Via Arnóbio Rocha
Clássico do American Way of Life – Photo by Margaret Bourke-White
Dos muitos post-scriptum do Crise 2.0, que ainda estou a elaborar, este é uma provocação, já no título. A razão fundamental do artigo esta justamente na centralidade e guia da Economia Mundial exercida pelos EUA . O Império não acabou, está de pé, imenso, poderoso e, muito provavelmente, será o condutor principal da nova retomada do Capital na sua sanha de se reconstruir no meio da sua terceira crise paradigmática (1873-1891, 1929-1939 e 2005- ?). A data precisa não há, mas há sintomas da retomada.
A “América” ou o “Sonho Americano” de que tanto se arvoram como sendo seus, o povo dos EUA, como se nós também não fôssemos América, ou México, sofreu um forte abalo desde o início desta imensa crise, dali se cortou o eixo central da propaganda ideológica e mágica do país mais forte de todos os tempos. O American Way Life de que tanto se cantou em versos e prosas, das portentosas imagens do cinema, o maior veículo cultural e político produzido pelo ESTADO, agora se quebrou.
Aquilo que no pós-guerra e durante a “guerra fria” era apresentado como o modelo de vida dos EUA, que serviria como realidade a ser alcançada pelo mundo ocidental, em contraposição ao leste e cuja síntese era representada por uma fabulosa classe média e de trabalhadores qualificados bem pagos, que tinha acesso a uma significativa parte do consumo, antes reservado apenas a ínfima parcela dos grandes capitalistas. Vista no cinema e televisão com seus carrões e belas casas, os filhos nas universidades, um padrão de vida, que aparentemente quebrava a distância entre os muito ricos e os mais pobres, além de servir de alento de que era possível “chegar lá”.
Já no primeiro grande abalo da nova economia saída da guerra, nos anos 70, este sonho vai mudando e cujo estereótipo passa a ser, ainda nos anos 80 a geração Yuppie, os velhos hippies incorporados ao sistema. Esta “segunda” geração desfruta de um ambiente cada vez mais perverso e pervertido pelo “Novo Estado” de Paul Volcker, que se costuma atribuir a Reagan-Tatcher, esquecendo quem formulava a política e novos donos do FED/Tesouro Americado, o Goldman Sachs, o poder dos banqueiros, das fortunas virtuais, principalmente das hipotecas.
Robert Reich, ex-secretário do Trabalho dos EUA do Governo Clinton e professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, no documentário Inequality for All(Desigualdade para Todos), sem fazer uma mea-culpa, afinal o governo que ele participou amplificou a perversão especulativa, liberando-a ao extremo, via Larry Summers e Alan Greenspan, a ampla liberdade de alavancagem sem lastro. Reich traz importantes informações deste período e comparações fatais, segundo ele, em 1978, um trabalhador típico dos EUA, recebia 48 mil dólares anuais, enquanto alto gerente recebia cerca de 393 mil dólares anuais. Porém, em 2010, o trabalhador médio teve seus salários reduzidos a 33 mil dólares anuais, enquanto o burocrata(alguns deles o protótipo Yuppies) recebe mais que o dobro, aproximadamente 1,1 milhão de dólares anuais.
Mas, o tal “Sonho Americano”, terá, efetivamente, o maior abalo a partir de 2005, com a queda do preço dos imóveis a cadeia de cartas das hipotecas, que fazia com que uma família média dos EUA recebesse 108 mil dólares anuais tivesse redução em 2011 para algo em torno de 61 mil dólares, o mecanismo de usar as hipotecas para financiar o consumo amplo, o que realizava o talsonho, virou o pesadelo destes últimos 6 anos. A riqueza se concentrou como nunca, é uma dinâmica que vem dos anos 80, mas que se aprofundou no governo Clinton e explodiu com Bush II e no Obama I. O patrimônio de 400 mais ricos, nos EUA, é maior do que de 155 milhões de trabalhadores somados.
O ESTADO, tão vilipendiado pelo “Velhos e Novos Liberais”, mais uma vez, serviu de salvaguarda aos banqueiros e grandes empresas, entre 2005 e 2009 a dívida pública pulou de 83% para 99% do PIB, com a imensa injeção pública de dinheiro para ajuda aos bilionários, cujo clube, teve um aumento de 31 novos sócios entre 2008 e 2010, um escândalo, pois na outra ponta houve um acréscimo de 6 milhões de desempregados, além do aumento dos beneficiários dos Food Stamps (uma espécie de Bolsa Família) que pulou de 28 milhões para 42 milhões entre 2006 e 2011. O Desemprego estrutural de 4,9% em 2005, que era seu menor patamar, chegou aos 9,2% em Agosto de 2011. Mesmo com a redução do último ano e meio, teima em não baixar dos 8,2%. O novo patamar de desemprego estrutural passou de 5% para 6,9%, esta é a meta de Obama II e do FED.
A pergunta que não quer calar: Qual o American Way of Life, Hoje? Acima citei as intensas transformações a readequação da vida dos trabalhadores e da classe média americana é a mais dura realidade do país, no mesmo documentário, de Reich, ele afirma categoricamente que a fabulosa classe média está em extinção, era nela que o sonho e modelo “americano” era espelho, como ficará agora? No meu diário de viagem e nas minhas conversas com outros viajantes e locais, falarei sobre o que vi em 2009 e agora em 2013, é surpreendente.
Breve continuaremos…ah, Hollywood também já se adequou ao desastre, inclusive nos filmes.
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