domingo, 7 de outubro de 2012

VENEZUELA EM NUMEROS



Chavez, porque nada é perfeito.

Roubartilhado de Olhar o Mundo Via Gilson Sampaio
Em 2010, a OEA (Organização dos Estados Americanos) revelou preocupações com a liberdade de expressão, direitos humanos, autoritarismo e liberdade de imprensa na Venezuela.

A Human Rights Watch também censura “políticas discriminatórias que restringiriam a liberdade dos jornalistas.”

A Freedom House coloca a Venezuela apenas “parcialmente livre” no seu anuário “Liberdade no Mundo”, devido às ameaças à liberdade de imprensa.

Com Chavez, o poder executivo exerce demasiada influência sobre o judiciário, amparado em leis constitucionais aprovadas pelo povo em referendo.

A Venezuela ostenta os piores índices de criminalidade da América do Sul. Foram cerca de 45 assassinatos por 100 mil habitantes, em 2011.

Apesar dos vários planos de estímulo às indústrias, o país progrediu pouco nesse setor. Ainda é grande a dependência da economia nacional ao petróleo.

No “Socialismo do Século 21” do governo Chavez, foram nacionalizadas muitas empresas, sem que o estado disponha de técnicos qualificados em número suficiente.

O resultado é que, embora boa parte delas seja bem administrada, em outras, inclusive de áreas fundamentais como a siderurgia, as coisas não vão bem.

A inflação segue muito alta. Prevê-se que chegue a 31% neste ano.

A grande imprensa brasileira tem prazer especial em veicular as diatribes, os excessos verbais em que Chavez é mestre, destacando seu temperamento caudilhesco.

Todos esses fatos negativos são reais, ou parcialmente reais, mas não esboçam um quadro completo dos 14 anos do governo Chavez.

É importante também considerar o que ele fez de bom e comparar com o que era a Venezuela pré Chavez, dominada pelas forças políticas que hoje disputam a presidência com chances de vencer.

Em 1998, quando Chavez ganhou sua primeira eleição, a Venezuela era governada por partidos de direita e de centro, desinteressados pela sorte da população pobre.

Entre 1980 e 1998, a Venezuela passava por uma das piores crises econômicas, sintetizada pela redução de 14% da renda média nesse período.

Nos primeiros anos do novo governo, mais problemas agravaram a situação: o golpe militar frustrado de 2002 e a gigantesca greve do petróleo de 2002-2003, decretada pelos sindicatos.

Desde logo, Chavez operou uma reviravolta na governança do país: passou a priorizar a aplicação dos recursos públicos na promoção do bem estar social.

Assim, em Educação os investimentos passaram de 3,4% do PIB, antes do governo dele, a 5,1%. Em Saúde, foram de 1,6% a 7,7%.

As rendas do petróleo, principal riqueza do país, foram maciçamente empregadas para subsidiar um gigantesco programa de ações em favor da população pobre.

Chavez criou uma nova constituição, introduzindo grande número de novos direitos para as populações marginalizadas e reformas na estrutura do governo.

Os resultados não demoraram a chegar e tornam-se mais significativos se comparados com a realidade do país nos tempos dos governos anteriores a Chavez.

A renda per capita que, em 1999 (primeiro ano do governo Chavez), era de 4.105 dólares, passou a 10.810, em 2011.

No mesmo período, a pobreza extrema foi de 23,4% da população para apenas 8,8%.

Entre 1998, último ano do governo Caldera, o índice da pobreza, que era de 55,4%, caiu a 28%, em 2008, com Chavez.

A Venezuela é hoje o país com menor desigualdade social em toda a América Latina. O índice GINI, que mede essa área, caiu de 0,498, em 1998, para 0,394, em 2010 – uma queda sem paralelo na América Latina, segundo o Brooking Institute.

O desemprego passou de 22% , em 1998, a 7,6%, em 2009.

Uma grande rede estatal de 16.600 supermercados – a Mercal -oferece produtos com grandes descontos, sendo que 19 produtos básicos são tabelados, o que atenua em muito os efeitos da inflação nas classes mais pobres.

Em razão de todos estes fatos, o poder de compra das classes D e E aumentou 150% no governo Chavez.

No setor da saúde, o povo recebe remédios grátis. Mais de 7.000 novas clínicas prestam serviços médicos também gratuitos.

25 mil médicos cubanos atendem a domicílio a população dos bairros mais pobres.

