domingo, 18 de dezembro de 2011

Vc Conhece A Incrível História Do Diamante Cor-de-rosa?

A incrível história do diamante cor-de-rosa
 
15/09/2004
Fonte: Isto E, Brasil, p.32-35




A incrível história do diamante cor-de-rosa
Os irmãos Gilmar e Geraldo saem do País com pedra de US$ 30 mi escondida em maço de cigarro e se ligam a doleiro que lavou US$ 1,7 bi em quatro anos

Amaury Ribeiro Jr. e André Dusek

Pará de Minas (MG)

Para uns, os diamantes - que ornamentam a realeza e deslumbram estrelas de cinema - são eternos e servem para dizer "eu te amo". Para outros, uma febre, cuja compulsão por ter o melhor é capaz de ceifar vidas dentro e fora do garimpo, movimentar conhecidos doleiros para evadir divisas e, mais do que nunca, dilapidar os cofres públicos.


O que mais chama a atenção em uma das mais recentes maracutaias feitas no País com gemas preciosas - séculos depois do comendador João Fernandes e sem Chica da Silva - é a ousadia. Na salada que mistura lavagem de dinheiro via Banestado, o banco americano MTB e investigação policial daqui e dos EUA, o ingrediente mais nobre é a venda de um diamante rosa de 80 quilates, no valor de US$ 12 milhões em estado bruto, para um comerciante de Hong Kong. A pedra especial - conhecida como fancy color - foi negociada pelos irmãos Gilmar Campos e Geraldo Magela Campos, donos de garimpos em Minas. O diamante avaliado em US$ 30 milhões depois de lapidado saiu clandestinamente do País dentro de um maço de cigarros rumo a Nova York. Mais uma prova de que o fumo faz mal à saúde, principalmente à da Nação. Assim começa a viagem ilegal da brazuca Pink Diamond, como é conhecida essa preciosidade no mercado internacional. A aventura é um remake do submundo do contrabando internacional de diamantes, sem o charme e a ação do agente 007.

A incrível história do diamante cor-de-rosa e do poder de fogo do doleiro carioca Dario Messer, que movimentou a fortuna que os irmãos garimpeiros ganharam com a pedra, é contada pelo próprio Gilmar Campos: "Durante mais de 50 anos, quando não era possível a exportação de pedras, Messer foi o responsável por trazer para o País todo o dinheiro do contrabando de diamantes para o Exterior." Campos está sendo investigado pela PF por suspeita de envolvimento com o contrabando de pedras da Reserva dos Índios Cinta Larga em Rondônia. E Messer, prestes a completar 90 anos, só teve suas atividades criminosas descobertas no ano passado, durante as investigações da máfia dos fiscais, denunciada por ISTOÉ, que mostrou as atividades nada públicas do ex-fiscal Rodrigo Silveirinha e sua quadrilha. Ele ajudou os fiscais a mandar US$ 30 milhões para a Suíça. Mas o doleiro, segundo documentos do MTB comprovam, operou mais de US$ 200 milhões com o contrabando de pedras preciosas retiradas de reservas indígenas e de garimpos ilegais do País.

Gilmar jura ter ele mesmo encontrado o diamante rosa num garimpo do rio Abaeté (MG) em 1999. Pouco tempo depois, assinou o compromisso de vendê-la por US$ 12 milhões para o italiano Gino Giglio, ex-diretor da Black Swam, companhia canadense que realiza pesquisa de mineração em Minas.

Campos e o italiano seguiram para Nova York com a pedra escondida em um maço de cigarro. Eles pretendiam vender o precioso diamante para uma máfia de compradores controlada por um grupo de judeus. Nos EUA, o resultado não foi o esperado. O cartel resolveu fazer um pacto de desvalorização e "queimar" a pedra, que na escala de diamantes especiais (fancys) é a mais valiosa depois do vermelho e do azul. Ao perceber que o italiano não tinha condições de cumprir o acordo, os irmãos Campos resolveram trocar o diamante verdadeiro, depositado num cofre no Chase Manhatan Bank, por uma pedra falsa.

"Nós estávamos desesperados. Depois da troca, contratamos um intérprete e seguimos para Hong Kong, onde vendemos o diamante rosa, que, depois de lapidado, está avaliado em US$ 30 milhões", conta Magela. Tanto ele quanto Campos insistem que a venda e o uso de Dario Messer para movimentar a montanha de dólares através de uma offshore não esbarram em ilegalidade alguma: "Não fizemos nada errado. Não podíamos exportar a pedra porque o garimpo não estava legalizado. Só isso." Os nomes de Messer e dos irmãos Campos vão se cruzar após a apreensão de uma agenda pela PF nos escritórios de Alexandre Martins e Reinaldo Pitta, ex-empresários do jogador da Seleção brasileira Ronaldo, acusados de envolvimento com a quadrilha dos Silveirinhas. Na agenda, Messer seria dono da Depollo, uma offshore no Uruguai com conta no MTB Bank de Nova York.

