segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

PARTIDOS MAIS CORRUPTOS DO BRASIL

O antigo partido do FHC do Alckimim e do Serra, antes chamado de PFL e hj de DEM lidera o ranking dos partidos mais corruptos do Brasil.

Confrontando dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ranking da corrupção no Brasil foi o seguinte:
(Medido pela quantidade de políticos cassados por corrupção desde 2000):

1º) DEM (69)
2º) PMDB (66)
3º) PSDB (58)
4º) PP (26)
5º) PTB (24)
6º) PDT (23)
7º) PR (17)
8º) PPS (14)
9º) PT (10)
10º) PV, PHS, PRONA e PRP (1)

Veja que dos 623 políticos que foram cassados, 4 eram governadores e vices: Flamarion Portela, de Roraima, e Cássio Cunha Lima, da Paraíba, mantido no cargo por força de liminar do TSE. 

Os demais são senadores e suplentes (6), deputados federais (8), deputados distritais (13), prefeitos e vices (508) e vereadores (84).


De acordo com a pesquisa, o partido do FHC, Alckimim e do Serra, o  DEM é o partido que lidera o ranking (69), reunindo 20,4% dos políticos cassados.

Mas acredito que esses números poderiam ser muito maiores!
Repare que apesar do enorme crescimento do partido socialista Psol, ainda nenhum politico deste partico sequer esteve diretamente ligado com escandalos de corrupçao ou crime, o Psol aparece como um dos unicos partidos 100% livres de corrupçao, segundo seus militantes e politicos isso se deve a lei interna onde diz que se for averiguado qualquer indicio de ligaçao a crimes e corrupçao, o membro é expulso automaticamente.
 
 Poucos são os partidos honestos no Brasil!

ABORTO: ALGUMAS VERDADES

VOCÊ PODE SER CONTRA O ABORTO SEM SER CONTRA A LEGALIZAÇÃO DO ABORTO!!



Se te disseram que legalizar o aborto vai fazer todas as mulheres "saírem abortando" bebês de até 9 meses todos os dias em hospitais públicos e fazendo com que o números de abortos aumente drasticamente gerando um caos social, você foi enganado porque:

1) Os números já são drásticos: aproximadamente mil mulheres morrem por ano ao realizarem abortos na clandestinidade. Fora essas, estima-se que 2 milhões de abortos clandestinos são realizados por ano. Essa soma é apenas aproximada porque é ilegal. Se o aborto fosse legalizado, o governo teria oficialmente o número de abortamentos, poderia controlá- los e saberia onde tem mais ou menos abortos para tentar diminuir este número. Se o aborto é crime não se tem controle, o número de abortos não diminui, mais mulheres morrem, mais pessoas são presas e o governo não pode fazer nada para mudar isso.

2) Em todos os países ocidentais em que o aborto foi legalizado há anos, observa-se cada vez mais uma diminuição do número de abortos. Quando se legaliza, fala-se mais sobre o assunto aumentando a informação para poder evitar.

3) Em quase nenhum país ocidental em que o aborto é legalizado, ele pode ser feito após 3 meses de gestação. Portanto, essas fotos que mostram abortamentos de bebês grandes e formados são enganadoras. Não será permitido aborto após 3 meses de gestação!

4) As clínicas clandestinas lucram muito no comércio ilegal de abortamentos, que é sustentado por pessoas ricas que fazem o aborto num dia e saem no outro sem problemas e ainda dizendo publicamente que são a favor da vida. O problema fica com as mais pobres, na maioria negras. Criminalização aumenta a hipocrisia e os bolsos de muita gente.



5) Se o aborto for legalizado nenhuma mulher será obrigada a abortar. Quem é contra poderá manter sua opinião.

6) Legalizar o aborto não é incentivar o aborto. Junto com a legalização, o Estado vai reforçar campanhas de educação sexual, direitos sexuais e reprodutivos, aumentar o acesso de mulheres e homens para os métodos contraceptivos, como também aos métodos de uma gravidez saudável. Abortar não é algo prazeroso, mas se alguma mulher precisar fazer, que ela não seja presa e tenha assistência para isso.

7) Se você pensa que a legalização do aborto vai encher os hospitais de milhares de mulheres querendo abortar, não sobrando espaço para as que querem dar à luz, isso é mentira. Os hospitais já estão cheios e gastando com mulheres que abortaram na clandestinidade e quase morreram por causa disso. Isso sai muito mais caro para os hospitais.

8)Se você pensa que com a legalização do aborto, você mata 1 vida, com a criminalização do aborto você mata mais vidas: a do feto e a de milhares de mães que morrem tentando o processo de abortamento.

9) A legalização não defende que abortar é bom. Se você pensa que abortar é ruim, abortar na clandestinidade, ser presa ou até morrer é muito pior.

10) Ser contra o aborto é decidir por você. Ser contra a legalização do aborto é decidir por todas. Ser contra o aborto é não achar certo fazer um aborto. Ser contra a legalização do aborto é ser a favor da morte de milhares de mulheres.




via
http://catolicas.org.br/noticias/conteudo.asp?cod=2915

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O crime organizado, carnaval e futebol


O crime organizado, carnaval e futebol



Via CartaMaior

Por mais importante seja a alegria do povo, nas arquibancadas dos estádios e das passarelas do carnaval, uma coisa não pode ser confundida com a outra. A corrupção e o jogo do bicho são atividades criminosas, e devem ser investigadas e punidas.

Mauro Santayana

Conhecidos jogadores de futebol, ídolos do público, como Ronaldo e Neymar, defendem o Sr. Ricardo Teixeira das acusações que lhe estão sendo feitas. Para os dois profissionais, o presidente da CBF é um homem excepcional que prestou grandes serviços ao esporte, e não deve ser afastado de seu cargo. Ao mesmo tempo, diretores de escolas de samba investem contra o governador Sérgio Cabral, que fez declarações contra a participação dos bicheiros no carnaval carioca. Ora, se se confirmarem as denúncias contra Teixeira e seu sogro, João Havelange, eles poderão ser qualificados como participantes de uma forma de crime organizado. E o jogo do bicho, até que haja leis em contrário, é uma atividade criminosa.

Por mais importante seja a alegria do povo, nas arquibancadas dos estádios e das passarelas do carnaval, uma coisa não pode ser confundida com a outra. A corrupção e o jogo do bicho são atividades criminosas, e devem ser investigadas e punidas. O episódio nos conduz a pensar um pouco sobre a tolerância nacional para com os que violam as leis. Homens públicos de biografia conhecida se tornam facilitadores de negócios, sob o rótulo genérico de consultores. A atividade de consultores está ligada à especialidade de cada um deles. Um jornalista pode dar consultoria em divulgação de empresas: é sua especialidade. Um engenheiro calculista faz o mesmo, e o mesmo pode fazer um geólogo. Os médicos e advogados são consultores de tempo integral. Mas os lobistas não são consultores: são corretores de negócios – geralmente negócios com o poder público.

Os ídolos do público, jogadores de futebol ou sambistas, vivem em outra dimensão da realidade. Os craques de futebol, principalmente os de hoje, estão afastados da maioria da sociedade. Ganham fortunas, porque, com seu talento, geram fortunas ainda maiores. Fora alguns casos – e Romário é um deles -, distanciam-se das coisas cotidianas e vivem, como é natural, navegando nas nuvens da própria glória. Não deviam, sendo assim, imiscuir-se nas coisas políticas.

É de se recordar a desastrada declaração de Pelé, a de que o povo não sabe votar, feita ainda durante o regime militar. Recorde-se que grande parte de sua carreira coincidiu com o auge da Ditadura, quando um dos presidentes, Garrastazu Médici, se jactava de ser o maior torcedor brasileiro, a ponto de dar palpites sobre o elenco da seleção e receber a corajosa resposta de João Saldanha: “ao presidente cabe escalar o Ministério, e, a mim, escalar o time”.

É velha a tolerância nacional para com os bandidos simpáticos. Durante muitos anos reinou, absoluto, como o maior contrabandista do Rio, o célebre Zico, proprietário do famoso Bar Flórida, da Praça Mauá. O bar era o ponto mais conhecido da boemia carioca, freqüentado por prostitutas, marinheiros e malandros. Milionário, Zico era, como todos os sujeitos de sua estirpe, generoso por esperteza, a fim de angariar o apoio de parcelas da população, e financiador de vereadores cariocas. Conta-se que até mesmo Dutra, presidente de sua época, o recebia no Catete. Ao que se sabe, ele nunca foi incomodado pela polícia.

Estamos em uma fase de saneamento moral na atividade política, com a aprovação definitiva da exigência de ficha limpa aos candidatos aos cargos eletivos. Alguns governos estaduais – e o primeiro deles foi o de Minas – já adotaram a exigência e se comprometem a não nomear quem não possa cumpri-la. Seria bom que as escolas de samba não se deixassem governar por notórios bicheiros, e que o futebol voltasse a ser o que foi no passado. Tudo isso é difícil, mas não podemos esmorecer.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Governo dos EUA financiou oposição síria, revela Wikileaks Governo dos EUA financiou oposição síria, revela Wikileaks


Governo dos EUA financiou oposição síria, revela Wikileaks
Parte dos opositores rejeitou ajuda norte-americana, por considerá-la "insultante"

via operamundi

O governo dos Estados Unidos financiou a oposição ao regime de Bashir Assad por meio da campanha “Anunciando a Democracia Síria”. A revelação é de um telegrama de 27 de fevereiro de 2006, vazado pelo site Wikileaks em 30 de agosto de 2011.

No documento, enviado por Stephen Seche, diplomata na embaixada em Damasco, o governo dos EUA afirma que a campanha contra o presidente sírio inicialmente provocou reações contraditórias entre os membros da oposição local.

Enquanto alguns políticos oposicionistas enxergaram a situação com mais entusiasmo, outros consideraram a oferta "insultante". No despacho, o diplomata relata a reação de um opositor e ex-preso político, que teria acusado os EUA de quererem apenas instrumentos políticos e não parceiros realmente dispostos a estabelecer democracias no Oriente Médio.

Com o passar do tempo, no entanto, a maior parte dos opositores passou a ver com bons olhos a ajuda norte-americana, um sinal de que Washington “não queria acordo” com o regime de Assad. Eles também deram sugestões de como os EUA poderiam ajudar os opositores

Basil Dahdouh, deputado independente, achava que a oferta de dinheiro era um importante sinal do apoio dos EUA à oposição na Síria. Era um indicativo que os EUA estavam dispostos a cooperar com a queda do regime de Assad. Entretanto, Dahdouh criticou o modo como a oferta foi feita: “burocrática, legalista e pública” demais. Isso poderia enfraquecer a iniciativa, de acordo com o parlamentar.

Em vez disso, Bahdouh sugeriu ajuda financeira às famílias de presos políticos. De acordo com o parlamentar, algumas centenas de dólares mensais evitariam o empobrecimento dessas famílias. O parlamentar não disse como seria possível implementar um programa dessa natureza, mas sugeriu que o dinheiro poderia ser entregue aos familiares dos dissidentes pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Bolsas de estudo, programas culturais, prêmios e outras iniciativas poderiam ser utilizadas para enviar dinheiro à oposição síria. O parlamentar também sugere um “centro de traduções”, no qual seria dada voz à imprensa alternativa, crítica de Assad. O objetivo, segundo Bahdouh, era remeter o dinheiro “sem gerar controvérsias”.

Agência Efe



Reação

Uma das mais violentas reações contra a ajuda americana veio do dissidente Yassin Haj Salleh, preso pelo regime de Assad por 18 anos. Ele considerou a proposta insultante e pediu que os EUA “parassem de negociar com os sírios desse modo desrespeitoso”. Para Salleh, os EUA deveriam apoiar não só a democracia na Síria, mas também o governo palestino eleito democraticamente do partido Hamas.

