quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sinal verde para Israel atacar a Síria.

 do Olhar o Mundo por Luiz Eça
Ninguém duvida que o bombardeio da base militar de Damasco foi cometido pela força aérea israelense.

Acusado, o governo de Israel não disse nem sim, nem não. Como quem fala, consente, é fácil adivinhar a resposta. De qualquer modo o Ministro Ehud Barak insinuou claramente que seu país foi o responsável pela ação.

A uncia dúvida é que se o alvo foi um centro de pesquisas militares, onde talvez, apenas talvez, se estocasse armas químicas, ou um comboio de caminhões estacionado no local, carregado com baterias de mísseis anti- aéreos, destinados ao Hisbolá.

Aparentemente, Israel confirmou a primeira hipótese.

Seja lá como for, o que não deixa de ser condenável.

Bombardear um país usando aviões sem identificação não passa de terrorismo de estado.

Sem contar que a Convenção de Genebra e as leis internacionais condenam ataques militares a um país com quem não se está em guerra.

Mas Israel não dá a menor atenção a esse tipo de coisas.

Segundo sua doutrina de segurança, o país está perpetuamente ameaçada pelos vizinhos islâmicos hostis e tem obrigação de preventivamente agir pela força para evitar o perigo.

No caso, o possível uso pelo governo Assad de suas armas químicas e bacteriológicas contra os israelenses.

Só que Assad cansou-se de dizer que só lançaria mão delas para atingir tropas de potências estrangeiras que invadissem seu país. Para o que desse e viesse, conservaria todas elas ,não as entregando a ninguém, nem mesmo ao aliado Hisbolá.

Se, porém, caíssem nas mãos dos rebeldes, eles não teriam interesse nenhum em provocar guerra contra Israel, no momento em que precisam de todos os seus recursos para enfrentar as forças de Assad.

E o Hisbolá não seria louco de usar armas de destruição em massa contra Israel, sabendo que sofreriam a mais terrível retaliação.

Não se pode comparar Assad com Ahmadinejad ou Saddam Hussein, ambos punidos pelo Ocidente por supostamente desenvolverem programas nucleares militares.

Afinal, Assad não ameaçou Israel de destruição.

E não está sozinho na posse de armas químicas e bacteriológicas.

EUA, China, Rússia, Reino Unido, Japão, Iraque, Índia e África doSul também tem. E em grande quantidade.

Ninguém aprovaria o bombardeio desses países para destruir seus estoques.

A Rússia, por exemplo, condenou duramente a atitude de Israel, salientando o desrespeito às leis internacionais e aos princípios da ONU.

Recep Erdogan, primeiro- ministro da Túrquia – aliás, país inimigo da Síria- declarou que Israel tornou-se um “estado do terror.”

E a Arábia Saudita, talvez a maior fornecedora de armas para as forças anti-Assad, criticou o ataque contra os sírios, por ela chamado de “flagrante violação”.

E os Estados Unidos, terra do direito e da justiça?

Autoridades militares afirmaram que o alvo dos aviões de Telaviv foram baterias de mísseis anti- aereos, que seriam levados ao Hisbolá pelos caminhões da base síria.

E Obama advertiu Assad para não transferir armas que desabilitariam a região.

Aqui há dois pontos a analisar.

O presidente americano passou por cima da ação israelense, ignorando sua ilegalidade. Dizem mesmo os analistas que ele deu sinal verde para Netanyahu.

Sua tácita aprovação ao bombardeio faz supor que esse fato foi de fato real.

Em segundo lugar, noto que Obama limitou-se a falar duro com a vítima, Assad, como se ele fosse culpado pelas bombas lançadas sobre seu país.

No tortuoso raciocínio de Obama, seria isso mesmo, tanto que o presidente americano alertou que não desse armas ao Hisbolá que “desestabilizariam” a região.

Sucede que se tratava de artilharia anti- aérea, armas defensivas, portanto, cujo objetivo era simplesmente proteger o Líbano (país do Hisbolá) contra bombardeios.

Parece que, para Obama e Israel, o Hisbolá não tem o direito de se possuir mísseis anti- aéreos para que os aviões israelenses possam bombardear o Líbano sossegados, sem riscos.

Parecido com um episódio que aconteceu pouco antes de começar a 2ª Guerra Mundial.

Os checos haviam fortificado suas fronteiras com a Alemanha temendo uma invasão.

Nas negociações de paz com a Inglaterra e a França, Hitler,fez como Obama, exigiu que o governo de Praga desmontasse todas as fortificações de defesa.

Amedrontados os checos cederam e Hitler, com o sinal verde dos ingleses e franceses, aproveitou-se para invadir e conquistar sem luta a então Checoslováquia.

Voltando à Síria, alguns analistas dizem que a aprovação de Obama estendeu-se a algo mais do que o bombardeio da base de Damasco.

Também contaria com suas bênçãos um estudo do alto comando israelense que objetiva não apenas promover mais bombardeios, como também invadir e ocupar uma “zona de segurança”com 10 quilômetros de profundidade.

Isso para evitar que sobrasse para Israel disparos de mísseis ou canhões vindos por engano da luta no território sírio.

Ideia estranha. Não lembro de haver um precedente histórico pelo menos nos últimos , digamos, 70 anos.

Se fosse aceitável, todos os outros países limítrofes com a Síria – Turquia, Iraque, Jordânia e Líbano –teriam direito à mesma concessão territorial, às custas da integridade da Síria.

Na verdade, Israel já tem sua “zona de segurança” com as dimensões propostas: as colinas de Golan, conquistadas na guerra de1967.

Nesse território, Israel anunciou a instalação de um aparato militar, que lá permaneceria, provisoriamente, até se celebrar um acordo formal de paz com a Síria.

Mas, o governo de Telaviv fez mais do que isso:construiu assentamentos para 20 mil israelenses e está colonizando a região.

Parece que não está satisfeito, quer duplicar o território sírio “provisoriamente”anexado através desta zona de segurança.

As informações sobre os planos de ataque e de expansão de Israel na Síria, com apoio de Obama, ainda precisam ser confirmadas para serem aceitas como fatos.

No entanto, poucas dúvidas existem sobre a aprovação americana ao bombardeio ilegal (e mesmo criminoso) da base militar em Damasco executado por aviões israelenses.

Outro sinal verde também foi dado.

Ao deixar de condenar a ação, a ONU liberou Israel, de fato, para continuar desafiando as leis internacionais.

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