Entre 1998 e 2006 a morte causada por má nutrição caiu 50%.

A mortalidade infantil também foi fortemente reduzida: de 20 por mil crianças para apenas 13, entre 1998 e 2009.

O analfabetismo foi completamente erradicado.

Um plano de construção de 350 mil casas populares está em execução, sendo que 272 mil já foram entregues.

No seu segundo período, Chavez lançou o “Socialismo Bolivariano”, nacionalizando uma série de empresas e tornando o estado sócio da iniciativa privada em outras.

Num esforço para diversificar a produção, Chavez está atraindo capitais chineses e fazendojoint ventures com empresas de vários países.

Medidas de estímulo à agricultura levaram a consideráveis progressos na última década.

A produção de soja cresceu 858%, a de arroz, 84% , e a de leite, 50%.

Com a crise mundial, a economia venezuelana, que crescia a uma média superior a 10% durante o período Chavez, encolheu -2,9%, em 2009.

Depois de um 2010 igualmente negativo, em 2011, iniciou-se uma rápida recuperação. E , em agosto de 2012, o índice de crescimento anualizado já era de 5,4% positivos .

A inversão do foco da economia venezuelana, das classes mais favorecidas para as mais pobres, como era natural, desagrada aos beneficiários do status quo anterior.

Por isso, a política venezuelana está extremamente polarizada entre as classes alta e média, de um lado, e a classe pobre, de outro.

De olho nos votos populares, Capriles, um elemento de direita, que apoiou o golpe militar de 2002, esconde sua filiação política.

Apresenta-se como homem de centro, favorável à integração latino-americana (é contra a amizade com o Irã).

Garante que manterá as conquistas sociais de Chavez, porém, as irá aperfeiçoar, deixando dúvidas sobre a verdadeira acepção dessa palavra.

Era o que Margareth Thatcher prometia com referência à Medicina e a Educação estatais na Inglaterra, que ela procurou solapar ao máximo.

Também diz que, embora privatizando algumas empresas nacionalizadas, não haverá despedidas, o que é uma promessa falsa; privatizações sempre acarretam despedidas, inclusive porque empresas estatais costumam ter funcionários acima do necessário.

Capriles tem a seu favor um inegável carisma, a juventude e a força do “novo”.

Depois de 14 anos com o mesmo presidente, as pessoas, inclusive as satisfeitas com ele, tendem a pelo menos pensar em mudar.

Como, aliás, aconteceu no Chile.

Apesar do alto nível de prestígio da presidente, depois de muitos anos de governo daConcertación, o povo preferiu eleger a oposição.

No entanto, acredito que, mais um a vez, Chavez deve vencer.

Contra certa afirmação capciosa de que ele foi bom para o povo, mas mal para a Venezuela, pois não aperfeiçoou as instituições públicas, me parece discutível dissociar “povo” de “Venezuela”.

O economista americano Mark Weisbrot espera que no seu próximo período, Chavez se ocupe da modernização do estado, de sua maior integração no princípio republicano dos 3 poderes independentes.

De qualquer modo, as pesquisas divergem e o resultado das eleições é incerto.

Só é certo que elas serão livres e democráticas, de acordo com Jimmy Carter, ex Presidente dos EUA, Prêmio Nobel da Paz e uma das personalidades de maior credibilidade deste planeta.

Ele declarou: “Das 92 eleições que nós monitoramos, eu diria que o processo eleitoral da Venezuela é o melhor do mundo.”

Leia também



Incerteza (papelzinho que Brizola pedia e Johnbim negou pode fazer falta)

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Via O Diário.info

Néstor Kohan

O combate na Venezuela não é apenas eleitoral. O imperialismo estado-unidense, a grande burguesia venezuelana e os seus sócios políticos estão desenvolvendo um plano extra-eleitoral destinado a sabotar o processo e/ou a não reconhecer os resultados. Planeiam desestabilizar até conseguir os mesmos objectivos intervencionistas da Líbia ou da Síria. Por isso mesmo, a solidariedade com a revolução bolivariana deve exprimir-se em todos os cenários de luta até garantir a derrota definitiva desses esforços sediciosos e o aprofundamento e desenvolvimento definitivo da passagem ao socialismo.

A direita argentina desloca-se à Venezuela para fazer força contra Chávez.