Para Salleh, a postura dos EUA é incoerente: “Vocês cortam milhões de dólares em ajuda à Palestina e oferecem centavos para estimular a democracia na Síria”, criticou o dissidente. Segundo ele, os EUA são hostis à qualquer ideia de real independência árabe, mesmo nos dias de hoje: “Vocês não querem parceiros, querem instrumentos”.

A reação pública à ajuda também foi dividida. Os nacionalistas mais tradicionais rechaçaram qualquer ajuda e as outras reações continham mais nuances.

Hassan Abdul Azim, porta-voz do Grupo Democrático Nacional, coalizão de cinco partidos da oposição, constituído de pan-arabistas e ex-comunistas, disse que seu grupo recusaria qualquer “financiamento ocidental” e puniria membros que aceitassem aquele dinheiro.

Para o ativista Michel Kilo, os problemas da oposição síria não são financeiros, mas políticos. Segundo Kilo, a principal objeção ao dinheiro americano é a política dos EUA para o Oriente Médio e para a Palestina, finaliza o diplomata americano.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

AONDE ESTA A NOSSA RACIONALIDADE?

Uma ideia perigosa




Quanto mais leio sobre neurociência, mais me aproximo da perigosa ideia de que a Justiça é uma impossibilidade teórica.

Comecemos abordando um caso que estampou o noticiário das últimas semanas. Falo da famosa marcha da maconha, vetada pelo Judiciário em várias cidades do Brasil. Só em São Paulo isso aconteceu duas vezes em menos de um mês.

A pergunta que não quer calar é: juízes podem ou não proibir a realização de marchas da maconha? A resposta, leitor, depende da sua coloração ideológica, mais especificamente dos trechos da legislação que seu cérebro está disposto a valorizar e quais prefere ignorar.

Os magistrados que optaram por banir o evento se apoiaram no parágrafo 2º do artigo 33 da lei nº 11.343/06, que veda "induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga".

Isso significa que fecharam os olhos para o inciso XVI do artigo 5º da Constituição, que reza: "Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente".

Fizeram ainda vistas grossas ao inciso IV do mesmo artigo, que determina a plena liberdade de manifestação do pensamento, vedando apenas o anonimato. Este mandamento é reforçado pelo artigo 220.

É claro que não existem direitos absolutos, mas os liberais temos um argumento forte aqui ao lembrar que, pelo menos em teoria, normas previstas na Carta prevalecem sobre a legislação infraconstitucional.

Mais do que isso, os defensores da marcha podem arrazoar que os juízes não apenas desconheceram a Constituição como ainda ignoraram a diferença semântica elementar entre instigar à prática de um delito e defender uma mudança nas normas para que o que até então era considerado crime deixe de sê-lo --o propósito declarado da manifestação.

Os magistrados, é claro, podem contra-argumentar afirmando que um ato público pela legalização da maconha acabaria incorrendo em atos de louvor à erva. É possível e até provável, mas, no momento da decisão, isso não era mais do que um exercício de clarividência. Pelo menos sob a ótica liberal, parece pouco para proibir previamente uma manifestação, que, nos termos do mais sagrado dos artigos da Carta, o 5º, prescinde até de autorização.

Se a preocupação é essa, faria mais sentido determinar alguma vigilância, com vistas a punir "a posteriori" quem tivesse extrapolado.

Deixemos, porém, a barafunda jurídica para o Supremo Tribunal Federal que, mais dia menos dia, julgará o caso e nos concentremos na psicologia por trás dos pensamentos conservador e liberal.

Peço agora licença para descrever uma experiência curiosa e elucidativa. O psicólogo Richard Wiseman, da Universidade de Hertfordshire, resolveu espalhar 240 carteiras pelas ruas de Edimburgo. Elas não continham dinheiro, apenas documentos de identidade, cartões de fidelidade, bilhetes de rifa e fotografias pessoais. A única variação eram as fotos. Algumas das carteiras não tinham foto nenhuma (era o grupo controle) e outras traziam imagens que podiam ser de um casal de velhinhos, de uma família reunida, de um cachorrinho ou de um bebê.

A meta do experimento era descobrir se a fotografia afetaria a taxa de devolução das carteiras. Num mundo perfeitamente racional, a imagem seria irrelevante. Devolve-se o objeto perdido porque é a coisa certa a fazer. O trabalho de colocá-lo numa caixa de correio não é tão grande assim e é o que gostaríamos que os outros fizessem, caso fôssemos nós que tivéssemos perdido os documentos.

É claro, porém, que as fotografias influíram nos resultados. Foram devolvidas apenas 15% das carteiras sem foto, pouco mais de 25% das que traziam a imagem dos velhinhos, 48% das da família, 53% das do filhotinho e 88% das do bebê.

O experimento ilustra bem a forma como o cérebro opera. Embora tenhamos nos acostumado a pensar que tomamos decisões pesando os prós e contras de cada uma das alternativas possíveis e com base nisso extraindo uma conclusão, o que os estudos neurocientíficos mostram é que, na maioria das ocasiões, a parte inconsciente de nossas mente chega imediatamente a uma conclusão, mediada por sentimentos, palpites ou intuições. Em seguida a porção racional de nossos cérebros se põe a procurar e elaborar argumentos racionais (ou quase) para justificar essa conclusão. É muito mais uma conta de chegada do que um cálculo honesto.

Quem trabalha bem essa questão é o neurocientista Michael Gazzaniga. Ele localizou no hemisfério esquerdo uma série de estruturas que seriam responsáveis por dar sentido ao mundo. O pesquisador as chama de "intérprete do hemisfério esquerdo", mas um outro nome aceitável é "cérebro sabichão". É ele que busca desesperadamente dar um sentido unificado a todas as nossas experiências, memórias e fragmentos de informação. Ele nos faz deixar de ver as leis que não nos interessam e atribui enorme peso a tudo o que apoia sua tese. Quando a história não fecha, pior para a verossimilhança: o intérprete não hesita em criar desculpas esfarrapadas e explicações que beiram o "nonsense".

Quem resume bem a situação é Robert Wright, em "Animal Moral": "O cérebro é como um bom advogado: dado um conjunto de interesses a defender, ele se põe a convencer o mundo de sua correção lógica e moral, independentemente de ter qualquer uma das duas. Como um advogado, o cérebro humano quer vitória, não verdade; e, como um advogado, ele é muitas vezes mais admirável por sua habilidade do que por sua virtude".

Bem, se somos todos advogados de nossos sentimentos e intuições sobra alguém para julgar de forma isenta as discordâncias entre as pessoas? Se você enfatizar muito o "de forma isenta" a resposta é não. Somos todos prisioneiros de nosso psiquismo. Um juiz perfeitamente neutro e objetivo é impossível, como já apontavam os hegelianos e, principalmente, os marxistas.

Daí não decorre, porém, que não possamos selecionar entre melhores e piores candidatos a magistrado. Uma das mais notáveis características humanas, afinal, é a variedade de tipos psicológicos e de personalidade.

De acordo com Jonathan Haidt, da Universidade de Virgínia, é difícil mas não impossível ir contra nossas conclusões automáticas. As chances aumentam quando a pessoa tem boa capacidade analítica e, principalmente, intuições morais fracas a respeito do mundo. Em poucas palavras, se queremos um juiz que seja pelo menos capaz de ouvir adequadamente as duas partes em um processo, precisamos em primeiro lugar afastar os mais radicais, isto é, aqueles que têm uma opinião forte sobre as coisas. Mais do que um "esteio moral da sociedade" a escolha ideal é alguém que não seja totalmente seguro a respeito de suas próprias ideias. O risco aqui, é claro, é que a última parte a arguir sempre vença. Mas, como eu disse no início, o mundo não é um lugar perfeito, e a Justiça está muito perto de ser uma impossibilidade teórica.

Cuidado. Essa conclusão quase pessimista não implica que devamos abandonar por completo até mesmo a ideia de um sistema judicial. Como a democracia, ela é algo que funciona, ainda que não pelas razões que gostaríamos. O simples fato de transferirmos em comum acordo para um terceiro partido (o Estado) o poder de arbitrar disputas já é um poderoso freio a rixas que não raro descambam para a violência e impasses que desorganizam a sociedade.

Mesmo que as decisões sobre quem tem ou não razão num litígio fossem tomadas por sorteio e não com base em leis, isso já seria preferível a deixar que as partes resolvessem diretamente a contenda. E, no fundo, talvez seja exatamente isso. Como mostram as dissonantes decisões sobre a marcha da maconha Brasil afora, o que acaba determinando se ela pode ou não acontecer, muito mais do que as leis e precedentes, é a definição do magistrado que vai julgar a causa. Se cai com um liberal, tudo bem; se é um conservador, liminar nela. É claro que o processo tende a ficar um bocadinho menos aleatório quando se avança na hierarquia judiciária e aparecem os acórdãos e as súmulas. De toda maneira, não parece um exagero afirmar que, diante da capacidade das pessoas para extrair sua interpretação favorita de não importa qual corpo de texto escrito, leis são bem menos relevantes do que parecem à primeira vista.

UM POUCO A CERCA DO MASSACRE DOS PALESTINOS PROMOVIDO POR ISRAEL


A Cisjordânia e a "política da invisibilidade"




Vladimir Safatle"Vocês não podem ir à Cisjordânia", disse o funcionário da locadora de automóveis no Aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv.

De fato, o GPS do carro nem sequer indicava cidades palestinas como Ramallah, Hebron ou Nablus, a poucas dezenas de quilômetros dali. Não estava claro se a impossibilidade teria ligação com alguma proibição do governo de Israel ou com uma estranha forma de acordo tácito entre os israelenses que consistiria em agir como se a Palestina não existisse.

Por fim, entrar na Cisjordânia não se mostrou mais complicado do que passar uma fronteira em qualquer lugar do mundo --o que demonstrou que a impossibilidade enunciada pelo funcionário da locadora era mais uma limitação psicológica do que a descrição de um estado efetivo de coisas.

É fácil se deixar inebriar pela beleza arquitetônica de cidades como Tel Aviv, com seus prédios em estilo Bauhaus ao redor do bulevar Rothschild, e Jerusalém, com seu trânsito racional e sua escala humana de prédios de baixo gabarito. Essas cidades testemunham a força e a impressionante dedicação de um povo capaz de construir um país em menos de 50 anos. poucos povos no mundo seriam capazes de fazer o que os israelense fizeram.

No entanto, tal admiração pode nos cegar para o que acontece do outro lado do muro que Israel ergueu, a partir de 2002, para isolar os palestinos.

Ela pode nos levar a pensar da mesma forma que o governo de Israel, que construiu na Cisjordânia essas autoestradas cujas placas indicam apenas os nomes dos assentamentos israelenses --forma de mostrar que as cidades palestinas não teriam sequer o direito de ser nomeadas.

POVO INVENTADO
Em dezembro do ano passado, o pré-candidato republicano à presidência dos EUA Newt Gingrich afirmou que os palestinos são um povo "inventado". O que, no seu jargão, deve significar: um povo que não existe como tal e que, principalmente, não tem direito a existir.

Ele decerto acredita que há povos "inventados" e povos, digamos, "naturais". Na sua vasta visão de americano médio, Gingrich talvez acredite em povos que tenham sido criados por alguma forma de vontade divina, perfeitamente clara para determinados deputados visionários do Partido Republicano.

A afirmação do candidato tem, ao menos, a vantagem da honestidade. Um povo como o palestino, cuja maioria da população não tem direito nem a carteira de identidade ou passaporte, deve entender bem o que Gingrich quis dizer. Ele sabe que a afirmação do republicano expõe o núcleo de uma prática que paulatinamente tomou conta da "questão palestina".

