terça-feira, 9 de outubro de 2012
Turquia, o “Cavalo de Tróia” ocidental na Síria
Via Gilson Sampaio mas roubartilhado do Pensamentos Nómadas
Ataque israelita ao Mavi Marmara
No dia 31 de Maio de 2010 a força aérea israelita, de forma calculada e premeditada, atacou com helicópteros e forças especiais o navio turco Mavi Marmara que transportava ajuda humanitária para o povo palestiniano. A embarcação encontrava-se em águas internacionais e dirigia-se para Gaza, território ocupado pelo estado colonizador de Israel. Da ilegal agressão militar sobre o barco civil resultou a morte de 8 cidadãos turcos e 1 norte-americano. Face a tão escandalosa agressão e atropelamento das mais elementares regras de conduta internacional por parte de Israel, ainda mais bem documentada com vídeos e fotografias dos voluntários atacados, que reacção teve o governo turco de Erdogan? Nenhuma, exigiu timidamente desculpas e escondeu-se num buraco… No máximo foram pedidas indemnizações a titulo pessoal (por parte dos familiares das vítimas), e foram feitos ridículos julgamentos à revelia:
Israel enfrenta pedido de indemenização de milhões de dólares, devido ao ataque contra o Mavi Marmara;
18000 anos de prisão: tribunal turco condena militares israelitas pelas mortes no Mavi Marmara
Ao primeiro roquete que atravessou a fronteira turco-síria (3 de Outubro de 2012) matando 5 civis turcos, e sem qualquer tipo de confirmação ou informação minimamente consistente sobre a origem do roquete, o exército turco subserviente do Império da Guerra iniciou de imediato o bombardeamento aleatório de posições sírias, causando também, naturalmente, baixas civis. Mas eu insisto e pergunto, como pôde não reagir politica e/ou militarmente a Turquia contra Israel, com todo o caudal de provas sobre a ilegalidade e a chacina por esta cometida, e como pôde por outro lado, reagir de imediato bombardeando o povo sírio sem saber se os roquetes foram disparados intencionalmente ou não, se foram lançados pelo exército sírio ou pelos terroristas do “Exército de Libertação da Síria” patrocinados e treinados pela Turquia & Companhia. Quem sabe se não foi mesmo um acto premeditado dos “rebeldes” para desencadear uma guerra entre a Turquia e o governo legítimo da Síria? Ou ainda pior, uma verdadeira false flag operationao péssimo estilo norte-americano, um cavalo de Tróia NATOniano para legitimar a já óbvia agressão ocidental disfarçada de guerra civil armada, ou para pelo menos apalpar terreno quanto à incerteza da reacção Russa? …não, não interessam os porquês, ataca-se de imediato! Porque assim convém!
Reacção Relâmpago do Império da Guerra
Cai um roquete de fabrico russo em solo turco, proveniente da Síria, embora desconhecido (ou não) o autor do lançamento, e o mundo ocidental desdobra-se em reuniões de emergência, reacções relâmpago e decisões precipitadas. Ou não, mais uma vez, reacções demasiado velozes são sempre de desconfiar…
Se não vejamos, poucas horas depois do malfadado roquete cair na localidade de Akçakale, a NATO reuniu-se de emergência em Bruxelas, a ONU teve uma reunião de urgência do Conselho de Segurança onde foi proposta uma resolução contra a Síria prontamente vetada pela Rússia, veto esse prontamente criticado pelos porta-vozes dos regimes ocidentais (Obama, Cameron, Hollande). Entretanto o exército turco bombardeava aleatoriamente alvos sírios, matando civis. Pela manhã de dia 4 de Outubro, o parlamento turco aprovou uma desconcertante auto-permissão para passar a fronteira síria com o seu exército ao mesmo tempo que Erdogan garantia que tal decisão não era uma “declaração de guerra”, ou uma “autorização de invasão”. Ah não!?! E enquanto políticos subservientes ao Ocidente brincavam ao jogo das leis, os outros subservientes turcos (o exército), voltavam a disparar roquetes sobre a Síria. Tudo isto em menos de 24 horas!
