendo junto dos negros, que eram agora 5% da população. Em 1799 os protestantes queimaram uma imagem de St. Patrick, e os irlandeses responderam. Estas batalhas se repetiram nos anos seguintes, e estava claro para os irlandeses que os guardas e vigias eram contra eles.

Assim, antes mesmo da existência de forças policiais modernas, os legisladores estavam levando a cabo uma discriminação racial. As elites cidadãs notaram a falta de respeito dos irlandeses para com os guardas, a sua franca combatividade, e responderam aumentando o número de guardas e orientando melhor suas patrulhas. Isto foi acompanhado por um aumento da atenção da polícia para com os africanos, que viviam nas mesmas zonas e muitas vezes tiveram a mesma atitude em face das autoridades.



Mas na base das divisões raciais e sectárias estava a concorrência econômica, já que os trabalhadores irlandeses eram geralmente menos qualificados e ganhavam salários mais baixos do que os trabalhadores técnicos. Ao mesmo tempo, os mestres estavam tentando desqualificar os trabalhos nas oficinas. Desse modo, os aprendizes anglo-americanos passaram a formar parte de um verdadeiro mercado de trabalho depois de perder seus contratos de longo prazo. Quando isso aconteceu, eles descobriram que estavam apenas uma etapa acima dos imigrantes irlandeses na escala salarial.
Os trabalhadores negros, que estavam envolvidos no serviço doméstico ou trabalhavam como operários, por sua vez, estavam um ou dois níveis abaixo dos irlandeses.

Ao mesmo tempo, a velha fração não qualificada de assalariados, que trabalhava nas docas e na construção, crescia com o aumento do comércio e da construção após a Revolução.


Em resumo, a população foi aumentando rapidamente. Nova York tinha 60.000 habitantes em 1800, em 1820 havia dobrado de tamanho. Em 1830, Nova York tinha mais de 200.000 habitantes, e 312.000 em 1840.

http://www.passapalavra.info/2015/09/105964