Ela consiste em operar o que poderíamos chamar de "política de invisibilidade". Pois uma das grandes conquistas da filosofia social dos últimos 30 anos foi pôr em relevo a importância da noção de reconhecimento no interior dos embates políticos.

Tal noção nos obriga a lembrar que, para além das questões econômicas de redistribuição de riquezas, a política é a esfera na qual demandas de reconhecimento devem ser ouvidas e implementadas.

Reconhecer alguém como sujeito político significa primeiro reconhecer que seus sofrimentos e direitos são visíveis. Em nenhum outro lugar essa teoria foi tão esquecida quanto na Palestina.

Durante minha viagem à Tunísia, ao Egito e a outros países da região, ficou claro como o significante que melhor organizava as demandas políticas daqueles que colocaram em marcha a Primavera Árabe era "dignidade". Na Palestina, descobre-se mais facilmente como tal palavra foi enunciada não apenas contra ditadores corruptos como o tunisiano Ben Ali ou o egípcio Hosni Mubarak.

Ela foi enunciada contra o Ocidente. Pois, se os povos árabes são tão sensíveis ao problema palestino (contrariamente à clássica insensibilidade de seus governantes), é porque veem nele o sintoma do discurso do Ocidente sobre o Oriente Médio. Ou seja, o ponto que revela o destino que o Ocidente reserva aos povos árabes, quando estes não têm petróleo, ou posição geopolítica privilegiada. O destino da invisibilidade.

AMEAÇA
Há uma forma clássica de tentar cortar tal discussão pela raiz. Ela consiste em justificar a situação palestina, de humilhação cotidiana, afirmando que os israelenses também sofreram a ameaça cotidiana da guerra, da insegurança e do terrorismo.

É verdade que tal sofrimento é real e não deve ser esquecido. Não precisamos de discursos que diminuam o sofrimento vivenciado por um povo. No entanto, nada nos impede de, ao mesmo tempo, recusar radicalmente tanto o discurso que nega o direito à existência de Israel em fronteiras seguras (assim como as ações terroristas contra a população civil) quanto a prática que nega aos palestinos um Estado autônomo e respeitoso das fronteiras de 1967, ou que os submete a ações inaceitáveis de "punição coletiva".

Mais ainda. Nada nos leva a afirmar que a insegurança israelense será resolvida pela condução do povo palestino à situação de inexistência.

"Isso é algo que, no fundo, os israelenses sabem", disse-me Liran Razinsky, ativista do Movimento Solidariedade e professor de literatura da Universidade de Tel Aviv.

"Se você perguntar se os israelenses estão seguros de que seu Estado existirá daqui a 50 anos, a maioria responderá de maneira negativa. Mas, quando o afeto central da vida social é o medo, você se dispõe a fazer o que for necessário para se defender, sem nem sequer enxergar o que de fato você está fazendo. Assim, Israel se tornou um Estado democrático para os judeus, semidemocrático para os árabes-israelenses e totalitário para os palestinos".

Um exemplo forte do que Razinsky tem em mente pode ser encontrado na cidade palestina de Hebron. Lá, em 1994, o colono Baruch Goldstein abriu fogo contra palestinos que rezavam na mesquita de Abraão, matando 29 pessoas.

Hoje, a mesquita e a área em volta estão totalmente cercadas por controles do Exército israelense, e o túmulo de Goldstein transformou-se em local de peregrinação de colonos radicais.
Os palestinos que moram na redondeza só podem entrar em casa depois de passar por tais controles. Não são autorizados a ter facas ou qualquer outro objeto cortante em casa, nem podem sair depois das 20h. Caso queiram, por exemplo, trazer um sofá para casa, precisarão de uma autorização do Exército que pode demorar semanas.

Qualquer palestino precisa da autorização do Exército israelense para reformar ou ampliar sua casa, assim como para construir reservatórios de água. Raramente tais permissões são concedidas. Ou seja, a todo momento, os palestinos são lembrados de que vivem em situação perpétua de exceção.

No entanto, é possível encontrar colonos indo ao supermercado ostensivamente com metralhadoras nas costas. Há um assentamento bem no meio da cidade. Ele é protegido por torres de observação do Exército que se espalham por Hebron, dando a impressão de uma cidade sitiada, controlada por alguma forma de pan-óptico que tudo vê. Até mesmo a entrada da cidade é controlada por uma barreira que a qualquer momento pode ser fechada para impedir que os palestinos passem.

Ruas estão divididas por blocos de concreto. Os palestinos circulam de um lado, os israelenses de outro. O lado israelense é duas vezes maior do que o palestino. Várias áreas da cidade foram interditadas aos palestinos para proteger os colonos. Não foi por outra razão que Andrew Feinstein, antigo parlamentar judeu do Congresso sul-africano, afirmou sobre a Cisjordânia: "Isto é como o apartheid".

Feinstein estava certo: dificilmente encontraremos palavra mais adequada para caracterizar essas e outras situações corriqueiras na Cisjordânia, como as autoestradas que separam carros palestinos e israelenses.

ASSENTAMENTOS
Segundo as leis internacionais, os assentamentos são ocupações absolutamente ilegais. No entanto, "o governo de Israel nunca abandonou sua política de assentamentos, nem mesmo em época de negociação de paz", disse-me Jamal Juma, ativista palestino e coordenador da ONG Stop the Wall.

"Não é por outra razão que hoje a Cisjordânia tem algo em torno de 520 mil colonos judeus ante uma população de 2,5 milhões de palestinos. Quando os acordos de Oslo começaram, a partir de 1993, esse número não chegava a um quinto do que é hoje. O maior erro dos acordos de Oslo foi não prever o desmantelamento imediato dos assentamentos."

Autoridades israelenses afirmam que a existência dos assentamentos não é obstáculo para a paz. Afinal, Israel desmantelou assentamentos em Gaza, no governo de Ariel Sharon (2001-06), e no Sinai, no governo de Menachem Begin (1977-83), ao devolver tais terras. Mas é difícil imaginar que algo dessa natureza seja possível na Cisjordânia. Quando ouvimos falar em assentamentos, temos a impressão de um conjunto de casas ou fazendas. No entanto, alguns deles, como Ariel, são verdadeiras cidades.

Há de se perguntar quem conseguirá desmantelar toda uma cidade de 35 mil habitantes cujos moradores andam com metralhadoras a tiracolo e se veem como responsáveis pela missão divina de reconquistar a terra de seus ancestrais bíblicos. Quando o ex-primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, tentou fazer isso, foi assassinado exatamente por um colono.

A vida em Ariel é algo à parte. Seu acesso é proibido a carros que não tenham placas israelenses. A cidade é uma espécie de condomínio fechado, etnicamente homogêneo, cuja base demográfica é composta por judeus vindos da Rússia e do Brooklyn nova-iorquino. Em seus supermercados é possível encontrar caviar russo e biscoitos belgas a preços subsidiados pelo governo, o que garante um alto padrão de vida.

Ao redor, encontramos indústrias pesadas, que poluem o riacho que passa pelos vilarejos palestinos da região. No seu interior está a Universidade de Ariel, que tem um acordo de cooperação acadêmica com o Instituto de Matemática da Universidade de São Paulo.

É de perguntar qual insensibilidade inacreditável acometeu a USP para achar normal firmar um acordo dessa natureza com uma instituição construída em um território ocupado --uma ocupação internacionalmente condenada, inclusive pelo próprio governo brasileiro. Não se trata aqui de fazer coro ao equivocado pedido de boicote às universidades israelenses --equivocado porque boa parte da oposição às políticas do governo vem exatamente dessas universidades.

Já um acordo com uma instituição construída em território ocupado equivale a legitimar e normalizar tal situação, o que vai frontalmente contra as determinações da diplomacia brasileira.
Marda é um dos vilarejos palestinos ao lado de Ariel. Nele, nos encontramos com fazendeiros que tiveram suas terras paulatinamente confiscadas pelo Exército israelense por "razões de segurança".

Um deles é Murad Alkufash, que pergunta, indignado: "Moramos aqui há séculos. Por que eu deveria aceitar que alguém que nem nasceu aqui, que veio do Brooklyn, seja senhor das terras que herdei de meu pai?".

ÁGUA
Uma das situações mais extorsivas em relação aos direitos dos palestinos diz respeito à água. O Jordão é o único rio perene da região e está completamente em território palestino. Israel já disse de maneira clara que não devolverá o vale do Jordão, o que inviabiliza qualquer tentativa de fundar um Estado palestino que não seja um mero conjunto de bantustões.

O próprio ex-primeiro-ministro Ariel Sharon, como revelou o jornal israelense "Haaretz", em maio de 2003, dizia acreditar que a "solução" da questão palestina passaria pela criação de microterritórios semelhantes aos bantustões, Estados-fantoche criados pelo governo racista sul-africano a fim de isolar os negros em comunidades sem autonomia real ou poder efetivo, criando uma população sem direitos civis e trabalhistas.

Os palestinos que habitam a região do Jordão são segregados no que diz respeito ao consumo de água. Um colono israelense usa seis vezes mais água que os palestinos. Caso queiram mais, os palestinos precisarão comprar água de uma empresa israelense que explora o rio do qual os próprios palestinos são donos.

Diab Abdel Najoun, fazendeiro da região de Al-Auja, me contou: "Tenho fazenda, mas não posso plantar nada porque Israel cortou minha água. Vivo agora do dinheiro mandado por meus filhos".

Ao chegar em Al-Auja, com voluntários do Conselho Mundial de Igrejas, encontramos Faiçal Najoun prostrado diante de escombros. O Exército israelense acabara de demolir um pequeno edifício comercial que ele construíra em "zona C". Depois dos acordos de Oslo (1993), a Palestina foi dividida em três zonas: A (sob controle palestino), C (sob controle israelense) e B (sob controle misto).

No entanto, os limites são muitas vezes controversos e cambiáveis, o que faz com que boa parte dos palestinos nunca tenha segurança sobre a propriedade de sua casa. Até mesmo escolas estão atualmente sob ordem de demolição.

Diante dos escombros, Faiçal me disse esperar uma terceira Intifada, alusão feita às revoltas da população palestina, armada muitas vezes com paus e pedras, contra militares israelenses: "Israel está em guerra contra nós, agora por meio da água e da terra".

NEGOCIAÇÃO
Pode-se ignorar o caráter dramático da situação afirmando que ela foi produzida pelos próprios palestinos. Afinal, eles teriam recusado sistematicamente toda possibilidade de negociação --a prova seria a recusa do então presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat (c. 1929-2004) a aceitar um acordo do então primeiro-ministro Ehud Barak (1999-2001) para devolver 92% do território palestino e partilhar Jerusalém.

Eu mesmo já escrevi anteriormente que foi um erro de Arafat não ter aceitado ("O Verdadeiro Alvo", no jornal "Valor Econômico" de 6 de novembro de 2009). No entanto, vale a pena colocar o processo no seu verdadeiro contexto.

O motivo da recusa foi a intransigência de Barak em negociar o direito de retorno dos refugiados palestinos. Quando o Estado de Israel foi criado, em 1948, 711 mil palestinos fugiram de casa com medo de massacres como o ocorrido em Deir Yaassin ou das consequências do conflito árabo-israelense.

Esses palestinos têm assegurado o direito de retorno por uma decisão da ONU conhecida como Resolução 194.

Desde então, eles vivem em campos de refugiados espalhados por Jordânia, Cisjordânia e Líbano. Por muito menos, mas por razões estruturalmente semelhantes, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) invadiu o Kosovo, na ex-Iugoslávia, em 1999. Ou seja, não há nada de irracional na posição de Arafat em exigir uma solução adequada ao problema dos refugiados, embora tenha sido um equívoco estratégico.

Pode-se tentar ignorar este relato, afirmando que se trata de mais um texto marcado pela posição anti-Israel. Nada mais falso.