Por essa conta, operada por sua filha, Sônia, e pelos "laranjas" Clark Seton e Roberto Natalon, o doleiro lavou US$ 1,7 bilhão nos últimos quatro anos. Por ela passaram os dólares da máfia dos fiscais do Rio e também os US$ 200 milhões dos contrabandistas de diamantes e de pedras preciosas. Documentos enviados pela Promotoria Distrital de Nova York à CPI do Banestado confirmam as relações da conta da Depollo com Messer.

Sócio do irmão Geraldo Magela na Giacampos, empresa que obteve recentemente autorização do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) para pesquisa e exportação de diamantes na região de Pará de Minas (MG), Campos usou os serviços do doleiro. Segundo os dados do MTB Bank, ele trouxe em 2002, via Depollo, US$ 6,5 milhões referente ao diamante rosa contrabandeado para a China. Os mesmos documentos comprovam que a conta foi usada para evitar o rastreamento das autoridades brasileiras e americanas. O comprador da China depositou o dinheiro numa conta de Gilmar e Geraldo Magela no Chase Manhatan Bank de Nova York. Quando precisavam de dinheiro, os irmãos transferiam recursos em dólares para a Depollo no MTB e sacavam imediatamente o dinheiro em espécie com Messer no Rio. Durante o período de abril a agosto de 2000, foram realizadas nove operações desse tipo. No dia 12 de abril, por exemplo, há referência nos documentos do MTB de uma transferência da conta nº 635001106 no Chase Manhatan para a conta da Depollo. "Não fiz nada de errado. Em vez de sair com divisas, eu trouxe divisas para o País. Quando precisava de dinheiro, eu apenas fazia a transferência da conta da Depollo e recebia o dinheiro com o Messer no Brasil", confirma Gilmar.

Império rosa - O diamante rosa trouxe riqueza aos irmãos Campos, que montaram um verdadeiro império na região de Pará de Minas, formado por várias fazendas, construtoras e agroindústrias. Mas a exploração e o comércio de diamantes é o principal empreendimento. Recentemente a Giacampos obteve licença do DNPM para pesquisar e explorar diamantes em 17 áreas de Minas Gerais, onde emprega mais de mil garimpeiros. Essas licenças dão aos irmãos Campos o direito de obter o certificado de procedência Kimberly que lhes permite exportar cerca de um quilo de gemas por cada área licenciada. Homologado no Brasil em 2002 por uma portaria conjunta do DNPM e da Receita, esse certificado tornou-se indispensável nas transações de vendas de diamantes no mercado externo. O certificado surgiu num boicote mundial à produção e ao comércio da pedra em Serra Leoa, na África, por causa de guerras tribais e da mutilação de crianças na região.

Segundo o chefe do DNPM em Minas, Emanuel Martins Simões Coelho, a legislação permite somente a exportação de pedras retiradas das áreas autorizadas pelo governo. Guias legalizam as pedras extraídas durante a fase de pesquisa. Mas essas guias, no entanto, admite Emanuel, acabam servindo para "lavar" pedras retiradas de garimpos ilegais. "Não dá para saber ao certo de onde o diamante declarado foi extraído. Por isso, temos de acreditar nas informações passadas pelos exploradores. É preferível que as pedras saiam legalmente do País, com o recolhimento dos impostos, em vez de contrabandeadas", disse.

Em seu escritório, no centro de Pará de Minas, Gilmar confirma que exporta diamantes extraídos de outros garimpos. Mas nega a participação no contrabando de pedras da Reserva dos Índios Cinta Larga. "Eu nunca fui em Rondônia, mas se aparece alguém com diamante de lá tenho de acreditar que as pedras foram retiradas daqui da região", afirma. Quando o assunto é duto ilegal, eles se enrolam. Documentos do MTB mostram que, mesmo legalizados, continuaram beneficiando-se da conta da Depollo. De janeiro a abril de 2002, a Yael Star, empresa compradora de diamantes, depositou cinco remessas que totalizam US$ 1 milhão na conta da offshore do doleiro. A Giacampos aparece como beneficiária da transação. Como é de costume, a fortuna foi entregue em espécie a eles por Messer no Brasil.

O sucesso dos irmãos Campos atraiu para Minas cerca de 20 mil garimpeiros à procura do diamante rosa. A pedra também desperta a atenção de companhias estrangeiras e compradores de pedras de várias partes do mundo, que fazem de tudo para espantar a concorrência. No mês passado, os moradores do município de São Gonçalo do Abaeté foram surpreendidos com uma chuva de notas de R$ 50 que caiu de um helicóptero. Segundo a PM, a dinheirama foi jogada por um comprador de pedras da Bélgica, identificado apenas como Hassam, que pretende se instalar na região.

Isto É, 15/09/2004, Brasil, p. 32-35

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