Via Rebelion Pascual Serrano Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti Mundo Obrero
Um pingar de notícias e dados pode nos ajudar a vislumbrar a bancarrota econômica da qual a Europa se aproxima e na qual estão submersos países como Grécia, Portugal, Espanha e Itália.
Em Portugal, os jovens estão migrando para suas ex-colônias na África e para o Brasil. Nos primeiros quatro meses de 2012, 85 portugueses por dia deram baixa no Instituto do Desemprego para emigrar, segundo dados desse centro. No total, 10.200 pessoas anularam seus pedidos de emprego, mais do que o dobro que em 2008. Outros nem se incomodam em passar pelos escritórios de emprego, das universidades vão direto para o aeroporto. Segundo dados do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, em 2011 emigraram entre 120 e 150 mil portugueses, cifras que ficam próximas às maiores ondas de imigração nos anos sessenta e setenta. Seu destino: Moçambique, Angola ou Brasil (Eldiário.es, 17.10.2012).
Outra cifra eloqüente é a saída de imigrantes que chegaram à Europa em busca de melhores condições de vida. Nos últimos cinco anos, 1,2 milhões voltaram da Espanha para seu país de origem, segundo Diego López de Lera, professor da Universidade de La Coruña (Efe, 07.10.2012). 72% dos emigrantes equatorianos na Espanha deseja voltar para seu país neste mesmo ano ou, o mais tardar, em 2013, segundo revelam os dados do Governo do Equador, que colocou em andamento uma série de projetos com o objetivo de facilitar seu retorno ao país(Huffington Post, 24.10.2012)
Na Grécia, diante da alta descontrolada dos preços da comida, o governo vai permitir a venda de alimentos vencidos a um preço inferior ao original (El Mundo, 15.10.2012). Até agora, essa redução de preços era permitida em alguns países quando a data de vencimento estava próxima, e parece que com a crise, os governos declararam que os alimentos podem ser consumidos mesmo que vencidos. O pessoal grego da área de saúde também deu o alarme sobre o aumento do número de cidadãos que acorrem aos hospitais fingindo estar doentes, quando na realidade o que precisam é alimentar-se. “Pessoas vêm pedir um prato de comida. Fingem que tem um problema de saúde, e pedem comida”, afirma o presidente da Associação de Médicos do Hospital de Salônica, Jristos Papasteriyu. A situação afeta também os menores no país, que com freqüência apresentam sintomas de desnutrição e não estão vacinados. Segundo o presidente da Associação dos Médicos de Hospitais da Grécia, Dimitris Varnavas, “30% das crianças estão sem vacinação, conseqüentemente foi rompida a barreira do contágio das doenças infecciosas, e torna-se fácil a irrupção de epidemias” (Rússia Today, 10.09.2012). Na Grécia, 27,7% da população vive na pobreza (El Mundo, 05.05.2012), o salário mínimo diminuiu uns 22% (perto de 32% para os menores de 25 anos) (El País,03.03.2012).
Na Espanha, são 21,1 % da população que vivem abaixo da linha da pobreza neste ano, e o mais grave é que o grupo social que não está piorando é justamente o que não está condenado a diminuir, os pensionistas com mais de 65 anos. A taxa de pobreza diminui entre os maiores de 65 anos e aumenta entre as pessoas em idade de trabalhar, entre 16 e 64 anos (Eldiario.es, 22.10.2012). O último estudo do Observatório Social da Espanha (OSE), detectou que a pobreza infantil disparou perto de 45% desde o início da crise em 2007, o que provocou novos cenários de pobreza relacionados com a subnutrição, a falta de escolarização e as dificuldades de acesso à saúde. (Europa Press, 20.11.2012). Até alguns anos atrás, associava-se os anciãos ao setor da população que estava obrigado a viver em condições econômicas mais precárias, mas agora os responsáveis pelas casas de repouso para anciões tem assinalado que, de um par de anos para cá, está se detectando que há unidades familiares que retiram aos mais idosos desses asilos da terceira idade para levar a vida adiante com o valor da suas aposentadorias(Málaga Hoy,13.08.2012).
A precariedade na Espanha atinge de forma dramática a alimentação. A Cáritas informou, neste verão que passou, que cerca de 17% dos galegos depende de auxílios de caridade para comer(ABC, 23.07.2012). Em alguns refeitórios públicos da Catalunha, é preciso esperar 23 dias para obter um lugar na mesa. Em outro refeitório de Sevilha, atendem 150 pessoas por dia, e não dão conta, por que muitas ficam sem seu prato. Refeitórios de Madri que atendiam 100 pessoas há três anos, hoje atendem 400(Teinteresa.es,23.04.2012). Em 19 de novembro passado, segunda-feira, um empresário assaltou uma agência bancária com o objetivo de ir para a prisão, já que se sentia afogado pelas dívidas e pela sua situação pessoal(Europa.press,21.11.2012).
Mas fiquem tranqüilos. Nem todas as cifras são negativas para todos. Quatro filhos de Emilio Botin, presidente executivo do Banco Santander, receberam de seu pai 26 milhões de ações do grupo, avaliadas em 147 milhões de euros(El País, 19.11.2012).
Pascual Serrano é jornalista. Seu último livro é: “Contra la neutralidad. Tras los pasos de John Reed, Ryzard Kapuścińsky, Edgar Snow, Rodolfo Walsh y Robert Capa" . Editorial Península. Barcelona
www.pascualserrano.net
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