O PRO, partido liderado pelo empresário Mauricio Macri que aglutina o mais rançoso do velho videlismo [referência à ditadura militar do general Videla], empenha-se abertamente em derrubar Chávez, juntamente com todo o “novo” empresariado capitalista que promoveu o neoliberalismo dos últimos 20 anos.

¿Fazem mal? Não! Fazem muito bem. Admitem publicamente, de forma transparente, que na Venezuela se trava uma batalha internacional. A direita é nítida, definida e não se baralha. A esquerda do continente deveria fazer exactamente o mesmo em sentido oposto. Não perder o rumo nem paralisar-se perante a confusão dos detalhes ou desorientar-se face às limitações do processo bolivariano. A escolha é clara e não vale a pena assobiar para o lado. Há que apoiar Chávez e o processo bolivariano aprofundando as transformações em direcção ao socialismo.

Mas a urgência das eleições de Outubro e a necessidade imperiosa da vitória eleitoral não devem desorientar-nos. O combate na Venezuela não é apenas eleitoral. O imperialismo estado-unidense (sob o disfarce sorridente e “multicultural” do presidente Obama, tão belicista como os anteriores mandatários ianques), a grande burguesia venezuelana e os seus sócios políticos estão desenvolvendo um plano extra-eleitoral destinado a sabotar o processo e/ou a não reconhecer os resultados. Planeiam desestabilizar até conseguir os mesmos objectivos intervencionistas da Líbia ou da Síria. Por isso mesmo, a solidariedade com a revolução bolivariana deve exprimir-se em todos os cenários de luta até garantir a derrota definitiva desses esforços sediciosos e o aprofundamento e desenvolvimento definitivo da passagem ao socialismo.

Os dilemas de Outubro inscrevem-se num condensado nó geopolítico. O imperialismo e as suas burguesias servis querem varrer completamente do mapa a insolência de um militar latino-americano, mestiço e bolivariano, anti-imperialista e admirador do Che Guevara, que lhes desobedece e os desafia desde há duas décadas. Necessitam imperiosamente de recuperar a renda petroleira e “ordenar” o norte da América do Sul, arredando Chávez, neutralizando e desarmando de vez as FARC-EP e semeando o continente de novas bases militares que garantam o seu monopólio sobre os recursos naturais. Face a essa ofensiva imperial, a geopolítica bolivariana não deveria satisfazer-se com o UNASUR e a unidade institucional dos estados. A longo prazo, o que definirá a contenda será a unidade dos povos (incluindo as suas expressões sociais e insurgentes), e não apenas os pactos entre os estados. Os apertos de mão com Santos, presidente corrupto e assassino, não conterão o para-militarismo e a lumpenagem da burguesia colombiana nem garantirão uma estabilidade duradoura na região enquanto as forças armadas colombianas continuarem a manter meio milhão de soldados crioulos — dirigidos ao vivo e em directo por generais ianques e assessores israelitas — que ameaçam invadir a Venezuela se se aprofunda o caminho para o socialismo. Que continue a existir o bolivarianismo das FARC-EP como ponta de lança do movimento popular colombiano é a melhor garantia para que Venezuela não seja invadida pelos Estados Unidos por meio do vizinho exército colombiano.

A unidade continental dos povos é a chave do triunfo bolivariano à escala internacional (nenhuma revolução pode triunfar isolada, num só país). No plano nacional, em contrapartida, a luta de classes exprime-se em todos os terrenos, e não apenas no eleitoral (sem dúvida o mais visível). A garantida vitória de Chávez em Outubro não deve fazer-nos esquecer que no interior do processo bolivariano também existe conflito. Um segmento que apoia o líder histórico da revolução bolivariana, mantendo embora a retórica oficial, faz tudo o que pode (e mais ainda) para retardar ou desviar a opção socialista. Dia a dia finge “inventar” pseudo alternativas, sempre qualificadas como “populares”, “autogestionárias” e “bolivarianas”, para não aprofundar o caminho para o socialismo. Como se se pudesse caminhar para o socialismo permanecendo amigo de todo o mundo e socializando apenas as margens da sociedade (aquelas que não afectam o mercado nem interessam às grandes empresas porque não são rentáveis). Como se se pudesse construir a transição para o socialismo sem afrontar os milionários da burguesia e o empresariado.

