Operários de Tarsila do Amaral (1886 – 1973). Integrou junto com Oswald de Andrade o movimento antropofágico, que tinha como princípio devorar a produção artística e cultural européia e ressignificá-la ao modo brasileiro. O quadro Operários foi pintado em um momento em que Tarsila esteve ligada politicamente ao comunismo. No início dos anos 30 Tarsila esteve na União Soviética e participou de reuniões do Partido Comunista Brasileiro. Nesta época, a política e a temática do trabalho fizeram-se presentes em duas de suas obras: Operários e Segunda Classe (1933).
Ambas as telas ilustram o momento politico e social brasileiro do início dos anos 30: industrialização, migração de trabalhadores, consolidação do capitalismo industrial e de uma classe de trabalhadores marginalizada e explorada.
Temas relevantes
O país passa no início dos anos 30 por profundas mudanças políticas, econômicas e sociais. O Brasil deixa neste momento de ser um país meramente agro-exportador, dominado politicamente por sua aristocracia rural, e consolida gradualmente seu projeto de industrialização. Os recursos naturais, os investimentos públicos e privados e o trabalho são organizados para atender a este processo, transformando significativamente a vida nas metrópoles. São construídas fábricas às centenas, e milhares de migrantes se deslocam do interior do país rumo as cidades industrializadas, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro.
O governo de Getúlio Vargas assume o compromisso na época de garantir a consolidação do projeto industrial brasileiro, construindo gradualmente as condições para a o crescimento de um capitalismo de caráter nacionalista.
Aumenta significativamente a classe de operários urbanos, que trabalham nas fábricas em péssimas condições. A exploração do trabalho e a falta de perspectiva dos trabalhadores faz com que aumentem o número de greves e lutas por direitos. Isso exige do governo a criação de uma política de constante repressão aos seus movimentos organizados e de ataque a grupos de orientação socialista ou anarquista.
No decorrer da década de 30, os sindicatos passam a ser controlados pelo governo, os partidos de esquerda caem na ilegalidade e centenas de militantes socialistas, comnistas e anarquistas que lutavam por melhorias trabalhistas e respeito são presos, mortos ou exilados.
Na mesma década o governo regulamenta as leis trabalhistas, organizando a produção capitalista e ajudando a conter a insatisfação dos trabalhadores, expostos a situações de trabalho em geral degradantes.
O quadro de Tarsila do Amaral é um retrato do conjunto de operários das fábricas brasileiras. Os rostos sobrepostos remetem à massificação do trabalho e às condições de vidas nas cidades. Estão representadas diversas etnias, fazendo referência à migração de diferentes locais do Brasil e do mundo para as metrópoles. A expressão dos operários representados é de tristeza, indiferença, cansaço. Representam as péssimas condições de trabalho a que estão submetidos, e a falta de perspectivas que predomina no contexto de opressão da chamada “Era Vargas”. O quadro, juntamente com “Segunda Classe”, é uma expressão do crescimento capitalista no Brasil e do preço pago pelos trabalhadores para que seu êxito fosse garantido.
Ficha técnica:
Nome da Obra: Operários E Segunda Classe
Autora: Tarsila do Amaral
Técnica: Oléo Tela
Ano: 1933
Estou preparando uma conferência para a Academia Colombiana de História e, precisando de algo sugestivo para ilustrar um dos temas que vou desenvolver - minha dissertação de mestrado sobre o movimento operário brasileiro dos anos 30 - pensei em Tarsila do Amaral e encontrei o que queria, graças ao seu post.
ResponderExcluirMuito obrigado!
Jaime de Almeida
UnB
Fico muito feliz em poder te ajudar Jaime
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