por Laerte Braga via Blog do Gilson Sampaio
Quando o embaixador dos EUA no Brasil, à época de Médici, foi dizer ao presidente Nixon que as violações de direitos humanos em nosso País eram chocantes, Nixon respondeu que "é pena, mas não podemos fazer nada, apenas lamento, mas o presidente Medice é um bom aliado".
Nixon foi um dos mais astutos políticos da história recente dos EUA. Vice presidente de Eisenhower por oito anos foi derrotado nas eleições de 1960 por John Kennedy. Dois anos mais tarde perdeu as eleições para o governo da Califórnia e foi dado como "morto" para a política. Em 1968 numa surpreendente recuperação venceu Huber Horacio Humphreys, vice de Lyndon Johnson. Foi reeleito em 1972 e forçado a renunciar à presidência quando descobertas as gravações feitas no edifício Watergate, sede de um dos seus comitês eleitorais.
Richard Nixon foi um dos poucos políticos norte-americanos capazes de fazer frente a J. Edgard Hoover, diretor por décadas do FBI e que tinha por hábito chantagear os presidentes para se manter no cargo e intocado o seu poder. Um gravou o outro, entre outras coisas.
É autor da frase "para onde se inclinar o Brasil, se inclinará a América Latina". Disse isso definindo a importância do Brasil para os Estados Unidos. A América Latina vivia a época de ditadores dos mais variados matizes, mas todos à direita. Desde famílias como Somoza a malucos como Trujillo, passando por Pérez Jimenez na Venezuela, até chegarmos aos militares argentinos, brasileiros, chilenos, peruanos, bolivianos, uruguaios e o famigerado Alfredo Stroessner no Paraguai na América do Sul.
O Brasil continua preso às amarras do golpe militar de 1964. Os golpistas continuam impunes, nossas forças armadas continuam a celebrar o golpe em 1º de abril e os dois últimos governos ao contrário do esperado não viraram à esquerda. Lula equilibrou-se numa corda bamba de alianças as mais complicadas possíveis e Dilma não está vacilando em tomar o rumo à direita.
A América Latina, no entanto, se fez povoar de líderes à esquerda. Evo Morales na Bolívia, Rafael Corrêa no Equador, Daniel Ortega na Nicarágua, Pepe Mujica no Uruguai, com laivos nesse campo Cristina Kirschner na Argentina, Fidel e Raul Castro símbolos da liberdade nesta parte do mundo e Hugo Chávez, um tenente coronel do exército venezuelano que diante da falência plena das instituições em seu país tanto tentou chegar ao poder pela via militar, como terminou presidente e acaba de ser reeleito, pelo voto direto de seu povo.
Superou uma tentativa de golpe de estado em 2002, teve seu mandato confirmado por um referendo popular e na contramão do modelo lulista de alianças com a direita, tratou de organizar os trabalhadores em sua revolução bolivariana. Num país rico em petróleo, um dos maiores produtores no mundo, fez a reforma agrária, cuidou da saúde pública, erradicou o analfabetismo, iniciou um programa de "cidades socialistas" e voltou às costas ao capitalismo.
Apóia abertamente o governo do Irã, nacionalizou empresas estrangeiras que saqueavam a Venezuela, enfrentou Washington sem medos e se ainda hoje a América latina se inclina para onde vai o Brasil, a Venezuela é o país de maior peso na América do Sul nos dias atuais em termos de independência. De soberania.
Um câncer na pélvis está derrotando o presidente reeleito.
Neste início de ano, pela primeira vez, os venezuelanos admitem que podem perder seu líder, em estado de coma induzida num hospital em Havana, Cuba.
"Por que no te calas" disse a Chávez o decadente rei da decadente Espanha numa conferência de países ibero-americanos. Indignou-se com a ousadia do presidente da antiga colônia.
Como será a Venezuela sem Chávez na hipótese do presidente sucumbir ao câncer?
Uma eleição presidencial trinta dias caso Chávez não resista deve favorecer as chavistas, a despeito das pressões tanto das elites e mídia venezuelana (golpista por natureza, o que não faz com que seja diferente da brasileira), como dos norte-americanos empenhados em reconquistar o país, até porque a pérola da América Latina, o Brasil, já está debaixo dos braços dos norte-americanos.
E os governos de Evo Morales e Rafael Corrêa, países próximos da Venezuela diante da mais importante base militar norte-americana na América do Sul, a antiga Colômbia, hoje parte de um plano chamado Grande Colômbia, que inclui a Amazônia brasileira e se estende até o sul, desde o golpe que derrubou o presidente constitucional do Paraguai Fernando Lugo.
Durou pouco a guampada dos países latino-americanos que integram o MERCOSUL, o Brasil principalmente, em manter o Paraguai fora do bloco. Volta em abril depois de alguns meses de castigo voltado para a parede da sala de aula. "Guampada de boi manso", como dizia Getúlio Vargas.
Chávez, a despeito da rejeição de governos ligados aos EUA, é maior, bem maior que Lula na vocação libertária para seu povo, para a classe trabalhadora, mesmo existindo discordâncias quando a determinados aspectos de seu governo.
O ex-presidente brasileiro, em sua política de equilibrismo, vê na prática uma caçada implacável contra si e seus principais companheiros com a perspectiva real de cumprir pena por crimes que existem desde a compra de mais um ano de mandato para José Sarney (por sinal aliado de Lula).
Fernando Henrique não. O mais venal dos presidentes brasileiros desde o "fim" da ditadura (os torturadores ainda estão soltos, então, ainda falta acabar parte do processo) é hoje comentarista da REDE GLOBO, o principal instrumento do espetáculo midiático que reina sobre o Brasil e aliena brasileiros.
O padrão William Bonner, aquele que define o telespectador como Homer Simpson no sentido lato e no sentido estrito como idiota.
E milhões continuam ligando a tevê naquele horário.
Dos líderes sul americanos Chávez é o maior na atualidade. A perspectiva de uma Venezuela sem Chávez é uma convocação a venezuelanos e latinos para enfrentar a ameaça capitalista, a ameaça de Washington, manter intacto e aprofundar processo revolucionário naquele país.
Não se pode excluir o risco de uma intervenção militar norte-americana nas costumeiras farsas que montam para justificar barbaridades como a que acontece no Haiti (com o consentimento de Lula e Dilma), as mentiras de "manter a democracia e os direitos humanos".
Por lá existem e com Chávez. Desde o ato patriótico de Bush, Guantánamo e outras barbáries, os EUA, ao lado de Israel são um conglomerado terrorista a assombrar o mundo com a boçalidade do verdadeiro e real terrorismo.
A Venezuela e sua revolução bolivariana é de todos os latino-americanos.
breno-nix@hotmail.com
ResponderExcluir