Ou sou eu que não sei fazer contas, ou então há gente nesta lide que tem a capacidade de prever o futuro, apanhando aviões e marcando reuniões para discutir eventos ainda por acontecer ou a desenrolarem-se em simultâneo. E tomarem decisões importantíssimas como resoluções da ONU, vetos sobre resoluções da ONU ou declarações de guerras (chame-lhe Erdogan actos preventivos ou lá o que lhe apetecer) baseados em apenas 1 facto isolado explicado por zero provas, zero imagens ou vídeos dos autores, zero reivindicações e, sobretudo, zero investigações sobre o triste incidente ocorrido em Akçakale um dia antes? E entretanto, já lá vão 2 anos e 4 meses sobre o óbvio e mais que provado ataque militar israelita contra civis turcos no Mavi Marmara, ataque esse premeditado e estudado cuidadosamente pelas forças armas sionistas, e o caso na Turquia ainda está, oficialmente, “a ser investigado”!?!
Havendo vontade, não de “castigar” cegamente a Síria de Assad, mas sim de apurar a verdade, não falta é por onde começar a investigar. Bem podiam começar por este vídeo da autoria do ”Exército de Libertação da Síria”, onde se prova, pelo menos, que esse bando de terroristas tem na sua posse roquetes de fabrico russo iguais ao que foi lançado em Akçakale (Mortar 120 AE), provavelmente roubados num dos depósitos de armamento sírio conquistados pelos “rebeldes”. E sabendo tal, cai já por terra o falso argumento imediata e maquievelicamente utilizado para culpabilizar Assad: o roquete lançado em território turco era de fabrico russo, a Rússia fornece armamento à Síria, logo o exército sírio atacou a Turquia.
Parlamento turco e a busca de um confronto armado
O parlamento turco aprovou na manhã de dia 4 (meio dia depois do incidente em Akçakale) um documento permitindo ao exército atravessar fronteiras (sírias) por um prazo de um ano. Em contrapartida, o fantoche dos EUA na Turquia, o primeiro-ministro Erdogan, foi dizendo que “a Turquia não pretende declarar guerra à Síria, mas que fará tudo para proteger a sua integridade territorial, e que caso haja outro ataque semelhante àquele que matou cinco civis turcos numa aldeia na fronteira com a Síria, é possível que o exército turco avance para a Síria.”
Que eu saiba não são precisas aprovações de um parlamento turco para entrar-se (militarmente) algures, e quando alguém o faz, esse acto é por definição uma invasão militar, não essa americanizada divagação chamada de “dissuasão militar”. Entrar com tanques e tropas num outro país significa guerra, com ou sem uma declaração oficial de guerra. Aliás, o simples facto de se bombardear premeditadamente alvos noutro país, como a Turquia tem feito continuadamente nos últimos 6 dias sobre a Síria, é já de si um claríssimo acto de guerra. Em contrapartida, não se pode chamar o lançamento do roquete sobre Akçakale proveniente da Síria um acto de guerra, pois acidentes acontecem, e na falta de dados para explicar o sucedido, com culpa ou não, o governo sírio pela voz do seu primeiro-ministro prontamente pediu desculpa e enviou condolências aos familiares das vítimas, garantindo que não tiveram nem têm intenções de atacar a Turquia nem de começar um confronto militar com esta.
Luis , Almada. 04.10.2012 10:11, “O Parlamento turco vai apreciar um pedido do Governo para um eventual envio de tropas que defendam as fronteiras. (…) O Governo de Ancara diz que a “agressão” no seu território é uma ameaça grave contra a segurança nacional e solicitou a aprovação do Parlamento para a deslocação de tropas para lá das suas fronteiras. ” ???? Para lá das suas fronteiras é declaração de guerra!” (comentário no jornal Público)
Insensata é atitude turca de dia após dia, desde 3 de Outubro, bombardear um país que pediu desculpas por este acto isolado (e sem provas do culpado), pressionando a Síria para um confronto que esta não quer ter, e ameaçando a paz mundial dada a posição assumida da Rússia de defender até às últimas consequências a Síria de um ataque do mundo ocidental.
O princípio de reciprocidade militar
Nas horas seguintes ao bombardeamento proveniente da Síria, a Turquia lançou ataques de artilharia contra alvos na Síria de acordo com o princípio da reciprocidade, que dita que um país pode/deve responder a um ataque com o mesmo tipo de arma e poder de fogo utilizada pelo inimigo beligerante. A Turquia recorreu a esta desculpa para atacar a Síria, mas tampouco segue as premissas escolhidas: face a um breve “ataque” no dia 3 de Outubro, a Turquia leva já 6 dias de bombardeamentos sobre a Síria. Muito desproporcional mesmo! E depois, nesta equação faltam factores essenciais:
a já referida incerteza sobre a origem do roquete: o exército Sírio de propósito ou por acidente, o grupo terrorista “Exército de Libertação da Síria” de propósito ou por acidente, ocidentais no terreno levando a cabo uma false flag operation, etc.
