Por sugestão da amiga navegante Marilia, o
Conversa Afiada republica editorial do
Brasil de Fato:
A aliança da revista Veja com o
crime organizado rendeu denúncias que reverteram em ganhos econômicos
para a organização criminosa de Carlinhos Cachoeira e seus aliados
políticos
Editorial da edição 480 do Brasil de Fato
A Operação Monte Carlo,
desencadeada pela Policia Federal (PF) para desbaratar a quadrilha
comandada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, já é merecedora de um
mérito: publicizou o conluio de setores da grande mídia com o crime
organizado para alcançar objetivos econômicos e políticos.
As investigações da PF, com
informações documentadas e já amplamente divulgadas, atestam que o
bicheiro utilizava a revista Veja, do grupo Abril, para disseminar
perseguições políticas, promover suas atividades econômicas ilegais,
chantagear, corromper e arregimentar agentes públicos. A revista se
prestava a esse esquema de coação e chantagem do bicheiro.
Em troca, a revista da família
Civita recebia do contraventor informações, gravações e materiais – na
maioria das vezes obtidas de formas criminosas – que alimentavam as
páginas da publicação, para destilar seu ódio e preconceito contra seus
adversários políticos, principalmente os do campo do PT.
A aliança da revista Veja com o
crime organizado rendeu denúncias que reverteram em ganhos econômicos
para a organização criminosa de Carlinhos Cachoeira e seus aliados
políticos – os contratos da construtora Delta com governos estaduais
precisam ser profundamente investigados – e se constituíram em
instrumento de pressão e amedrontamento de autoridades públicas. Dessa
forma, consolidaram um esquema criminoso, milionário, com ramificações
privadas e públicas, nas três esferas da República.
O conluio, mais do que reportagens jornalísticas, rendia conspirações políticas e econômicas.
O acinte à democracia do país
alcançou ao nível de planejar a desestabilização e queda do presidente
Lula e da presidenta Dilma Rousseff. Enquanto Carlinhos Cachoeira e o
senador Demóstenes (ex-Dem) gargalhavam por fogo no país, a revista
projetava o senador como o prócer da moralidade pública, com
perspectivas de vir a ser candidato à presidência da República. Era o
crime organizado, com a participação do Grupo Abril, tramando
desestabilizar governos e tomar conta da máquina estatal.
No entanto, a revista Veja era
pequena e insignificante para os objetivos que o conluio se propunha
alcançar. Precisava de ajuda. Os telejornais da Rede Globo se prestaram a
dar a ajudava de que necessitavam. Com sua peculiar e esculachada
crítica, o jornalista Paulo Henrique Amorim sintetiza a mútua ajuda que
se estabeleceu: “o Jornal Nacional não tem produção própria. A revista
Veja não tem repercussão nacional. O crime organizado se organiza na
Veja e se expande no Jornal Nacional”. Em um jornalismo sem ética, sem
compromisso com a verdade e interesses públicos, que se dane a verdade
factual. O que interessa, para esse tipo de jornalismo, é a versão dos
fatos que atendam aos interesses dos que mantém o monopólio da
informação.
Sempre que é questionada por
praticar esse tipo de jornalismo, a mídia se defende afirmando que tem a
capacidade de se autorregulamentar. O conluio Veja-crime organizado
sepultou essa tese. Até esse momento impera o silencio da mídia burguesa
sobre os vínculos da revista com a organização criminosa do bicheiro.
O jornalista Jânio de Freitas,
um dos mais renomados colunistas da Folha, fez uma detalhada radiografia
da organização montada pelo contraventor e suas extensas ramificações.
Não disse uma única palavra das suas ramificações com a mídia. Mais do
que escreveu, a sabuja lacuna do seu artigo evidenciou o medo que impera
entre o patronato da grande mídia e a capacidade desse lamaçal engolir,
inclusive, jornalistas decentes.
Ao pacto de não noticiar a
promiscuidade do grupo Abril com o crime organizado juntam-se, agora que
a CPMI está instalada, os esforços para evitar que os que se
beneficiaram com a organização criminosa do Carlinhos Cachoeira sejam
convocados a dar explicações no Congresso Nacional e para sociedade.
O deputado federal Miro
Teixeira (PDT/RJ) articula um pretexto jurídico para impedir a
convocação de jornalistas e proprietários das empresas de comunicação
envolvidas nas atividades criminosas do bicheiro.
Um dos mais altos executivos do
grupo Abril já perambulou pelos corredores e gabinetes do Congresso
numa tentativa de evitar que seu patrão, Robert Civita, tenha que
prestar esclarecimentos na CPMI. A Globo, fato noticiado, enviou um
mensageiro para informar (ou seria ameaçar?) o Palácio do Planalto: se o
empresário Robert Civita for convocado pela CPMI, os meios de
comunicação declaram uma guerra sem limites contra o governo.
É de lamentar que a Rede Globo
não tenha a coragem de publicar essa posição política nos editoriais dos
seus jornais e divulgá-la em seus telejornais.
Caso os parlamentares da CPMI
se rendam às pressões dos grupos empresariais da mídia, estarão sendo
coniventes com práticas criminosas e institucionalizado duas categorias
de cidadãos nesse país: os que podem ser convocados para depor numa CPMI
e os que não devem ser convocados.
Há um enorme volume de
informações e provas que atestam que setores da mídia estão envolvidos
com atividades de organizações criminosas e que atentaram contra a
democracia do nosso país. É inadmissível que os que participaram
ativamente na organização criminosa, e dela se beneficiaram, não sentem
no banco dos réus alegando, unicamente, a condição de serem patrões.
O Congresso Nacional instalou,
atendendo os anseios da sociedade, uma CPMI para investigar as
atividades do crime organizado com suas ramificações na mídia e nas três
esferas da estrutura do Estado. Os parlamentares que compõe essa CPMI
tem a responsabilidade de não frustrar a sociedade, apurar os fatos com
profundidade e criar as condições para que seus responsáveis prestem
contas à justiça, além de legar ao país uma legislação que, ao menos,
iniba essa prática de jornalismo associado com o crime organizado. A Lei
dos Meios de Comunicação é cada vez mais necessária e inadiável.
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