Técnica desenvolvida com a ajuda de professores da UnB mostra locais de maior consumo da droga. Pesquisa de estudantes da universidade vai ampliar projeto, identificando a origem da substância que entra no Brasil
por Juliana Braga - Da Secretaria de Comunicação da UnB
A Polícia Federal incorporou novo método de investigação no combate às drogas com ajuda de professores da várias universidades, entre elas a UnB. Por meio de resíduos coletados no esgoto, os agentes conseguem localizar pontos de consumo e produção de cocaína. O projeto, chamado Quantox (Quantitativo de Analitos Tóxicos), foi desenvolvido pelo Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas, do qual fazem parte empresas da iniciativa privada, universidades e a Polícia Federal. Pesquisa de estudantes da UnB dará continuidade ao projeto, identificando de onde vem a droga que entra no Brasil.
Por meio de estudos em laboratório, os pesquisadores do Quantox conseguiram identificar padrões de concentração de duas substâncias: a própria cocaína e o benzoilecgonina. É possível diferenciar onde a cocaína foi consumida ou produzida e a quantidade, comparando amostras do esgoto com o padrão identificado.
“O usuário acredita que não deixa vestígios depois que consome a droga. Mas o corpo excreta parte da cocaína e também a substância que é produto da metabolização da droga, chamada de benzoilecgonina, que pode ser encontrada na urina e no esgoto”, explica o professor da UnB Fernando Sodré, que participou do Quantox e era da Unicamp na época em que o projeto começou a ser desenvolvido. A cocaína, quando é encontrada no esgoto, também pode indicar atividade de refino da droga. Ao lavar os equipamentos ou descartar sobras do processo na pia ou privada, os traficantes permitem que doses de cocaína também sejam encontradas no esgoto.
Os pesquisadores descobriram que em áreas onde a droga é consumida, a proporção entre benzoilecgonina e cocaína pura é de quatro partes para uma. Concentrações maiores de cocaína pura podem indicar que há, na região, laboratório de produção ou refino.
APREENSÕES - O primeiro rastreamento feito pela Polícia Federal identificou que são consumidos anualmente duas toneladas de cocaína no Distrito Federal. Quantidade que representa sete doses diárias por habitante. O maior consumo foi registrado em Samambaia, responsável por 35% da amostra analisada.
Segundo o perito criminal da Polícia Federal Adriano Maldaner, esse dado dá referência para a polícia balizar suas estratégias e saber se as apreensões estão sendo eficientes. Em 2009, por exemplo, foram apreendidos 350kg de cocaína. “Queremos ampliar o projeto e conseguir identificar até a rua onde os resíduos são despejados”, detalha Maldaner. Os primeiros dados foram coletados na entrada das estações de tratamento de esgoto. Para conseguir restringir o campo de atuação, seriam necessários mais pontos de coleta de amostra.
POSSIBILIDADES – Outros projetos estão sendo desenvolvidos para complementar o Quantox. A professora do Instituto de Química Fernanda Vasconcelos orienta trabalhos de mestrado que estão sendo desenvolvidos em parceria com a Polícia Federal. Um deles, que faz parte do projeto da PF chamado Perfil Químico (Pequi), irá otimizar a metodologia de identificação de substâncias encontradas em menor quantidade na cocaína, a exemplo dos diluentes usados no refino do entorpecente. Como cada país usa diluentes diferentes, a Polícia poderá identificar de onde vem a droga que entra no Brasil.
Maldaner ressalta que o Quantox servirá não só para o trabalho da polícia. “Ele dará informações para estruturar políticas públicas de saúde e educação, por exemplo. As possibilidades são infinitas”, destaca. Segundo ele, o projeto é um modelo de parceria bem sucedida entre as universidades, o poder público e a sociedade.
Fonte: Universidade de Brasilia
http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=3706
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