sábado, 19 de janeiro de 2013

Emir Sader: Os epicentros das guerras imperialistas




Entra ano e sai ano da era da hegemonia imperial norte-americana, a agenda das guerras não deixa de se alongar. Ao Afeganistão e ao Iraque se somaram a Líbia e a Síria e a lista só tende a ser maior.

Os presidentes dos EUA, em cada aniversário da invasão do Afeganistão e do Iraque, se felicitam pela vitória nessas guerras. Quem olha para esses países e se lembra das promessas de instauração de democracias – estilo ocidental –, só pode achar totalmente absurdas essas afirmações. Bastaria perguntar para algum deles se gostariam de passar as férias em algum desses países, se mandariam seus filhos ou netos estudar lá, para que eles mudassem na hora de fisionomia.

Eles se consideram vitoriosos, diante de países completamente devastados, que continuam a ser assolados pela violência cotidiana, porque seu critério é outro. Os EUA consideram que lograram seu objetivo, porque este era que não houvesse mais atentados como aqueles de 2001. O que lhes interessa é restabelecer a invulnerabilidade do seu território, ao preço que seja.

Não importa se devastaram a civilização mais antiga da humanidade, se militarizaram totalmente a vida daqueles dois países, com centenas de milhares de mortos. Estão contentes porque, desde então, os surtos de violência nos EUA se dão nos massacres nas escolas, feitos por norte-americanos, com armas norte-americanas.

Desde então vieram os bombardeios na Líbia, agora o armamento da oposição na Síria e as contínuas ameaças ao Irã. É esse o cenário da Pax Norte-americana no mundo.

Enquanto isso, na África a fragilidade dos Estados neocolonizados se vê às voltas, cada vez mais, com rebeliões. Sociedades sem nenhuma coesão, sustentadas por exércitos treinados e armados pelos EUA e pelas potências neocoloniais europeias, com sociedades dilapidadas pela exploração de suas riquezas naturais, são frágeis diante da coesão que grupos religiosos permitem. Dispondo de armamentos que as próprias potências imperialistas despejam em grande quantidade em conflitos em que se envolvem – como, por exemplo, na Líbia e na Síria -, esses grupos vêem como presas fáceis os Estados sustentados militarmente pelas FFAA e pelo apoio externo.

O Mali é apenas um dos tantos casos. Depois de ser considerado um modelo de democracia pela mídia ocidental, em abril as FFAA derrubaram sem nenhuma resistência ao presidente eleito, e não foram convocadas eleições até hoje. Os ataques dos grupos que já controlam o norte e parte do centro do Mali encontram resposta armada da França, que bombardeia sistematicamente as regiões controladas pelos opositores. Mas não há nenhuma condição de ocupar esses territórios, mesmo militarmente.

O conflito é um pântano em que a França se meteu e onde, cada vez mais, vai se afundar. Hoje, 75% da população francesa – por enquanto, quando ainda não chegam cadáveres de franceses – apoiam a ação militar e 84% da esquerda o apoia. Isso confirma que o elemento neocolonial francês sobrevive, e conta com os socialistas para isso. Mas a aventura vai custar caro à França e ao próprio governo Hollande.

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