Melhor seria lembrar que existem dois tipos de amigos: um que dirá "sim" a tudo o que você fizer e outro que, ao ver você rumo ao abismo, segurará firme em seu braço e dirá: "É hora de mudar de caminho".

Há de se perguntar quem é o verdadeiro amigo.



domingo, 5 de fevereiro de 2012

TESTE: ESQUERDA OU DIREITA? LIBERTARIO OU AUTORITARIO E CONSERVADOR? DESCUBRA O QUE VC É.


Teste: Esquerda ou direita? Libertário ou autoritário?

Encontrei um link muito interessante que pode nos ajudar a descobrir o que e quem somos politicamente falando, trata-se de um teste interessante, que no final vai definir se a pessoa é de esquerda ou direita, autoritário ou libertário. Apesar de ser em espanhol, é de fácil entendimento (e dá para fazer em inglês também).

Vejam meus resultados:
Derecha/Izquierda Economicista: -8.50
Anarquismo/Autoritarismo Social: -6.87


Eu no gráfico (clique na figura para vê-la em tamanho real):




Abaixo, alguns exemplos de personagens históricos famosos e o espectro ideológico no qual se encaixam, segundo o site (clique nas figuras para vê-las em tamanho real):




Alinhamento ideológico dos governos da União Européia em 2006:



Alinhamento ideológico de compositores:



Fico feliz de estar em tão boas companhias... Se você também tiver coragem de passar pelo teste e descobrir se está mais para Hitler, para Gandhi ou para Stalin, clique neste link. Dá para fazer o teste em inglês também - clique aqui.

YONI SANCHEZ DESMASCARADA


A verdade sobre Yoni Sanchez




Yoni Sanchez: "a máscara e a mercenária"
Abaixo reproduzo a esclarecedora entrevista do jornalista francês especialista em Cuba, Salm Lamrani, com a "dissidente cubana" Yoni Sanchez, que está circulando na internet e está provocando uma avalanche política pelo mundo.

Por Salim Lamranium


O incidente de 6 de novembro de 2009

Salim Lamrani - Comecemos pelo incidente ocorrido em 6 de novembro de 2009 em Havana. Em seu blog, a senhora explicou que foi presa com três amigos por "três robustos desconhecidos" durante uma "tarde carregada de pancadas, gritos e insultos". A senhora denunciou as violências de que foi vítima por parte das forças da ordem cubanas. Confirma sua versão dos fatos?


Yoani Sánchez - Efetivamente, confirmo que sofri violência. Mantiveram-me sequestrada por 25 minutos. Levei pancadas. Consegui pegar um papel que um deles levava no bolso e o coloquei em minha boca. Um deles pôs o joelho sobre meu peito e o outro, no assento dianteiro, me batia na região dos rins e golpeava minha cabeça para que eu abrisse a boca e soltasse o papel. Por um momento, achei que nunca sairia daquele carro.

SL - O relato, em seu blog, é verdadeiramente terrorífico. Cito textualmente: a senhora falou de "golpes e empurrões", de "golpes nos nós dos dedos", de "enxurrada de golpes", do "joelho sobre o [seu] peito", dos golpes nos "rins e [...] na cabeça", do "cabelo puxado", de seu "rosto avermelhado pela pressão e o corpo dolorido", dos "golpes [que] continuavam vindo" e "todas essas marcas roxas". No entanto, quando a senhora recebeu a imprensa internacional em 9 de novembro, todas as marcas haviam desaparecido. Como explica isso?

YS - São profissionais do espancamento.


SL - Certo, mas por que a senhora não tirou fotos das marcas?

YS - Tenho as fotos. Tenho provas fotográficas.

SL - Tem provas fotográficas?

YS - Tenho as provas fotográficas.

SL - Mas por que não as publicou para desmentir todos os rumores segundo os quais a senhora havia inventado uma agressão para que a imprensa falasse de seu caso?

YS - Por enquanto prefiro guardá-las e não publicá-las. Quero apresentá-las um dia perante um tribunal, para que esses três homens sejam julgados. Lembro-me perfeitamente de seus rostos e tenho fotos de pelo menos dois deles. Quanto ao terceiro, ainda não está identificado, mas, como se tratava do chefe, será fácil de encontrar. Tenho também o papel que tirei de um deles e que tem minha saliva, pois o coloquei na boca. Neste papel estava escrito o nome de uma mulher.

SL - Certo. A senhora publica muitas fotos em seu blog. Para nós é difícil entender por que prefere não mostrar as marcas desta vez.

YS - Como já lhe disse, prefiro guardá-las para a Justiça.


SL - A senhora entende que, com essa atitude, está dando crédito aos que pensam que a agressão foi uma invenção.

YS - É minha escolha.

SL - No entanto, até mesmo os meios ocidentais que lhe são mais favoráveis tomaram precauções oratórias pouco habituais para divulgar seu relato. O correspondente da BBC em Havana, Fernando Ravsberg, por exemplo, escreve que a senhora "não tem hematomas, marcas ou cicatrizes". A agência France Presseconta a história esclarecendo com muito cuidado que se trata de sua versão, sob o título "Cuba: a blogueira Yoani Sánchez diz ter sido agredida e detida brevemente". O jornalista afirma, por outro lado, que a senhora "não ficou ferida".

YS - Não quero avaliar o trabalho deles. Não sou eu quem deve julgá-lo. São profissionais que passam por situações muito complicadas, que não posso avaliar. O certo é que a existência ou não de marcas físicas não é a prova do fato.

SL - Mas a presença de marcas demonstraria que foram cometidas violências. Daí a importância da publicação das fotos.

YS - O senhor deve entender que tratamos de profissionais da intimidação. O fato de três desconhecidos terem me levado até um carro sem me apresentar nenhum documento me dá o direito de me queixar como se tivessem fraturado todos os ossos do corpo. As fotos não são importantes porque a ilegalidade está consumada. A precisão de que "me doeu aqui ou me doeu ali" é minha dor interior.


SL - Sim, mas o problema é que a senhora apresentou isso como uma agressão muito violenta. A senhora falou de "sequestro no pior estilo da Camorra siciliana".

YS - Sim, é verdade, mas sei que é minha palavra contra a deles. Entrar nesse tipo de detalhes, para saber se tenho marcas ou não, nos afasta do tema verdadeiro, que é o fato de terem me sequestrado durante 25 minutos de maneira ilegal.

SL - Perdoe-me a insistência, mas creio que é importante. Há uma diferença entre um controle de identidade que dura 25 minutos e violências policiais. Minha pergunta é simples. A senhora disse, textualmente: "Durante todo o fim de semana fiquei com a maçã do rosto e o supercílio inflamados." Como tem as fotos, pode agora mostrar as marcas.

YS - Já lhe disse que prefiro guardá-las para o tribunal.


SL - A senhora entende que, para algumas pessoas, será difícil acreditar em sua versão se a senhora não publicar as fotos.

YS - Penso que, entrando nesse tipo de detalhes, perde-se a essência. A essência é que três bloggers acompanhados por uma amiga dirigiam-se a um ponto da cidade que era a Rua 23, esquina G. Tínhamos ouvido falar que um grupo de jovens convocara uma passeata contra a violência. Pessoas alternativas, cantores de hip hop, de rap, artistas. Eu compareceria como blogueira para tirar fotos e publicá-las em meu blog e fazer entrevistas. No caminho, fomos interceptados por um carro da marca Geely.

SL - Para impedi-los de participar do evento?

YS - A razão, evidentemente, era esta. Eles nunca me disseram formalmente, mas era o objetivo. Disseram-me que entrasse no carro. Perguntei quem eles eram. Um deles me pegou pelo pulso e comecei a ir para trás. Isso aconteceu em uma zona bastante central de Havana, em um ponto de ônibus.

SL - Então havia outras pessoas. Havia testemunhas.

YS - Há testemunhas, mas não querem falar. Têm medo.

SL - Nem mesmo de modo anônimo? Por que a imprensa ocidental não as entrevistou preservando seu anonimato, como faz muitas vezes quando publica reportagens críticas sobre Cuba?

YS - Não posso lhe explicar a reação da imprensa. Posso lhe contar o que aconteceu. Um deles era um homem de uns cinquenta anos, musculoso como se tivesse praticado luta livre em algum momento da vida. Digo-lhe isso porque meu pai praticou esse esporte e tem as mesmas características. Tenho os pulsos muito finos e consegui escapar, e lhe perguntei quem era. Havia três homens além do motorista.

SL - Então havia quatro homens no total, e não três.

YS - Sim, mas não vi o rosto do motorista. Disseram-me: "Yoani, entre no carro, você sabe quem somos." Respondi: "Não sei quem são os senhores." O mais baixo me disse: "Escute-me, voce sabe quem sou, você me conhece." Retruquei: "Não, não sei quem é você. Não o conheço. Quem é você? Mostre-me suas credenciais ou algum documento." O outro me disse: "Entre, não torne as coisas mais difíceis." Então comecei a gritar: "Socorro! Sequestradores!"

SL - A senhora sabia que se tratava de policiais à paisana?

YS - Imaginava, mas eles não me mostraram seus documentos.

SL - Qual era seu objetivo, então?

YS - Queria que as coisas fossem feitas dentro da legalidade, ou seja, que me mostrassem seus documentos e me levassem depois, embora eu suspeitasse que eles representavam a autoridade. Ninguém pode obrigar um cidadão a entrar em um carro particular sem apresentar suas credenciais. Isso é uma ilegalidade e um sequestro.

SL - Como as pessoas no ponto de ônibus reagiram?

YS - As pessoas no ponto ficaram atônitas, pois "sequestro" não é uma palavra que se usa em Cuba, não existe esse fenômeno. Então se perguntaram o que estava acontecendo. Não tínhamos jeito de delinquentes. Alguns se aproximaram, mas um dos policiais lhes gritou: "Não se metam, que são contrarrevolucionários!"

Esta foi a confirmação de que se tratava de membros da polícia política, embora eu já imaginasse por causa do carro Geely, que é chinês, de fabricação atual, e não é vendido em nenhuma loja em Cuba. Esses carros pertencem exclusivamente a membros do Ministério das Forças Armadas e do Ministério do Interior.

SL - Então a senhora sabia desde o início, pelo carro, que se tratava de policiais à paisana.

YS - Intuía. Por outro lado, tive a confirmação quando um deles chamou um policial uniformizado. Uma patrulha formada por um homem e uma mulher chegou e levou dois de nós. Deixou-nos nas mãos desses dois desconhecidos.

SL - Mas a senhora já não tinha a menor dúvida sobre quem eles eram.

YS - Não, mas não nos mostraram nenhum documento. Os policiais não nos disseram que representavam a autoridade. Não nos disseram nada.


SL - É difícil entender o interesse das autoridades cubanas em agredi-la fisicamente, sob o risco de provocar um escândalo internacional. A senhora é famosa. Por que teriam feito isso?

YS - Seu objetivo era radicalizar-me, para que eu escrevesse textos violentos contra eles. Mas não conseguirão.

SL - Não se pode dizer que a senhora é branda com o governo cubano.

YS -Nunca recorro à violência verbal nem a ataques pessoais. Nunca uso adjetivos incendiários, como "sangrenta repressão", por exemplo. Seu objetivo, então, era radicalizar-me.

SL - No entanto, a senhora é muito dura em relação ao governo de Havana. Em seu blog, a senhora diz: "o barco que faz água a ponto de naufragar". A senhora fala dos "gritos do déspota", de "seres das sombras, que, como vampiros, se alimentam de nossa alegria humana, nos incutem o medo por meio da agressão, da ameaça, da chantagem", e afirma que "naufragaram o processo, o sistema, as expectativas, as ilusões. [É um] naufráfio [total]". São palavras muito fortes.

