sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Cuidado com os Comunistas: estatais chinesas vão comprar tudo
Cuidado: estatais chinesas vão comprar tudo
25 de julho de 2009 | 0h 00
Alberto Tamer - O Estadao de S.Paulo
A China vai às compras e o Brasil deve ficar alerta. Isso pode parecer notícia velha, mas não é. Quem anunciou oficialmente essa nova política, na segunda-feira, foi o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, em encontro com diplomatas, em Pequim. "Devemos implementar a nossa estratégia de ir para fora e combinar a utilização das reservas externas com a ida para o exterior das nossas empresas", afirmou ele. Esse "ir para fora", ao qual Wen se refere, é a implementação de uma estratégia que já vem sendo executada pelos grandes grupos, como PetroChina, Chinalco, China Telecom e Banco da China, de investir no exterior.
MAIS BENS E MENOS DÓLARES
O governo já havia criado um fundo de US$ 200 bilhões para financiar essas operações, mas considera pouco, por dois motivos. Primeiro, desse total, US$ 143 milhões já foram usados nos dois últimos anos. E, segundo, as reservas, que chegaram a US$ 2,1 trilhões, criam problemas de dependência do dólar (70% são nessa moeda). O país não pode se desfazer muito dos títulos e outros ativos para não pressionar ainda mais a desvalorização do dólar - e o valor de suas reservas.
GRANDES ESTOQUES TAMBÉM
Ao mesmo tempo, o governo está usando as reservas para fazer grandes compras de matéria-prima e aumentar ainda mais seus estoques. Oportunidade, com os preços baixos. Ataca, assim, o ponto mais fraco da sua economia, a dependência do exterior por petróleo, minerais e alimentos. Vai produzir lá fora o que não tem ou não consegue no país. Ou seja, em vez de estocar mais dólares, prefere estocar petróleo, minérios e alimentos. Os chineses querem garantir o abastecimento interno e aumentar sua influência no mercado mundial.
WALL STREET, NÃO
E no mercado financeiro? Não, afirma o presidente do Banco de Desenvolvimento da China, Chen Yuan. "Eu penso que não deveríamos ir para Wall Street, mas para lugares com reservas naturais e energia."
ESTAMOS SENDO INGÊNUOS
E o Brasil nisso? É hora de atrair investimentos, sim, mas acima de tudo se precaver contra a agressividade industrial chinesa. Sempre querem muito em troca. O professor emérito da Fundação Getúlio Vargas e da Business School São Paulo Wolfgang Schoeps alerta para a política industrial chinesa, que afeta também o Brasil. "Há muitos anos, a China pratica uma política de desenvolvimento industrial com a transferência de tecnologia e na qual, ingenuamente (?), a Embraer acreditou."
E Shoeps explica a manobra chinesa: "A China estimula e paga a transferência tecnológica com a mudança da manufatura para o seu país, inclusive com participação societária na implantação de novos empreendimentos. Mas, depois de conseguir seu objetivo, ela mesma cria uma nova empresa competidora nessa mesma atividade e "mata" aquela da qual era sócia. É um preço do investimento com o qual ela arca conscientemente. Internacionalmente, essa política já era conhecida há muitos anos".
Já caímos nisso? Sim. "A Embraer acreditou em montar uma planta em Harbin, passou tecnologia, agora teve encomendas para 50 ERJ 145 canceladas e é provável que terá de fechar suas portas lá. Ou ficar apenas com os serviços de manutenção. Hoje, a China está implantando a própria manufatura de aviões dessa categoria e anuncia que pretende ser o 3º maior fabricante mundial. É outro exemplo dessa concorrência, que afeta países como Brasil. Nem tudo é ouro."
TÉCNICOS? SÓ POR 3 ANOS
Mas não fica só aí a esperteza chinesa. Eles se apropriam também de informação e conhecimento. Como? "A China tem uma lei de imigração para o pessoal técnico estrangeiro. Eles podem ficar até 3 anos na função. Depois, devem regressar ao país de origem. Se a empresa estrangeira necessita repor a posição de seu técnico, isso deve ser feito com outra pessoa. A razão é que o primeiro técnico teve tempo suficiente para transmitir conhecimento ao pessoal chinês. Então, espera-se que o novo elemento traga novos conhecimentos. É informação com fonte da Siemens alemã", acrescenta Schoeps.
TEM MAIS, TEM MAIS
"O Brasil é hoje um parceiro comercial preferencial da China e assim tem taxas aduaneiras reduzidas. Os excedentes de produção da China, em virtude da atual recessão e consequente redução do comércio mundial, são agora oferecidos a preços menores, pois subsídios cruzados são comuns entre empresas estatais e, assim, resultam num dumping de preços. Para a China, porém, essa é uma alternativa muito melhor do que a de fechar fábricas, pois resulta em conquistar maior participação em certos mercados. No caso brasileiro, esse efeito está sendo sentido em diversos setores, como calçados, confecções, tecidos e outros", diz Schoeps.
E, como exemplo, a venda de calçados para a Argentina, onde o Brasil teve uma sensível redução, enquanto aumentaram as importações da China. O mesmo se dá com os eletrodomésticos. "É o problema das exportações do Brasil para terceiros países onde a presença chinesa é forte."
Esses últimos fatos já são conhecidos, mesmo assim continuamos aumentando nossas vendas para a China, mas, atenção, a grande parte é de matérias-primas e alguns itens de alimentos, como soja. Enquanto mais de 70% das exportações chinesas para o Brasil são de produtos industriais.
Com a nova agressividade chinesa, impulsionada pelos US$ 2,1 trilhões de reservas, vamos acabar sendo prejudicados. A "nossa festa" do mercado chinês pode ficar menos alegre.
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