segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A cadeia de alimentos está contaminada

Via Rebelion
Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti
“O veneno nosso de cada dia”, novo livro da jornalista Marie-Monique Robin, autora de “O Mundo segundo a Monsanto”

Ecoportal

“O veneno nosso de cada dia” é o título do último livro da jornalista francesa Marie-Monique Robin, que se tornou muito conhecida logo após a publicação de um estudo anterior, cujo título era “O Mundo segundo a Monsanto”, onde denunciava as manobras da multinacional, que acaba de anunciar a construção de novas fábricas na Argentina. O novo livro, que de certa forma é a continuação do anterior, declara que “a cadeia de alimentação está contaminada”, afirmação mantida pela jornalista francesa especializada em agroalimentação Marie-Monique Robin, que acaba de publicar na Espanha o livro “O veneno nosso de cada dia”, uma investigação sobre as substâncias químicas que chegam ao nosso prato.

No novo livro, essa investigadora analisa com detalhes as moléculas químicas às quais estamos expostos em nosso entorno e na nossa alimentação. Ela as analisa, segundo explica em uma entrevista à agência Efe, partindo “do mais simples e do menos discutível, como as intoxicações agudas e depois crônicas dos agricultores expostos diretamente aos pesticidas”, até chegar ao mais complexo: os efeitos em pequenas doses dos resíduos de produtos químicos que “todos temos no corpo”.

Dois anos de investigações através da Ásia, América do Norte e Europa, testemunho de especialistas, uma infinidade de relatórios de membros de agências de regulamentação alimentar e estudos científicos avalizam esse novo trabalho, no qual a jornalista sustenta que milhares de moléculas químicas invadiram nossa alimentação desde a Segunda Guerra Mundial, e que somente “uns dez por cento delas foi seriamente estudada”.

“Essa invasão química está vinculada ao desenvolvimento da sociedade de consumo, que provocou a entrada no mercado de milhares de produtos de consumo comum cuja fabricação ou transformação se baseia em alguns processos químicos cuja toxicidade está muito mal avaliada”, segundo a jornalista.

Uma crítica feita por Robin após analisar o sistema de avaliação dos produtos químicos tal como o praticam as agências de regulamentação nacionais ou européias, como a Autoridade Européia de Segurança Alimentar (EFSA), que se baseiam no princípio de Paracelso, o médico suíço do século XVI, que afirmou que somente a dose faz o veneno.

Inspirando-se nesse princípio, segundo nos conta a autora, as agências de regulamentação desenvolveram uma norma denominada “ingestão diária admissível” (IDA), que “é a dose de veneno que se supõe que podemos ingerir a cada dia sem adoecer”.

Essa IDA é “uma enganação que não protege os consumidores, mas sim os fabricantes”, segundo a autora de “O Mundo segundo a Monsanto”, um ensaio sobre essa multinacional de sementes transgênicas, à qual acusa de “praticas mafiosas”.

E como afeta essa “invasão” a nosso corpo? Para responder essa pergunta, Robin começa por explicar o que são o que os cientistas chamam de “perturbadores endócrinos”, uma classe de produtos químicos particularmente perigosos, moléculas químicas que são hormônios de síntese, ou que imitam a ação de hormônios naturais.

“Estão por toda a parte, como o bisfenol nas mamadeiras, nos recipientes de plástico duro ou nas latas de conservas, os taflatos nos plásticos macios, ou os PFOA nas frigideiras anti-aderentes (teflon), os cosméticos, os detergentes e, com certeza, os pesticidas”, segundo a especialista.

No caso dessas moléculas, segundo a jornalista, “não é a dose que faz o veneno”, mas sim o momento de exposição. “A epidemia de câncer não se deve ao envelhecimento da população. As estatísticas demonstram que a taxa de incidência aumenta em todas as faixas de idade, tanto nos jovens como nas pessoas mais velhas. Portanto, estamos diante de uma autêntica ‘epidemia’, para retomar as palavras da OMS”, segundo Robin.

Essa epidemia, segundo sua opinião, deve-se ao “meio ambiente e ao modo de vida”, como lhe explicou Christopher Wild, diretor do Centro Internacional de Pesquisas sobre o Câncer (IARC, por sua sigla em inglês), que depende da OMS.

Nos últimos 30 anos, tal como ela assinala, os índices de câncer aumentaram mais de 40%, e o crescimento de enfermidades como a leucemia e os tumores cerebrais em crianças tem sido de aproximadamente 2%. Além disso, nos países desenvolvidos, também se multiplicaram os problemas de origem neurológica (Parkinson e Alzheimer), e as disfunções no aparelho reprodutivo.

Diante dessa situação, Robin afirma que é urgente tomar mediadas para proibir esses “perturbadores endócrinos” que, além de tudo, “tem a capacidade de interagir em nossos organismos em doses extremamente baixas”, como os resíduos de agrotóxicos encontrados em alguma fruta ou verdura.

Enquanto se espera que sejam retiradas do mercado centenas de moléculas ”extremamente tóxicas, da mesma forma que muitos pesticidas”, seria necessário informar, segundo Robin, às mulheres grávidas para que evitem todos os alimentos procedentes da agricultura química ou os produtos transformados na indústria agro-alimentar, e os cosméticos não biológicos (em particular, os desodorantes).

O que podemos fazer para nos livrar dessa contaminação química? Na opinião de Robin, “incentivar uma transição generalizada para a agricultura biológica. É preciso comer produtos bio, principalmente as crianças mais pequenas”, conclui.

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