YS - Talvez, mas o objetivo deles era queimar o fenômeno Yoani Sánchez, demonizar-me. Por isso meu blog permaneceu bloqueado por um bom tempo.

SL - Contudo, é surpreendente que as autoridades cubanas tenham decidido atacá-la fisicamente.

YS - Foi uma torpeza. Não entendo por que me impediram de assistir à passeata, pois não penso como aqueles que reprimem. Não tenho explicação. Talvez eles não quisessem que eu me reunisse com os jovens. Os policiais acreditavam que eu iria provocar um escândalo ou fazer um discurso incendiário.

Voltando ao assunto da detenção, os policiais levaram meus amigos de maneira enérgica e firme, mas sem violência. No momento em que me dei conta de que iriam nos deixar sozinhos com Orlando, com esses três tipos, agarrei-me a uma planta que havia na rua e Claudia agarrou-se a mim pela cintura para impedir a separação, antes de os policiais a levarem.

SL - Para que resistir às forças da ordem uniformizadas e correr o risco de ser acusada disso e cometer um delito? Na França, se resistimos à polícia, corremos o risco de sofrer sanções.

YS - De qualquer modo, eles nos levaram. A policial levou Claudia. As três pessoas nos levaram até o carro e comecei a gritar de novo: "Socorro! Um sequestro!"

SL - Por quê? A senhora sabia que se tratava de policiais à paisana.

YS - Não me mostraram nenhum papel. Então começaram a me bater e me empurraram em direção ao carro. Claudia foi testemunha e relatou isso.

SL - A senhora não acaba de me dizer que a patrulha a havia levado?

YS - Ela viu a cena de longe, enquanto o carro de polícia se afastava. Defendi-me e golpeei como um animal que sente que sua hora chegou. Deram uma volta rápida e tentaram tirar-me o papel da boca.
Agarrei um deles pelos testículos e ele redobrou a violência. Levaram-nos a um bairro bem periférico, La Timba, que fica perto da Praça da Revolução. O homem desceu, abriu a porta e pediu que saíssemos. Eu não quis descer. Eles nos fizeram sair à força com Orlando e foram embora.

Uma senhora chegou e dissemos que havíamos sido sequestrados. Ela nos achou malucos e se foi. O carro voltou, mas não parou. Eles só me jogaram minha bolsa, onde estavam meu celular e minha câmera.

SL - Voltaram para devolver seu celular e sua câmera?


YS - Sim.

SL - Não lhe parece estranho que se preocupassem em voltar? Poderiam ter confiscado seu celular e sua câmera, que são suas ferramentas de trabalho.

YS - Bem, não sei. Tudo durou 25 minutos.

SL - Mas a senhora entende que, enquanto não publicar as fotos, as pessoas duvidarão de sua versão, e isso lançará uma sombra sobre a credibilidade de tudo o que a senhora diz.

YS - Não importa.


A Suíça e o retorno a Cuba

SL - Em 2002, a senhora decidiu emigrar para a Suíça. Dois anos depois, voltou a Cuba. É difícil entender por que a senhora deixou o "paraíso europeu" para regressar ao país que descreve como um inferno. A pergunta é simples: por quê?

YS - É uma ótima pergunta. Primeiro, gosto de nadar contra a corrente. Gosto de organizar minha vida à minha maneira. O absurdo não é ir embora e voltar a Cuba, e sim as leis migratórias cubanas, que estipulam que toda pessoa que passa onze meses no exterior perde seu status de residente permanente.

Em outras condições eu poderia permanecer dois anos no exterior e, com o dinheiro ganho, voltar a Cuba para reformar a casa e fazer outras coisas. Então o surpreendente não é o fato de eu decidir voltar a Cuba, e sim as leis migratórias cubanas.

SL - O mais surpreendente é que, tendo a possibilidade de viver em um dos países mais ricos do mundo, a senhora tenha decidido voltar a seu país, que descreve de modo apocalíptico, apenas dois anos depois de sua saída.

YS - As razões são várias. Primeiro, não pude ir embora com minha família. Somos uma pequena família, mas minha irmã, meus pais e eu somos muito unidos. Meu pai ficou doente em minha ausência e tive medo de que ele morresse sem que eu pudesse vê-lo. Também me sentia culpada por viver melhor do que eles. A cada vez que comprava um par de sapatos, que me conectava à internet, pensava neles. Sentia-me culpada.

SL - Certo, mas, da Suíça, a senhora podia ajudá-los enviando dinheiro.

YS - É verdade, mas há outro motivo. Pensei que, com o que havia aprendido na Suíça, poderia mudar as coisas voltando a Cuba. Há também a saudade das pessoas, dos amigos. Não foi uma decisão pensada, mas não me arrependo.

Tinha vontade de voltar e voltei. É verdade que isso pode parecer pouco comum, mas gosto de fazer coisas incomuns. Criei um blog e as pessoas me perguntaram por que eu fiz isso, mas o blog me satisfaz profissionalmente.

SL - Entendo. No entanto, apesar de todas essas razões, é difícil entender o motivo de seu regresso a Cuba quando no Ocidente se acredita que todos os cubanos querem abandonar o país. É ainda mais surpreendente em seu caso, pois a senhora apresenta seu país, repito, de modo apocalíptico.

YS - Como filóloga, eu discutiria a palavra, pois "apocalíptico" é um termo grandiloquente. Há um aspecto que caracteriza meu blog: a moderação verbal.

SL - Não é sempre assim. A senhora, por exemplo, descreve Cuba como "uma imensa prisão, com muros ideológicos". Os termos são bastantes fortes.

YS - Nunca escrevi isso.

SL - São as palavras de uma entrevista concedida ao canal francês France 24 em 22 de outubro de 2009.

YS - O senhor leu isso em francês ou em espanhol?

SL - Em francês.

YS - Desconfie das traduções, pois eu nunca disse isso. Com frequência me atribuem coisas que eu não disse. Por exemplo, o jornal espanhol ABC me atribuiu palavras que eu nunca havia pronunciado, e protestei. O artigo foi finalmente retirado do site na internet.

SL - Quais eram essas palavras?

YS - "Nos hospitais cubanos, morre mais gente de fome do que de enfermidades." Era uma mentira total. Eu jamais havia dito isso.

SL - Então a imprensa ocidental manipulou o que a senhora disse?

YS - Eu não diria isso.

SL - Se lhe atribuem palavras que a senhora não pronunciou, trata-se de manipulação.

YS - O Granma manipula a realidade mais do que a imprensa ocidental ao afirmar que sou uma criação do grupo midiático Prisa.

SL - Justamente, a senhora não tem a impressão de que a imprensa ocidental a usa porque a senhora preconiza um "capitalismo sui generis" em Cuba?

YS - Não sou responsável pelo que a imprensa faz. Meu blog é uma terapia pessoal, um exorcismo. Tenho a impressão de que sou mais manipulada em meu próprio país do que em outra parte. O senhor sabe que existe uma lei em Cuba, a lei 88, chamada lei da "mordaça", que põe na cadeia as pessoas que fazem o que estamos fazendo.

SL - O que isso quer dizer?

YS - Que nossa conversa pode ser considerada um delito, que pode ser punido com uma pena de até 15 anos de prisão.

SL - Perdoe-me, o fato de eu entrevistá-la pode levá-la para a cadeia?

YS - É claro!

SL - Não tenho a impressão de que isso a preocupe muito, pois a senhora está me concedendo uma entrevista em plena tarde, no saguão de um hotel no centro de Havana Velha.

YS - Não estou preocupada. Esta lei estipula que toda pessoa que denuncie as violações dos direitos humanos em Cuba colabora com as sanções econômicas, pois Washington justifica a imposição das sanções contra Cuba pela violação dos direitos humanos.

SL - Se não me engano, a lei 88 foi aprovada em 1996 para responder à Lei-Helms Burton e sanciona sobretudo as pessoas que colaboram com a aplicação desta legislação em Cuba, por exemplo fornecendo informações a Washington sobre os investidores estrangeiros no país, para que estes sejam perseguidos pelos tribunais norte-americanos. Que eu saiba, ninguém até agora foi condenado por isso.

Falemos de liberdade de expressão. A senhora goza de certa liberdade de tom em seu blog. Está sendo entrevistada em plena tarde em um hotel. Não vê uma contradição entre o fato de afirmar que não há nenhuma liberdade de expressão em Cuba e a realidade de seus escritos e suas atividades, que provam o contrário?

YS - Sim, mas o blog não pode ser acessado desde Cuba, porque está bloqueado.

SL - Posso lhe assegurar que o consultei esta manhã antes da entrevista, no hotel.

YS - É possível, mas ele permanece bloqueado a maior parte do tempo. De todo modo, hoje em dia, mesmo sendo uma pessoa moderada, não posso ter nenhum espaço na imprensa cubana, nem no rádio, nem na televisão.

SL - Mas pode publicar o que tem vontade em seu blog.

YS - Mas não posso publicar uma única palavra na imprensa cubana.

SL - Na França, que é uma democracia, amplos setores da população não têm nenhum espaço nos meios, já que a maioria pertence a grupos econômicos e financeiros privados.

YS - Sim, mas é diferente.

SL - A senhora recebeu ameaças por suas atividades? Alguma vez a ameaçaram com uma pena de prisão pelo que escreve?

YS - Ameaças diretas de pena de prisão, não, mas não me deixam viajar ao exterior. Fui convidada há pouco para um Congresso sobre a língua espanhola no Chile, fiz todos os trâmites, mas não me deixam sair.

SL - Deram-lhe alguma explicação?

YS - Nenhuma, mas quero dizer uma coisa. Para mim, as sanções dos Estados Unidos contra Cuba são uma atrocidade. Trata-se de uma política que fracassou. Afirmei isso muitas vezes, mas não se publica, pois é incômodo o fato de eu ter esta opinião que rompe com o arquétipo do opositor.


As sanções econômicas


SL - Então a senhora se opõe às sanções econômicas.

YS - Absolutamente, e digo isso em todas as entrevistas. Há algumas semanas, enviei uma carta ao Senado dos Estados Unidos pedindo que os cidadãos norte-americanos tivessem permissão para viajar a Cuba. É uma atrocidade impedir que os cidadãos norte-americanos viajem a Cuba, do mesmo modo que o governo cubano me impede de sair de meu país.

SL - O que acha das esperanças suscitadas pela eleição de Obama, que prometeu uma mudança na política para Cuba, mas decepcionou muita gente?

YS - Ele chegou ao poder sem o apoio do lobby fundamentalista de Miami, que defendeu o outro candidato. De minha parte, já me pronunciei contra as sanções.

SL - Este lobby fundamentalista é contra a suspensão das sanções econômicas.

YS - O senhor pode discutir com eles e lhes expor meus argumentos, mas eu não diria que são inimigos da pátria. Não penso assim.

SL - Uma parte deles participou da invasão de seu próprio país em 1961, sob as ordens da CIA. Vários estão envolvidos em atos de terrorismo contra Cuba.

YS - Os cubanos no exílio têm o direito de pensar e decidir. Sou a favor de que eles tenham direito ao voto. Aqui, estigmatizou-se muito o exílio cubano.

SL - O exílio "histórico" ou os que emigraram depois, por razões econômicas?

YS - Na verdade, oponho-me a todos os extremos. Mas essas pessoas que defendem as sanções econômicas não são anticubanas. Considere que elas defendem Cuba segundo seus próprios critérios.

SL - Talvez, mas as sanções econômicas afetam os setores mais vulneráveis da população cubana, e não os dirigentes. Por isso é difícil ser a favor das sanções e, ao mesmo tempo, querer defender o bem-estar dos cubanos.

YS - É a opinião deles. É assim.

SL - Eles não são ingênuos. Sabem que os cubanos sofrem com as sanções.

