Via Rebelion
IPS
Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti
O Japão procura desesperadamente lugar para armazenar dezenas de milhares de toneladas de água altamente contaminada, usada para esfriar os reatores acidentados da Central Nuclear de Fukushima Daiichi.
Umas 200 mil toneladas de água radioativa, suficientes para encher mais de 50 piscinas olímpicas, estão sendo armazenadas em tanques gigantes construídos ao redor da central agora fechada.
A corporação privada Tokyo Electric Power Company (TEPCO), responsável pela central, cortou várias árvores para dar lugar a mais tanques, e prognosticou que a quantidade de água mais do que triplicará nos próximos três anos.
“É uma questão preocupante, por que o armazenamento de água tem seus limites, há um espaço limitado”, disse o gerente japonês de tratamento de águas, Yuichi Okamura, em entrevista exclusiva com a agência de notícias AP.
Jogar enormes quantidades de água para esfriar os reatores foi a única forma de evitar uma catástrofe ainda maior, depois que aqueles foram afetados pelo terremoto e tsunami em 11 de março de 2011.
Okamura lembra como desesperadamente procurou formas de desviar a água às piscinas de combustível usado localizadas no piso mais alto da central, a 50 metros de altura.
Sem água, o combustível usado provavelmente teria superaquecido e derretido, ocasionando nuvens de fumaça radioativa com vários quilômetros de alcance, e possivelmente afetando a milhões de pessoas.
Contudo, as medidas tomadas para manter a central sob controle causaram outra dor de cabeça para a companhia responsável: O que fazer com toda a água radioativa que se escoou dos reatores danificados e que foi recolhida nos porões da central e das instalações próximas?
“Na época, nunca esperávamos que água altamente contaminada fosse parar na sala das turbinas”, admitiu Okamura”.
O funcionário foi encarregado da criação de um sistema de tratamento que limpasse a água para que ela pudesse ser usada como refrigerante, além de reduzir os riscos para a saúde dos trabalhadores e os danos ambientais.
No início, a companhia desviou a água para os tanques de armazenamento já existentes próximos aos reatores.
Água contaminada
A equipe de Okamura, de 55 membros, trabalhou rapidamente para instalar uma unidadede tratamento em poucos meses, sendo esse um projeto que normalmente demora dois anos, indicou.
Com esse equipamento, a Tepco pôde fazer circular a água reprocessada novamente pelos núcleos dos reatores.
Apesar de que hoje eles estejam sendo refrigerados unicamente com água reciclada, o volume total de água radioativa continua crescendo, principalmente devido às rachaduras existentes nos reatores e nos porões da sala de turbinas, permitindo que os recursos hídricos subterrâneos sejam contaminados.
No próximo mês, o grupo de Okamura pretende ativar um novo equipamento purificador, utilizando tecnologia da empresa Toshiba Corp.
“Usando o sistema ALPS, teoricamente todos os produtos radioativos podem ser purificados até localizarem-se abaixo do nível de detecção”, assinalou. Mas, enquanto isso, os tanques continuam enchendo.
Masashi Goto, engenheiro nuclear e conferencista universitário, alertou que a água contaminada significa uma grande ameaça a longo prazo para a saúde e o meio-ambiente.
Ele disse estar especialmente preocupado, por que a água radioativa nos porões estaria infiltrando-se no sistema hídrico subterrâneo, por cujos canais poderia chegar muito mais longe e possivelmente alcançar o oceano ou o fornecimento público de água.
“Há piscinas com umas 10 ou 20 mil toneladas de água contaminada em cada usina, e há muitas dessas. Transladar tudo para um só local significaria tratar centenas de milhares de toneladas de água, o que em si é uma loucura”, disse Goto.
“É uma quantidade escandalosa, realmente escandalosa”, acrescentou. A usina terá que lidar com a água contaminada até que todo o combustível derretido e outros escombros sejam removidos, processo que facilmente levará mais de uma década.
* Publicado de acordo com Al Jazeera
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