a óbvia falta de tempo para investigar o sucedido antes de se ter começado ataques de retaliação; mas sobretudo, o facto da Síria encontrar-se já em guerra, não civil, mas uma guerra com o ocidente disfarçada de revolução, guerra levada a cabo pelos lacaios do ocidente: Arábia Saudita, Bahrein, Qatar e sim, a mesmíssima Turquia. Guerra patrocinada oficialmente com fundos públicos dos EUA, Reino Unido e outros. Guerra travada por mercenários equipados e treinados na Turquia. Perante todos estes factos quem já deveria ter retaliado à muito era a Síria contra a Turquia, pois à meses que a Turquia ataca indirectamente o estado sírio.
A vontade de quem manda no mundo
Doe a quem doer e soe ou não a anti-sionismo, este mundo é governado por uma elite económica dominada por sionistas, sionistas que têm interesse (louco e suicida) de desencadear um conflito na Síria, último aliado do Irão na região. Sionistas que não escondem as suas ambições expansionistas regionais. Sionistas que dirigem as principais potencias ocidentais, com ou sem bacocos porta-vozes para dar a cara (Obama, David Cameron ou François Hollande). Sionistas que não têm pudor algum de usar da tremenda inocência turca (de acreditar que estar do lado da NATO e dos EUA signifique seguro de vida eterno), empurrando-os para um conflito onde os turcos não têm nada a ganhar e tudo a perder, enquanto que Israel ganhará por ter turcos a lutar a sua causa, a sua guerra, sem em contrapartida jamais virem a defender a ingénua Turquia pião inconsciente de jogos maiores.
Senão veja-se, com as desculpas e condolências sírias enviadas, com países como o Brasil exigindo bom senso à Turquia e aos seus aliados ocidentais, com o povo turco gritando nas ruas “não à guerra” e “o povo sírio é nosso irmão”, com a Rússia ameaçando claramente a Turquia face a potenciais aventuras bélicas, por outro lado, os representantes fantoches dos EUA, França e Inglaterra começaram e continuam a pressionar a Turquia com perigosos e bélicos discursos como a urgente e pertinente necessidade da Turquia ter de se defender do horrendo ataque sírio… Discursos muitos e variados que nos mostram o óbvio: a vontade do ocidente de derrubar o regime sírio, último passo para o confronto com o Irão. Vontade e também cegueira louca, pois não olham a meios para atingir os seus fins, meios esses que podem ser um conflito armado entre a Síria e um país desenvolvido e rico e que partilha fronteiras com a União Europeia: a Turquia.
O Sangue frio de Assad e a posição Russa
Do lado sírio, pese embora a tensa e confrangedora situação de ver o seu país ser continuamente bombardeado pela Turquia desde 3 Outubro até hoje (8 de Outubro), Assad teima em manter a cabeça fria e não reage às provocações. Assad e o seu governo têm a perfeita noção da imensa devastação sofrida e das vidas sírias perdidas desde que ocidente e seus lacaios árabes invadiram o país em forma de “revolução popular”. E têm portanto a perfeita noção de que bombardear propositadamente a Turquia em reacção aos bombardeamentos turcos desencadearia uma invasão ocidental agora assumida, numa escala muito maior (veja-se Afeganistão, Iraque) e baseada no Artigo nº5 da NATO que diz que um ataque a um país membro (Turquia) significa um ataque a todos os membros (EUA, RU, França, etc).
Mais que a aniquilação da Síria, Assad sabe que um conflito aberto entre a Turquia e a Síria poderia desencadear uma guerra regional, para começar, e facilmente a 3ª Guerra Mundial, desta vez num mundo com mísseis intercontinentais e bombas nucleares. Putin sabe-o bem também, e estão nas mãos deste e não de Assad as mais importantes decisões que poderão levar a uma guerra mundial. No fatídico dia em que o roquete de fabrico russo caiu na aldeia turca, e em que o Império da Guerra prontamente redigiu uma resolução apelando à invasão da Síria, a decisão de vetar ou não o texto foi o momento mais importante do conflito até agora. Porquê? Porque se Putin tivesse deixado passar a resolução como fez com a da Líbia, estaria a dar carta branca para a anexação ocidental da Síria, mostrando ao mesmo tempo que não interferiria. A Síria ficaria entregue aos bandidos sem ninguém para defender, nem mesmo o Irão, pois o desejo de controlar a Síria mais não é que o passo final para o confronto entre o agressor ocidente e o Irão que teima em não se subjugar. Portanto, se o Irão entrasse no conflito em apoio à Síria, apenas estaria a encurtar o dito passo rumo à invasão ocidental do insubmisso Irão.