YS - São simplesmente diferentes. Acreditam que poderão mudar o regime impondo sanções. Em todo caso, creio que o bloqueio tem sido o argumento perfeito para o governo cubano manter a intolerância, o controle e a repressão interna.

SL - As sanções econômicas têm efeitos. Ou a senhora acha que são apenas uma desculpa para Havana?

YS - São uma desculpa que leva à repressão.

SL - Afetam o país de um ponto de vista econômico, para a senhora? Ou é apenas um efeito marginal?

YS - O verdadeiro problema é a falta de produtividade em Cuba. Se amanhã suspendessem as sanções, duvido muito que víssemos os efeitos.

SL - Neste caso, por que os Estados Unidos não suspendem as sanções, tirando assim a desculpa do governo? Assim perceberíamos que as dificuldades econômicas devem-se apenas às políticas internas. Se Washington insiste tanto nas sanções apesar de seu caráter anacrônico, apesar da oposição da imensa maioria da comunidade internacional, 187 países em 2009, apesar da oposição de uma maioria da opinião pública dos Estados Unidos, apesar da oposição do mundo dos negócios, deve ser por algum motivo, não?

YS - Simplesmente porque Obama não é o ditador dos Estados Unidos e não pode eliminar as sanções.

SL - Ele não pode eliminá-las totalmente porque não há um acordo no Congresso, mas pode aliviá-las consideravelmente, o que não fez até agora, já que, salvo a eliminação das sanções impostas por Bush em 2004, quase nada mudou.

YS - Não, não é verdade, pois ele também permitiu que as empresas de telecomunicações norte-americanas fizessem transações com Cuba.


Os prêmios internacionais, o blog e Barack Obama

SL - A senhora terá de admitir que é bem pouco, quando se sabe que Obama prometeu um novo enfoque para Cuba. Voltemos a seu caso pessoal. Como explica esta avalanche de prêmios, assim como seu sucesso internacional?

YS - Não tenho muito a dizer, a não ser expressar minha gratidão. Todo prêmio implica uma dose de subjetividade por parte do jurado. Todo prêmio é discutível. Por exemplo, muitos escritores latino-americanos mereciam o Prêmio Nobel de Literatura mais que Gabriel García Márquez.

SL - A senhora afirma isso porque acredita que ele não tem tanto talento ou por sua posição favorável à Revolução cubana? A senhora não nega seu talento de escritor, ou nega?

YS - É minha opinião, mas não direi que ele obteve o prêmio por esse motivo nem vou acusá-lo de ser um agente do governo sueco.

SL - Ele obteve o prêmio por sua obra literária, enquanto a senhora foi recompensada por suas posições políticas contra o governo. É a impressão que temos.

YS - Falemos do prêmio Ortega y Gasset, do jornal El País, que suscita mais polêmica. Venci na categoria "Internet". Alguns dizem que outros jornalistas não conseguiram, mas sou uma blogueira e sou pioneira neste campo. Considero-me uma personagem da internet. O júri do prêmio Ortega y Gasset é formado por personalidades extremamente prestigiadas e eu não diria que elas se prestaram a uma conspiração contra Cuba.

SL - A senhora não pode negar que o jornal espanhol El País tem uma linha editorial totalmente hostil a Cuba. E alguns acham que o prêmio, de 15.000 euros, foi uma forma de recompensar seus escritos contra o governo.

YS - As pessoas pensam o que querem. Acredito que meu trabalho foi recompensado. Meu blog tem 10 milhões de visitas por mês. É um furacão.

SL - Como a senhora faz para pagar os gastos com a administração de semelhante tráfego?

YS - Um amigo na Alemanha se encarregava disso, pois o site estava hospedado na Alemanha. Há mais de um ano está hospedado na Espanha, e consegui 18 meses gratuitos graças ao prêmio The Bob’s.

SL - E a tradução para 18 línguas?

YS - São amigos e admiradores que o fazem voluntária e gratuitamente.

SL - Muitas pessoas acham difícil acreditar nisso, pois nenhum outro site do mundo, nem mesmo os das mais importantes instituições internacionais, como as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a OCDE, a União Europeia, dispõe de tantas versões de idioma. Nem o site do Departamento de Estado dos EUA, nem o da CIA contam com semelhante variedade.

YS - Digo-lhe a verdade.

SL - O presidente Obama inclusive respondeu a uma entrevista que a senhora fez. Como explica isso?

YS - Em primeiro lugar, quero dizer que não eram perguntas complacentes.

SL - Tampouco podemos afirmar que a senhora foi crítica, já que não pediu que ele suspendesse as sanções econômicas, sobre as quais a senhora diz que "são usadas como justificativa tanto para o descalabro produtivo quanto para reprimir os que pensam diferente". É exatamente o que diz Washington sobre o tema.

O momento de maior atrevimento foi quando a senhora perguntou se ele pensava em invadir Cuba. Como a senhora explica que o presidente Obama tenha dedicado tempo a lhe responder apesar de sua agenda extremamente carregada, com uma crise econômica sem precedentes, a reforma do sistema de saúde, o Iraque, o Afeganistão, as bases militares na Colômbia, o golpe de Estado em Honduras e centenas de pedidos de entrevista dos mais importantes meios do mundo à espera?

YS - Tenho sorte. Quero lhe dizer que também enviei perguntas ao presidente Raúl Castro e ele não me respondeu. Não perco a esperança. Além disso, ele agora tem a vantagem de contar com as respostas de Obama.

SL - Como a senhora chegou até Obama?

YS - Transmiti as perguntas a várias pessoas que vinham me visitar e poderiam ter um contato com ele.

SL - Em sua opinião, Obama respondeu porque a senhora é uma blogueira cubana ou porque se opõe ao governo?

YS - Não creio. Obama respondeu porque fala com os cidadãos.

SL - Ele recebe milhões de solicitações a cada dia. Por que lhe respondeu, se a senhora é uma simples blogueira?

YS - Obama é próximo de minha geração, de meu modo de pensar.

SL - Mas por que a senhora? Existem milhões de blogueiros no mundo. Não acha que foi usada na guerra midiática de Washington contra Havana?

YS - Em minha opinião, ele talvez quisesse responder a alguns pontos, como a invasão de Cuba. Talvez eu tenha lhe dado a oportunidade de se manifestar sobre um tema que ele queria abordar havia muito tempo. A propaganda política nos fala constantemente de uma possível invasão de Cuba.

SL - Mas ocorreu uma, não?

YS - Quando?

SL - Em 1961. E, em 2003, Roger Noriega, subsecretário de Estado para Assuntos Interamericanos, disse que qualquer onda migratória cubana em direção aos Estados Unidos seria considerada uma ameaça à segurança nacional e exigiria uma resposta militar.

YS - É outro assunto. Voltando ao tema da entrevista, creio que ela permitiu esclarecer alguns pontos. Tenho a impressão de que há uma intenção de ambos os lados de não normalizar as relações, de não se entender. Perguntei-lhe quando encontraríamos uma solução.

SL - A seu ver, quem é responsável por este conflito entre os dois países?

YS - É difícil apontar um culpado.

SL - Neste caso específico, são os Estados Unidos que impõem sanções unilaterais a Cuba, e não o contrário.

YS - Sim, mas Cuba confiscou propriedades dos Estados Unidos.

SL - Tenho a impressão de que a senhora faz o papel de advogada de Washington.

YS - Os confiscos ocorreram.

SL - É verdade, mas foram realizados conforme o direito internacional. Cuba também confiscou propriedades da França, Espanha, Itália, Bélgica, Reino Unido, e indenizou estas nações. O único país que recusou as indenizações foram os Estados Unidos.

YS - Cuba também permitiu a instalação de bases militares em seu território e de mísseis de um império distante...

SL - ...Como os Estados Unidos instalaram bases nucleares contra a URSS na Itália e na Turquia.

YS - Os mísseis nucleares podiam alcançar os Estados Unidos.

SL - Assim como os mísseis nucleares norte-americanos podiam alcançar Cuba ou a URSS.

YS - É verdade, mas creio que houve uma escalada no confronto por parte de ambos os países.


Os cinco presos políticos cubanos e a dissidência


SL - Abordemos outro tema. Fala-se muito dos cinco presos políticos cubanos nos Estados Unidos, condenados à prisão perpétua por infiltrar grupelhos de extrema direita na Flórida envolvidos no terrorismo contra Cuba.

YS - Não é um tema que interesse à população. É propaganda política.

SL - Mas qual é seu ponto de vista a respeito?

YS - Tentarei ser o mais neutra possível. São agentes do Ministério do Interior que se infiltraram nos Estados Unidos para coletar informações. O governo de Cuba disse que eles não desempenhavam atividades de espionagem, mas sim que haviam infiltrado grupos cubanos para evitar atos terroristas. Mas o governo cubano sempre afirmou que esses grupos estavam ligados a Washington.

SL - Então os grupos radicais de exilados têm laços com o governo dos Estados Unidos.

YS - É o que diz a propaganda política.

SL - Então não é verdade.

YS - Se é verdade, significa que os cinco realizavam atividades de espionagem.

SL - Neste caso, os Estados Unidos têm de reconhecer que os grupos violentos fazem parte do governo.

YS - É verdade.

SL - A senhora acha que os Cinco devem ser libertados ou merecem a punição?

YS - Creio que valeria a pena revisar os casos, mas em um contexto político mais apaziguado. Não acho que o uso político deste caso seja bom para eles. O governo cubano midiatiza demais este assunto.

SL - Talvez por ser um assunto totalmente censurado pela imprensa ocidental.

YS - Creio que seria bom salvar essas pessoas, que são seres humanos, têm uma família, filhos. Por outro lado, contudo, também há vítimas.

SL - Mas os cinco não cometeram crimes.

YS - Não, mas forneceram informações que causaram a morte de várias pessoas.

SL - A senhora se refere aos acontecimentos de 24 de fevereiro de 1996, quando dois aviões da organização radical Brothers to the Rescue foram derrubados depois de violar várias vezes o espaço aéreo cubano e lançar convocações à rebelião.

YS - Sim.

SL - No entanto, o promotor reconheceu que era impossível provar a culpa de Gerardo Hernández neste caso.

YS - É verdade. Penso que, quando a política se intromete em assuntos de justiça, chegamos a isso.

SL - A senhora acha que se trata de um caso político?

YS - Para o governo cubano, é um caso político.

SL - E para os Estados Unidos?

YS - Penso que existe uma separação dos poderes no país, mas é possível que o ambiente político tenha influenciado os juízes e jurados. Não creio, no entanto, que se trate de um caso político dirigido por Washigton. É difícil ter uma imagem clara deste caso, pois jamais obtivemos uma informação completa a respeito. Mas a prioridade para os cubanos é a libertação dos presos políticos.


O financiamiento dos dissidentes cubanos pelos Estados Unidos


SL - Wayne S. Smith, último embaixador dos Estados Unidos em Cuba, declarou que era "ilegal e imprudente enviar dinheiro aos dissidentes cubanos". Acrescentou que "ninguém deveria dar dinheiro aos dissidentes, muito menos com o objetivo de derrubar o governo cubano".
Ele explica: "Quando os Estados Unidos declaram que seu objetivo é derrubar o governo cubano e depois afirmam que um dos meios para conseguir isso é oferecer fundos aos dissidentes cubanos, estes se encontram de fato na posição de agentes pagos por uma potência estrangeira para derrubar seu próprio governo".

YS - Creio que o financiamento da oposição pelos Estados Unidos tem sido apresentado como uma realidade, o que não é o caso. Conheço vários membros do grupo dos 75 dissidentes presos em 2003 e duvido muito dessa versão. Não tenho provas de que os 75 tenham sido presos por isso. Não acredito nas provas apresentadas nos tribunais cubanos.

SL - Não creio que seja possível ignorar esta realidade.

