quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O ETANOL E O BRASIL

POR  Mauro Santayana
“Finalmente, e esta é uma decisão inadiável, o Brasil precisa democratizar a produção de álcool, para que ela deixe de ser um negócio exclusivo de grandes usineiros e de multinacionais. Há anos circulam no Congresso, sem nenhum resultado, projetos voltados para a criação de um Programa Nacional de Microdestilarias”.



Repercutiu, esta semana, na imprensa internacional, a notícia de que o Governo brasileiro estaria preparando um plano de contingência para assegurar o abastecimento de combustíveis no fim do ano, quando aumenta o consumo de etanol e gasolina. Esse é um fato que, se confirmado, nos serve de alerta de como o aumento de consumo de combustíveis no Brasil, sem o crescimento da produção, pode afetar a economia e agravar a vulnerabilidade do país no futuro próximo.

Passamos décadas sem investir em novas refinarias, e as planejadas e construídas, a partir do governo Lula, ainda levarão alguns anos para entrar em operação.

Por outro lado, a frota de automóveis vem crescendo a ritmo chinês, devido à melhoria das condições de renda e de crédito. O consumo de gasolina se elevou aos 30 bilhões de litros neste ano.

Mas os nossos carros não são quase todos eles flex-fuel ? Então por que não produzir mais etanol para movê-los ?

Permitiu-se a desnacionalização do setor que, hoje, não tem o mesmo compromisso com o país e prefere produzir açúcar para exportação. Tivemos também problemas climáticos e de financiamento para o plantio de cana. Muitas usinas deixaram de funcionar ou são subutilizadas por falta de matéria-prima.

Isso, em um país que vai gastar mais de 15 bilhões de dólares com a importação de combustíveis neste ano e está enfrentado uma queda de 30% no superávit comercial com relação ao ano passado. E teve saldo cambial negativo de 3,823 bilhões de dólares em outubro – situação que já ocorre pelo terceiro mês seguido.

Temos o pré-sal e ele é uma grande conquista. Mas não nos esqueçamos do outro pré-sal, o do etanol, que precisa ser urgentemente reativado – e não apenas no chamado agronegócio - para gerar milhares de emprego.

O que é mais barato, investir em reais aqui dentro, para produzir cana e etanol, mesmo que com algum prejuízo, ou pagar em dólares, lá fora pela gasolina estrangeira?

Finalmente, e esta é uma decisão inadiável, o Brasil precisa democratizar a produção de álcool, para que ela deixe de ser um negócio exclusivo de grandes usineiros e de multinacionais. Há anos circulam no Congresso, sem nenhum resultado, projetos voltados para a criação de um Programa Nacional de Microdestilarias.

Existem linhas de crédito, mas é preciso mais. A exemplo do Minha Casa, Minha Vida, ou do programa de cisternas do semiárido nordestino, o governo precisa incentivar e mobilizar a população, envolvendo-a em uma grande campanha nacional, para que cada cidade pequena, por meio da agricultura familiar, associações e cooperativas, se torne auto-suficiente e possa fabricar e comercializar livremente seu combustível verde. O Proálcool, tal como o projetou o grande mineiro Aureliano Chaves, previa a disseminação de pequenas e médias destilarias em todo o Brasil – além das grandes – de forma não só a produzir, mas também economizar a energia gasta no transporte dos combustíveis.

Nota do bloguezinho mequetrefe

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Um comentário:

  1. O absurdo na questão é a falta de uma política industrial na época do Farol de Alexandria, eis que estas grandes usinas, a maioria delas agora nas mãos de multinacionais, foram todas elas (ou a vasta maioria) financiadas a juros subsidiados pelo BNDES, com grande carência e longo prazo para pagamento, sem que se tenha exigido contrapartidas preservando o interesse nacional, como por exemplo, percentagem mínima de produção de etanol, não importa o preço do açúcar no mercado externo... Deixaram os grupos econômicos completamente à vontade, raposas livres leves e soltas dentro do galineiro, para que decidissem eles mesmos o que produzir e quando produzir...

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