Um dos grandes desafios para o presidente Chávez e para todo o processo bolivariano, posterior ao certo triunfo eleitoral de Outubro, consiste em apoiar-se na organização política das classes populares, exploradas e subalternas (a sua principal e mais leal força de combate) e ir encontrando formas concretas de gestão da propriedade estatal ou nacionalizada que debilitem socialmente o inimigo e fundamentem as primeiras bases económicas da transição socialista. Há que golpear e debilitar os adversários não apenas na retórica, na comunicação, nas urnas e na sensibilidade cultural (algo fundamental e imprescindível) mas também na coluna vertebral do mercado capitalista da economia venezuelana. Para vencer o tigre há que ter a coragem de lhe pôr sal na cauda. Ou se enfrenta a burguesia debilitando-a socialmente ou a burguesia acabará por devorar o processo bolivariano tal como sucedeu com a revolução sandinista em 1990. Não se pode “civilizar a burguesia” (expressão pouco feliz de Tomás Borge em 1986). ¡Há que enfrentá-la e derrotá-la!

Chávez pode fazê-lo. Sobram-lhe energia, projecto, valentia e decisão política. Inclusivamente pôs em risco a sua própria vida (recordemos o golpe de estado e a digna atitude que então assumiu, tão diferente da pusilanimidade e da cobardia da maior parte da elite política da América Latina). A sua decisão pessoal não é o único factor em jogo. A revolução bolivariana apoia-se em muitos resultados que vão para além da liderança carismática de um individuo:

* Internacionalizou a disputa política e cultural a ponto de envolver todo um continente em cada um dos combates sociais internos da Venezuela.

* Politizou completamente a sociedade: até o mais indiferente ou distraído deve hoje pronunciar-se (a favor ou contra). Ficou para trás a era do “pragmatismo eficientista” e a despolitização pós-moderna das massas populares que nos anos 90 percorreu não apenas a Venezuela mas toda a Nossa América.

* Recuperou uma concepção histórica (bolivariana) da nossa identidade popular pondo em crise o individualismo cínico do pós-modernismo que nos convidava falsamente a desconfiar das “grandes narrativas” e a viver dia a dia, pensando unicamente em consumir, sem ideais, sem historia e sem projectos colectivos.

* Relegitimou os símbolos, a cultura e a tradição política do socialismo, que constituíam um palavrão demoníaco nos anos ’90.

* Redistribuiu a renda petroleira pelos sectores populares e em projectos políticos regionais, quando antes era um espólio de guerra da burguesia venezuelana destinado ao seu consumo frívolo e sumptuário.

* Reinstalou uma opção anti-imperialista a nível regional e continental, e inclusivamente diríamos mundial, estabelecendo vínculos com muitos povos e governos do mundo (os “maus” na linguagem hollywoodense das administrações norte-americanas), desde a América Latina até a África e a Ásia.

Por tudo isso, é vital apoiar resolutamente a continuidade do projecto encarnado por Chávez ao mesmo tempo que se torna inadiável o aprofundamento da revolução bolivariana apontando para a expropriação das grandes fortunas, das grandes firmas, dos grandes bancos e das grandes empresas (nacionais e estrangeiras). Se a revolução bolivariana não caminha para o socialismo de uma vez por todas — socializando a sério as grandes empresas, nacionalizando as alavancas fundamentais da economia e estabelecendo, contra a regulação mercantil, uma planificação socialista de grande escala, mais alargada até do âmbito nacional e no sentido do regional através do ALBA—, necessariamente retrocederá e será derrotada pelos seus inimigos históricos, internos e externos.

Não será estendendo a mão ao presidente Santos, vizinho perverso, hipócrita e sinistro, nem oferecendo de novo a outra face perante as ameaças golpistas esquálidas da direita venezuelana, que conspira para atirar com o tabuleiro ao chão se não ganham as eleições, não será assim que se aprofundará a revolução. Não é hora de dar ouvidos aos mansos e aldrabões social-democratas que em nome do «realismo» aconselham sempre a moderar a caminhada — como fizeram no Chile em 1973, na Nicarágua em 1990 e por aí adiante — para terminar, invariavelmente… em derrota. Não. O comandante Chávez e a revolução bolivariana devem aproveitar esta crise mundial do capitalismo e a actual debilidade dos EUA e da Europa ocidental para carregar no acelerador. Estamos atentos, não apenas o povo venezuelano mas todos os povos do mundo. O que está em jogo nesta disputa terá sem dúvida repercussões muito mais além da terra natal de Simón Bolívar.

- La Haine, 26 de Setembro de 2012

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