YS - Por quê?

SL - O próprio governo dos Estados Unidos afirma que financia a oposição interna desde 1959. Basta consultar, além dos arquivos liberados ao público, a seção 1.705 da lei Torricelli, de 1992, a seção 109 da lei Helms-Burton, de 1996, e os dois informes da Comissão de Assistência para uma Cuba Livre, de maio de 2004 e julho de 2006. Todos esses documentos revelam que o presidente dos Estados Unidos financia a oposição interna em Cuba com o objetivo de derrubar o governo de Havana.

YS: Não sei, mas...

SL - Se me permite, vou citar as leis em questão. A seção 1.705 da lei Torricelli estipula que "os Estados Unidos proporcionarão assistência às organizações não-governamentais adequadas para apoiar indivíduos e organizações que promovem uma mudança democrática não violenta em Cuba."

A seção 109 da lei Helms-Burton também é muito clara: "O presidente [dos Estados Unidos] está autorizado a proporcionar assistência e oferecer todo tipo de apoio a indivíduos e organizações não-governamentais independentes para unir os esforços a fim de construir uma democracia em Cuba".

O primeiro informe da Comissão de Assistência para uma Cuba Livre prevê a elaboração de um "sólido programa de apoio que favoreça a sociedade civil cubana". Entre as medidas previstas há um financiamento de 36 milhões de dólares para o "apoio à oposição democrática e ao fortalecimento da sociedade civil emergente".

O segundo informe da Comissão de Assistência para uma Cuba Livre prevê um orçamento de 31 milhões de dólares para financiar ainda mais a oposição interna. Além disso, está previsto para os anos seguintes um financiamento anual de pelo menos 20 milhões de dólares, com o mesmo objetivo, "até que a ditadura deixe de existir".

YS - Quem lhe disse que esse dinheiro chegou às mãos dos dissidentes?

SL - A Seção de Interesses Norte-americanos afirmou em um comunicado: "A política norte-americana, faz muito tempo, é proporcionar assistência humanitária ao povo cubano, especificamente a famílias de presos políticos. Também permitimos que as organizações privadas o façam."

YS - Bem...

SL - Inclusive a Anistia Internacional, que lembra a existência de 58 presos políticos em Cuba, reconhece que eles estão detidos "por ter recebido fundos ou materiais do governo norte-americano para realizar atividades que as autoridades consideram subversivas e prejudiciais para Cuba".

YS - Não sei se...

SL - Por outro lado, os próprios dissidentes admitem receber dinheiro dos Estados Unidos. Laura Pollán, das Damas de Branco, declarou: "Aceitamos a ajuda, o apoio, da ultradireita à esquerda, sem condições". O opositor Vladimiro Roca também confessou que a dissidência cubana é subvencionada por Washington, alegando que a ajuda financeira recebida era "total e completamente lícita". Para o dissidente René Gómez, o apoio econômico por parte dos Estados Unidos "não é algo a esconder ou de que precisemos nos envergonhar".

Inclusive a imprensa ocidental reconhece. A agência France Presse informa que "os dissidentes, por sua parte, reivindicaram e assumiram essas ajudas econômicas". A agência espanhola EFEmenciona os "opositores financiados pelos Estados Unidos". Quanto à agência de notícias britânica Reuters, "o governo norte-americano fornece abertamente um apoio financeiro federal às atividades dos dissidentes, o que Cuba considera um ato ilegal". E eu poderia multiplicar os exemplos.

YS - Tudo isso é culpa do governo cubano, que impede a prosperidade econômica de seus cidadãos, que impõe um racionamento à população. É preciso fazer fila para conseguir produtos. É necessário julgar antes o governo cubano, que levou milhares de pessoas a aceitar a ajuda estrangeira.

SL - O problema é que os dissidentes cometem um delito que a lei cubana e todos os códigos penais do mundo sancionam severamente. Ser financiado por uma potência estrangeira é um grave delito na Franca e no restante do mundo.

YS - Podemos admitir que o financiamento de uma oposição é uma prova de ingerência, mas...

SL - Mas, neste caso, as pessoas que a senhora qualifica de presos políticos não são presos políticos, pois cometeram um delito ao aceitar dinheiro dos Estados Unidos, e a justiça cubana as condenou com base nisso.

YS - Creio que este governo se intrometeu muitas vezes nos assuntos internos de outros países, financiando movimentos rebeldes e a guerrilha. Interveio em Angola e...

SL - Sim, mas se tratava de ajudar os movimentos independentistas contra o colonialismo português e o regime segregacionista da África do Sul. Quando a África do Sul invadiu a Namíbia, Cuba interveio para defender a independência deste país. Nelson Mandela agradeceu publicamente a Cuba e esta foi a razão pela qual fez sua primeira viagem a Havana, e não a Washington ou Paris.

YS - Mas muitos cubanos morreram por isso, longe de sua terra.

SL - Sim, mas foi por uma causa nobre, seja em Angola, no Congo ou na Namíbia. A batalha de Cuito Cuanavale, em 1988, permitiu que se pusesse fim ao apartheid na África do Sul. É o que diz Mandela! Não se sente orgulhosa disso?

YS - Concordo, mas, no fim das contas, incomoda-me mais a ingerência de meu país no exterior. O que faz falta é despenalizar a prosperidade.

SL - Inclusive o fato de se receber dinheiro de uma potência estrangeira?

YS - As pessoas têm de ser economicamente autônomas.


SL - Se entendo bem, a senhora preconiza a privatização de certos setores da economia.

YS - Não gosto do termo "privatizar", pois tem uma conotação pejorativa, mas colocar em mãos privadas, sim.


Conquistas sociais em Cuba?


SL - É uma questão semântica, então. Quais são, para a senhora, as conquistas sociais deste país?

YS - Cada conquista teve um custo enorme. Todas as coisas que podem parecer positivas tiveram um custo em termos de liberdade. Meu filho recebe uma educação muito doutrinária e contam-lhe uma história de Cuba que em nada corresponde à realidade. Preferiria uma educação menos ideológica para meu filho. Por outro lado, ninguém quer ser professor neste país, pois os salários são muito baixos.

SL - Concordo, mas isso não impede que Cuba seja o país com o maior número de professores por habitante do mundo, com salas de 20 alunos no máximo, o que não ocorre na França, por exemplo.

YS - Sim, mas houve um custo, e por isso a educação e a saúde não são verdadeiras conquistas para mim.

SL - Não podemos negar algo reconhecido por todas as instituições internacionais. Em relação à educação, o índice de analfabetismo é de 11,7% na América Latina e 0,2% em Cuba. O índice de escolaridade no ensino primário é de 92% na América Latina e 100% em Cuba, e no ensino secundário é de 52% e 99,7%, respectivamente. São cifras do Departamento de Educação da Unesco.

YS - Certo, mas, em 1959, embora Cuba vivesse em condições difíceis, a situação não era tão ruim. Havia uma vida intelectual florescente, um pensamento político vivo. Na verdade, a maioria das supostas conquistas atuais, apresentadas como resultados do sistema, eram inerentes a nossa idiossincrasia. Essas conquistas existiam antes.

SL - Não é verdade. Vou citar uma fonte acima de qualquer suspeita: um informe do Banco Mundial. É uma citação bastante longa, mas vale a pena.

"Cuba é internacionalmente reconhecida por seus êxitos no campo da educação e da saúde, com um serviço social que supera o da maior parte dos países em desenvolvimento e, em certos setores, comparável ao dos países desenvolvidos. Desde a Revolução cubana de 1959 e do estabelecimento de um governo comunista com partido único, o país criou um sistema de serviços sociais que garante o acesso universal à educação e à saúde, proporcionado pelo Estado. Este modelo permitiu que Cuba alcançasse uma alfabetização universal, a erradicação de certas enfermidades, o acesso geral à água potável e a salubridade pública de base, uma das taxas de mortalidade infantil mais baixas da região e uma das maiores expectativas de vida. Uma revisão dos indicadores sociais de Cuba revela uma melhora quase contínua desde 1960 até 1980. Vários índices importantes, como a expectativa de vida e a taxa de mortalidade infantil, continuaram melhorando durante a crise econômica do país nos anos 90... Atualmente, o serviço social de Cuba é um dos melhores do mundo em desenvolvimento, como documentam numerosas fontes internacionais, entre elas a Organização Mundial de Saúde, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e outras agências da ONU, e o Banco Mundial. Segundo os índices de desenvolvimento do mundo em 2002, Cuba supera amplamente a América Latina e o Caribe e outros países com renda média nos mais importantes indicadores de educação, saúde e salubridade pública."

Além disso, os números comprovam. Em 1959, a taxa de mortalidade infantil era de 60 por mil. Em 2009, era de 4,8. Trata-se da taxa mais baixa do continente americano do Terceiro Mundo; inclusive mais baixa que a dos Estados Unidos.

YS - Bom, mas...

SL - A expectativa de vida era de 58 anos antes da Revolução. Agora é de quase 80 anos, similar à de muitos países desenvolvidos. Cuba tem hoje 67.000 médicos frente aos 6.000 de 1959. Segundo o diário ingles The Guardian, Cuba tem duas vezes mais médicos que a Inglaterra para uma população quatro vezes menor.

YS - Certo, mas, em termos de liberdade de expressão, houve um recuo em relação ao governo de Batista. O regime era uma ditadura, mas havia uma liberdade de imprensa plural e aberta, programas de rádio de todas as tendências políticas.

SL - Não é verdade. A censura da imprensa também existia. Entre dezembro de 1956 e janeiro de 1959, durante a guerra contra o regime de Batista, a censura foi imposta em 630 de 759 dias. E aos opositores reservava-se um triste destino.

YS - É verdade que havia censura, intimidações e mortos ao final.

SL - Então a senhora não pode dizer que a situação era melhor com Batista, já que os opositores eram assassinados. Já não é o caso hoje. A senhora acha que a data de 1º de janeiro é uma tragédia para a história de Cuba?

YS - Não, de modo algum. Foi um processo que motivou muita esperança, mas traiu a maioria dos cubanos. Fui um momento luminosos para boa parte da população, mas puseram fim a uma ditadura e instauraram outra. Mas não sou tão negativa como alguns.


Luis Posada Carriles, a lei de Ajuste Cubano e a emigração


SL - O que acha de Luis Posada Carriles, ex-agente da CIA responsável por numerosos crimes em Cuba e a quem os Estados Unidos recusam-se a julgar?

YS - É um tema político que não interessa às pessoas. É uma cortina de fumaça.

SL - Interessa, pelo menos, aos parentes das vítimas. Qual é seu ponto de vista a respeito?

YS - Não gosto de ações violentas.

SL - Condena seus atos terroristas?

YS - Condeno todo ato de terrorismo, inclusive os cometidos atualmente no Iraque por uma suposta resistência iraquiana que mata os iraquianos.

SL - Quem mata os iraquianos? Os ataques da resistência ou os bombardeios dos Estados Unidos?

YS - Não sei.

SL - Uma palavra sobre a lei de Ajuste Cubano, que determina que todo cubano que emigra legal o ilegalmente para os Estados Unidos obtém automaticamente o status de residente permanente.

YS - É uma vantagem que os demais países não têm. Mas o fato de os cubanos emigrarem para os Estados Unidos deve-se à situação difícil aqui.

SL - Além disso, os Estados Unidos são o país mais rico do mundo. Muitos europeus também emigram para lá. A senhora reconhece que a lei de Ajuste Cubano é uma formidável ferramenta de incitação à emigração legal e ilegal?

YS - É, efetivamente, um fator de incitação.

SL - A senhora não vê isso como uma ferramenta para desestabilizar a sociedade e o governo?

YS - Neste caso, também podemos dizer que a concessão da cidadania espanhola aos descendentes de espanhóis nascidos em Cuba é um fator de desestabilização.