Ao vetar prontamente o documento, e ameaçar ainda o mundo ocidental quanto às certas consequências (para todos) de uma possível invasão da Síria, Putin mostrou ao mundo onde demarcou a sua linha vermelha (não na Líbia mas sim na Síria). A Síria é a linha vermelha que não pode ser ultrapassada sobre pena da Rússia reagir militarmente e accionar aquilo que de certo não desejam: uma guerra mundial. A bola agora está do lado ocidental, desistir de conquistar directamente ou indirectamente a Síria, acabar com o envio de dinheiro, equipamento e mercenários para o “Exército de Libertação da Síria”, deixar as forças armadas sírias reconquistar o pouco que falta do seu território temporariamente controlado pelos terroristas do tal exército de libertação, e compreenderem que o mundo não pode ser todo deles. E sobretudo, que não poderão invadir o Irão! A Rússia não o permitirá, a China não fala mas pensa o mesmo, o Irão atacado ou não, devastado ou não, limpará então Israel do mapa, qual demoníaca profecia, e depois, há mais mundo por aí: por exemplo, uma América Latina em peso, socialista ou comunista, que espera à décadas para virar o feitiço contra o feiticeiroIanque…
Erdogan e o povo turco
Luis , Almada. 04.10.2012 10:31, As condolências do governo sírio à Turquia, depois da morte de cinco cidadãos turcos em Akçakale não chegaram. A artilharia turca continua a disparar sobre objectivos no lado sírio, perto do posto fronteiriço de Tal al Abyad, objecto dos combates que transbordaram para o lado turco. Isto parece-me ser mais uma bravata do que uma escalada. Não é do interesse da Síria uma guerra contra a Turquia. Precisamente por isso apesar das suas provocações continuadas, a Síria não escalou. O que quer Erdogan? Sem dúvida jogar a carta nacionalista. Fará mais do que disparar contra uma posição simbólica do Exército sírio? Duvido. Eles não sabem como acabaria uma guerra com a Síria e têm já problemas demasiados com o PKK curdo. (comentário no jornal Público)
Erdogan, primeiro ministro turco, não hesitou desde o primeiro minuto em seguir as ordens do seus mestres sionistas e norte-americanos, bombardeando prontamente e até ao dia de hoje aleatórias posições sírias. O parlamento aprovou aquela farsada autorização para invadir outrem, as televisões nacionais não cessam de propagandear o medo e o sentimento patriota, mas ainda assim, na Turquia, terra de gente muito boa e hospitaleira mas extremamente nacionalista (dada a história recente de colossais perdas territoriais), parece reinar por enquanto o bom senso. Todos os dias desde que o roquete caiu na aldeia turca, o povo turco tem massivamente protestado nas ruas do país contra uma invasão da Síria. Os cartazes falam de “não à guerra”, “o povo sírio é nosso irmão”, “fora com os terroristas da NATO”, etc. Mas não é só a lucidez do povo turco que está em jogo, o qual percebe que a Síria é vítima e não agressor nesta história absurda. Está em jogo outro vital factor que poderá trazer à rua em protestos anti-guerra mesmo aqueles que criticam a Síria de Assad e que condenam o “ataque” sírio em Akçakale: o factor guerra. Toda a gente neste mundo com acesso a TV e internet já percebeu que onde há conflito aberto envolvendo a NATO no Médio Oriente, existe sempre destruição para todos os lados, propagam-se organizações terroristas e ataques à bomba por todo lado, reina o caos e o horror. A Turquia é um pais moderno, industrializado e rico. Um conflito aberto, mesmo que resulte numa vitória formal do ocidente e a morte por decapitação de Assad na Síria, fará a Turquia mergulhar num ambiente similar ao iraquiano, fará o país voltar à era medieval, e ninguém, com bom senso, deseja tal coisa assim próprio e aos seus…
Ninguém não, Erdogan está aí como excepção para confirmar a regra. Ainda ontem, para todo a nação ouvir, proferiu este espantoso discurso Bushiano, completamente imbuído nas lógicas do medo e do não-patriotismo como forma de pressão psicológica: “Vocês [turcos] têm que estar preparados a todo momento para partir para a guerra, se for necessário. Se não estão prontos para isso, vocês não são um estado, se vocês não está prontos para isso, não são uma nação”! Cartada nacionalista que espero sinceramente não vir a funcionar…
Luís Garcia, Hédé, France, 08.10.2012
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