quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Eduardo Galeano - A neta

do Aldeia Gaulesa via Blog do Gilson Sampaio


Eduardo Galeano

Soledad, a neta de Rafael Barrett, costumava recordar uma fase do avô:

- Se o Bem não existe, é preciso inventá-lo.

Rafael, paraguaio por escolha própria, revolucionário por vocação, passou mais tempo na cadeia que em casa, e morreu no exílio.

A neta foi crivada a balas no Brasil, no dia de hoje de 1973.

O cabo Anselmo, marinheiro insurgente, chefe revolucionário, foi quem a entregou.

Cansado de ser perdedor, arrependido de tudo o que acreditava e gostava, ele delatou um por um seus companheiros de luta contra a ditadura militar brasileira, e os despachou para o suplício ou o matadouro.

Soledad, que era sua mulher, ele deixou para o fim.

O cabo Anselmo apontou o lugar onde ela se escondia e foi-se embora.

Já estava no aeroporto quando ouviram os primeiros tiros.

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