SL - Não tem nada a ver, pois existem razões históricas e, além disso, a Espanha aplica esta lei a todos os países da América Latina e não só a Cuba, enquanto a lei de Ajuste Cubano é única no mundo.

YS - Mas existem fortes relações. Joga-se beisebol em Cuba como nos Estados Unidos.

SL - Na República Dominicana também, mas não existe uma lei de ajuste dominicano.

YS - Existe, no entanto, uma tradição de aproximação.

SL - Então por que esta lei não foi aprovada antes da Revolução?

YS - Por que os cubanos não queriam deixar seu país. Na época, Cuba era um país de imigração, não de emigração.

SL - É absolutamente falso, já que, nos anos 50, Cuba ocupava o segundo lugar entre os países americanos em termos de emigração rumo aos Estados Unidos, imediatamente atrás do México. Cuba mandava mais emigrantes para os Estados Unidos que toda a América Central e toda a América do Sul juntas, enquanto que atualmente Cuba só ocupa o décimo lugar apesar da lei de Ajuste Cubano e das sanções econômicas.

YS - Talvez, mas não havia essa obsessão de abandonar o país.

SL - As cifras demonstram o contrário. Atualmente, repito, Cuba só ocupa o décimo lugar no continente americano em termos de fluxo migratório para os Estados Unidos. Então a obsessão da qual você me fala é mais forte en nove países do continente pelo menos.

YS - Sim, mas naquela época os cubanos iam e regressavam.


Fonte: Rebelión, reproduzido por Opera Mundi e Vermelho
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=128182&id_secao=7
Via Brasilwiki

sábado, 4 de fevereiro de 2012

UM OUTRO MUNDO É POSSIVEL


Um outro mundo
é possível.




“Ser humano é lutar pela plenitude da vida.”

            Frei Betto





De 27 de janeiro a 1o de fevereiro de 2009, a cidade de Belém, Pará, sediou a nona edição do Fórum Social Mundial. Um evento que contou com aproximadamente cem mil inscritos, provindos de mais de 160 países.

Representantes de movimentos sociais, de tradições religiosas e espirituais, ONGs, intelectuais solidários, universitários, estudantes, cidadãos do mundo. A confluência das mais variadas lutas em prol da dignidade humana.

Cem mil mentes e corações em busca de caminhos para um outro mundo possível.








Um outro mundo possível,
que comporte os sonhos da menina palestina
e da menina brasileira.








Um outro mundo possível,
onde sejam respeitados
os direitos básicos da menina africana,
da menina peruana,


... e da menina afegã.







E dentre as tantas atividades realizadas durante o Fórum Social
estavam as palestras proferidas
pelo teólogo, professor e escritor Leonardo Boff.


Num dos encontros, cujo tema era
“Diálogos com os movimentos de Juventude pelo Meio Ambiente”,
ele se reuniu especificamente com os jovens.

Estudantes, universitários, ativistas, sonhadores,
em busca de um outro mundo possível.

A enorme tenda mostrou-se pequena
para abrigar todos os interessados por ouvir as suas palavras.
Palavras de sabedoria, palavras de compaixão.




E iniciou a sua exposição, Leonardo Boff,
falando sobre a crise financeira que assola o mundo.

US$ 15 trilhões de dólares evaporados em questão de poucos dias,
levando consigo imensas corporações,
grandes bancos e tradicionais fábricas.

E deixando para trás,
em meio às frias estatísticas,
as demissões em massa, o desemprego,
a fome,o desespero, as lágrimas.

Uma crise que não assolou a periferia,
mas o coração do império.


E lembrou-nos Leonardo Boff
que as artimanhas sutis do capital procurarão se refazer.

Dirão - os economistas, as corporações transnacionais e os detentores do poder
- que o capitalismo vive de crises, e que esta é mais uma crise cíclica.

E tentarão nos empurrar mais do mesmo,
mais consumo, mais conflitos, mais individualismo...


Porém, a crise atual é terminal.
O desafio não é remediar o que não tem conserto,
mas buscar novas alternativas.




O sistema atual, regido pelo capital e pelas leis do mercado,
que, em sua natureza, é voraz, acumulador,
depredador do meio ambiente, criador de desigualdades
e sem sentido de solidariedade,
atesta a sua própria falência.




Um sistema onde
a cada quatro minutos uma pessoa perde a visão,
em decorrência da carência de vitamina A,
declara o seu próprio fracasso.

Um sistema onde
a cada cinco segundos uma criança com menos de cinco anos
morre de fome ou desnutrição
atesta a sua própria falência.

Um sistema que criou desumanos sofrimentos e gritantes desigualdades.





O sistema vigente,
que tem como pilar um individualismo avassalador,
demonstrou-se incapaz
de assegurar o bem-estar da humanidade.

Um individualismo que se revela na linguagem cotidiana:
O meu emprego, o meu salário,
a minha casa, o meu carro, a minha família...

Um sistema onde ninguém é levado a construir algo em comum,
onde a competição, o acúmulo e a ostentação predominam
em detrimento da solidariedade, da caridade e da compaixão.




Um sistema onde as crianças aprendem tão cedo
a conjugar o verbo comprar,
mas que desconhecem o que seja compartilhar.

Um sistema que incentiva o consumismo inconsequente e desenfreado,
e que tanto cultua os bens materiais.

Uma cultura que dissemina compulsão e consumismo,
que associa o produto a um conceito de felicidade.

Um sistema que desconhece o amor, a caridade e a compaixão,
e que se fez cego e surdo para o apelo do excluído, do necessitado.



O oposto do amor
não é o ódio,
mas a indiferença.

Um sistema que por longas décadas
alega não possuir recursos para promover a educação,
a saúde e para aplacar a fome mundial,
mas que tanto gasta com guerras,
conflitos e com a indústria bélica,...

..e que se mostra capaz de mobilizar em poucas horas
três trilhões de dólares
para socorrer bancos, montadoras e corretoras,
atesta seu próprio fracasso terminal.

Como foi que permitimos chegar a este ponto?
Quanto tempo ainda haverá de passar
até que resgatemos a nossa humanidade perdida?

Um punhado de farinha e água para enganar a fome,
acrescido, nos dias de sorte, de um pouco de sal.




Além da crise financeira,
nos deparamos também com a crise ambiental.

A falta de solidariedade que impera as nossas relações sociais.
E a falta de solidariedade para com a Natureza.




A ânsia pelo crescimento econômico,
aliada ao consumismo compulsivo,
resultou na dilapidação sem precedentes da Natureza.

O atual modelo econômico fracassou contra a própria humanidade
e contra o planeta.

O bem-estar de todos e a preservação da Terra
são sacrificados ao lucro de poucos.

O consumo inconsequente aumentou o desperdício,
a produção de lixo, e os impactos ambientais.


E poluímos mares e rios...




O desenvolvimento técnico-científico,
dissociado da consciência ecológica,
fez com que saqueássemos os recursos naturais
numa escala sem precedentes.

E a ruptura entre o trabalho e o cuidado
fez com que o afã desmedido de produção
se revertesse na ânsia incontida de dominação das forças da natureza.



Os limites do capitalismo são os limites da Terra.
Já encostamos nestes limites,
tanto da Terra quanto do capitalismo.


Já não mais podemos prosseguir com a perversa lógica do capital,
baseada no acúmulo e no desperdício:




“Quem não tem quer; quem tem quer mais;
quem tem mais diz que nunca é suficiente.”


A lógica do capital que tanto incentiva o supérfluo,
a ostentação e o desperdício...





Imagem de celulares descartados, quase todos em perfeitas condições de uso.

Somente nos EUA, 426.000 aparelhos são jogados fora diariamente,
trocados por modelos mais novos



E juntamente com os aparelhos vão-se embora também carregadores, baterias, acessórios...







Os atuais padrões de extração, produção e consumo,
mostraram-se insustentáveis, ...

...além da capacidade de reposição e regeneração do planeta.
A Terra está dando sinais inequívocos de que já não aguenta mais.


Sinais como a escassez de água potável,
e o aquecimento global.



Sinais como as mudanças climáticas,
que já começaram a afligir crescentes parcelas da população ao redor do planeta.


A Terra é um planeta pequeno, velho e limitado
que não suporta um projeto de exploração ilimitada.

As crises financeira, climática, energética, alimentar e outras,
- todas elas nos remetem para a crise do paradigma dominante.



Precisamos de um novo paradigma de civilização
porque o atual chegou ao seu fim e exauriu suas possibilidades.

Projeções feitas por pesquisadores e cientistas ambientais
mostram que, se o consumo continuar no ritmo atual,
em 2050 precisaremos de dois planetas Terra.
Qual o mundo que iremos deixar para as próximas gerações?...




Cultivar a solidariedade intergeracional,
para com os que virão depois de nós.


Eles também precisam satisfazer suas necessidades,
e habitar um planeta minimamente saudável.

Buscar novos valores. Alimentar novas esperanças.
Novos rumos,e novos paradigmas.




A interculturalidade,
- o diálogo entre o chamado saber ocidental
e o saber tradicional, milenar,
a cosmovisão indígena.

As tradições dos povos nativos
falam do ser humano como jardineiro.




Conforme ensinam tais tradições,
o ser humano deve cultivar a Terra
com cuidado e senso de justiça e estética.




A proteção da vitalidade,
diversidade e beleza da Terra
é nosso dever sagrado.




Devemos lançar um novo olhar sobre a realidade,
adotar um novo paradigma de relacionamento com todos os seres.




O universo caminhou 15 bilhões de anos
para produzir o planeta que habitamos,
essa admirável obra que nós, seres humanos,
recebemos como herança, para cuidar como jardineiros,
e preservar como guardiões fiéis.




Somos todos interdependentes uns dos outros,
coexistimos no mesmo cosmos e na mesma natureza.




Uma mesma Fonte alimentadora, misteriosa e inominável,
sustenta e confere vida a tudo que existe.
O mesmo Sopro permeia toda a existência.




A vida é milagre,
tão belo quanto curto,
que deve ser cultivado como as flores mais belas.




Como nunca antes na história
o destino comum nos conclama
a buscar um novo começo.






Promover a ecologia do cuidado,
que zela pelos interesses de toda a comunidade de vida.
Coexistir com respeito, cooperação e harmonia
com os demais moradores deste pequeno planeta,
- animais, vegetais, seres humanos.



A interculturalidade,
o encontro com outras tradições, outras culturas,
enriquece a nossa visão do mundo e da vida.

Ter olhos para os que são diferentes.
Ter ouvidos para a sua voz, as suas melodias, canções, histórias...

Habitamos todos uma Casa comum.
Temos uma origem comum
e, certamente, um mesmo destino comum.



As tantas flores, com suas cores e formas distintas.
Diferenças superficiais, pois a terra que as nutre e sustenta é uma.

Um único Sopro as anima, conferindo-lhes significado, sentido e vida.

O desafio do tempo presente é o de resgatar as utopias esquecidas,
reescrever o nosso sonho comum.

Um único Sopro, uma única Alma, uma mesma esperança.





E em meio à agitada rotina da vida moderna,
encontrar tempo para refletir sobre perguntas metafísicas...




Ter ouvidos para a voz que fala em nós,
que nos convoca para a prática do bem...
...e que diante de uma noite estrelada nos pergunta:

“Quem sustenta e se esconde atrás daquelas estrelas?...”




A voz que, quando diante de um recém-nascido,
com respeito e admiração pergunta:




“Quem foi que produziu esta vida?...”

“Onde é que, no olhar da criança,
começa o céu e acaba a terra?”









O texto desta apresentação se baseia em palestra proferida por Leonardo Boff durante o Fórum Social Mundial, Belém, Pará, janeiro de 2009.


Para saber mais acerca do tema, acesse: