sábado, 10 de novembro de 2012
A Venezuela que a mídia esconde
Por Altamiro Borges
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) acaba de confirmar que a Venezuela cumpriu com a meta principal dos Objetivos do Milênio da ONU antes do prazo estabelecido de 2015. O país reduziu pela metade o número de pessoas em pobreza extrema. Segundo o estado intitulado “Estado da insegurança alimentar no mundo", divulgado no final de outubro, o percentual de venezuelanos subnutridos hoje é inferior a 5%. Em 1992, a subnutrição vitimava 13,5% dos habitantes da nação vizinha.
Segundo o embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arvelaiz, “essa conquista é um dos principais resultados da implantação das ‘missões sociais’ levadas a cabo pelo governo bolivariano na área de alimentação, agricultura e erradicação da fome”. Em 2000, os 198 países membros da ONU acordaram os “Objetivos do Milênio” para superar a miséria e agora a Venezuela é reconhecida como um dos primeiros países a cumprir as metas. Em 2005, a ONU também elegeu o país como “território livre do analfabetismo”.
É evidente que esta notícia não será destaque na mídia colonizada do Brasil. Até hoje, ela não engoliu a reeleição de Hugo Chávez em outubro passado e não tolera as conquistas da revolução bolivariana. Ela só publica factoides contra a Venezuela e dá destaque para as ações da oposição golpista do país vizinho. Em recente artigo publicado na Folha, o embaixador Maximilien Arvelaiz até criticou de maneira corajosa as manipulações da imprensa nativa. O seu alerta, porém, não serviu para muita coisa. Mas vale reproduzi-lo:
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Conheçam a Venezuela
Maximilien Arvelaiz – FSP, 21/10/2012
Quando amanheceu o dia 8 de outubro, os venezuelanos puderam se sentir orgulhosos. Nosso sistema eleitoral, automatizado e seguro, foi respeitado por governo e oposição, acompanhado por entidades e personalidades internacionais e considerado o melhor do mundo pelo ex-presidente americano Jimmy Carter.
Nossa população, numa demonstração de consciência e politização, compareceu em massa às urnas desde a madrugada até que votasse a última pessoa na fila, já de noite. Alcançamos mais de 80% de participação do eleitorado em um país onde o voto não é obrigatório. Não se pode ignorar: a Venezuela é exemplo de democracia para o mundo.
Diante de tudo isso, constrange a forma com que os meios de comunicação internacionais, dentre os quais os brasileiros têm relevância, custam a enxergar a existência de uma democracia consolidada na Venezuela.
Seja por puro desconhecimento da realidade do nosso país, seja em união a uma campanha internacional contra os avanços da revolução bolivariana, a mídia privada brasileira fez uma cobertura desequilibrada do processo eleitoral no país.
É claro que utilizo aqui o recurso da generalização. Mas, numa leitura rápida das notícias, salta aos olhos o apoio deliberado da mídia pela oposição e a tentativa sistemática de deslegitimar o processo revolucionário em curso na Venezuela.
Grande parte das reportagens e editoriais priorizou ressaltar as críticas ao governo Chávez, deu exagerada importância a uma minoria de pesquisas que apontavam o empate ou a vitória de Henrique Capriles e ainda alardeou um caos político que viria da não aceitação do resultado das urnas por parte do governo, supostamente, "ditatorial" de Chávez.
Ainda mais graves foram as teses que tentavam buscar explicações para os mais de 8 milhões de votos a favor da reeleição de Hugo Chávez, como se não fosse nada menos do que natural a vitória do candidato que proporcionou uma série de mudanças positivas na vida dos venezuelanos, tendo reduzido à metade a pobreza extrema nos últimos 13 anos.
O favoritismo de Chávez foi creditado primeiro a um "populismo" do presidente "caudilho" e depois ao suposto uso da máquina pública e abuso de tempo de propaganda televisa. Tal análise, elitista e preconceituosa, pressupõe que a população, passiva e despolitizada, troca votos por casas, comidas e eletrodomésticos --o que é facilmente desconstruído com uma visita ao país.
Mais do que comparecer às urnas toda vez sempre (entre eleições e referendos, já aconteceram 16 pleitos desde que Chávez chegou ao poder), os venezuelanos, incentivados pelo presidente Chávez, constroem a cada dia mecanismos de participação direta na vida política do país.
O mais importante deles são os Consejos Comunales, microgovernos construídos no interior das comunidades, compostos e geridos por moradores. Se há um povo despolitizado e passivo, não é o nosso.
A liberdade de expressão, imprescindível na democracia, também é facilmente constatável. Os principais jornais da Venezuela hoje, o "El Nacional", o "El Universal" e o "Últimas Noticias", são claramente simpáticos à oposição e circulam sem qualquer censura ou boicote. Quadro similar se dá na TV e no rádio.
O que não foi divulgado em quase nenhum meio de comunicação internacional é que Capriles, cuja família é dona de uma cadeia de comunicação, teve, segundo estudo do Centro de Análise e Estudos Estratégicos Aluvión, mais tempo de propaganda eleitoral na televisão privada do que Hugo Chávez. A propaganda do presidente ocupou apenas 12% do tempo nos meios privados. A do candidato da oposição, 88%.
Vencer o desconhecimento sobre o que ocorre na Venezuela é hoje nosso maior desafio. Por isso, transmito o convite feito pelo presidente Hugo Chávez em coletiva de imprensa aos meios de comunicação nacionais e internacionais logo depois de votar: "Aos que queiram ver uma democracia pujante, sólida e madura, venham à Venezuela". Torço para que venham livres de preconceitos e dispostos a enxergar as verdadeiras razões pelas quais Hugo Chávez foi reeleito com 55,25% dos votos.
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