sexta-feira, 1 de julho de 2011

Somos todos deuses?


por MARIVALTON RISSATTO - quinta, 30 junho 2011, 20:08


A biblia sempre falou da existência de vários deuses como por exemplo o deus Baal.
Em diversos lugares ela fala sobre este deus que para os sumérios e acádios era conhecido por Sin o deus da lua. A bíblia também fala em Asterath que próprio rei Salomão prestou-lhe culto (II Reis 23:13 / I Reis 11:15) Esta deusa era a mesma que Inanna na mitologia suméria, Ishtar na mitologia acádia e Isis na mitologia Egípcia e Astarte na mitologia grega (a grande rainha dos céus) como a chamou Jeremias (44:19), cujo o templo que se pensava inexistente que vem referenciado em I Samuel 31:10 foi encontrado muito recentemente nas ruínas da Ekrom dos filisteus.
Lembram da Jezebel? Sim? (I Reis 18:19) Ela e os 400 sacerdotes, que não seriam mais que empregados desta deusa… Então e o deus Chamoesh que era irmão de Asterath (Juízes 11:24) que era o mesmo que Shamash para os Acádios e Utu para os sumérios? Então e o Merodach (Marduk para os acádios) em Jeremias 50:2?
Mas o mais interessante é o que podemos ver em SALMO 82, vejamos:
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"1 DEUS está na congregação dos poderosos; julga no meio dos deuses.
2 Até quando julgareis injustamente, e aceitareis as pessoas dos ímpios? (Selá.)
3 Fazei justiça ao pobre e ao órfão; justificai o aflito e o necessitado.
4 Livrai o pobre e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios.
5 Eles não conhecem, nem entendem; andam em trevas; todos os fundamentos da terra vacilam.
6 Eu disse: Vós sois deuses, e todos vós 
filhos do Altíssimo.
7 Todavia morrereis como homens, e caireis como qualquer dos príncipes.
8 Levanta-te, ó Deus, julga a terra, pois tu possuis todas as nações.
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Apesar do Salmo propor que os homens são divinos (assim como os anjos). E não, que a natureza é Deus (panteísmo) como diria Spinosa, pois para Spinosa  nós viemos da natureza, fomos formados à partir dela, e quem poderia formar seres divinos se não algo tão divino o quanto?
Isso me lembra Satre, pois segundo a sua fenomenologia e o seu existencialismo, Sartre diz que o mundo é povoado de seres Em-si. Podemos entender um Em-si como qualquer objeto existente no mundo e que possui uma essência definida. Uma caneta, por exemplo, é um objeto criado para suprir uma necessidade: a escrita. Para criá-lo, parte-se de uma ideia que é concretizada, e o objeto construído enquadra-se nessa essência prévia.

Um ser Em-si não tem potencialidades nem consciência de si ou do mundo. Ele apenas é. Os objetos do mundo apresentam-se à consciência humana através das suas manifestações físicas (fenômenos). Assim a consciência humana para Sartre é um tipo diferente de ser, por possuir conhecimento a seu próprio respeito e a respeito do mundo. É uma forma diferente de ser, chamada Para-si.

É o Para-si que faz as relações temporais e funcionais entre os seres Em-si, e ao fazer isso, constrói um sentido para o mundo em que vive.

O Para-si não tem uma essência definida. Ele não é resultado de uma ideia pré-existente. O existencialismo sartriano desconsidera a existência de um criador que tenha predeterminado a essência e os fins de cada pessoa. É preciso que o Para-si exista, e durante essa existência ele define, a cada momento o que é sua essência. Cada pessoa só tem como essência imutável, aquilo que já viveu. Posso saber que o que fui se definiu por algumas características ou qualidades, bem como pelos atos que já realizei, mas tenho a liberdade de mudar minha vida deste momento em diante. Nada me compete a manter esta essência, que só é conhecida em retrospecto. Podemos afirmar que meu ser passado é um Em-si, possui uma essência conhecida, mas essa essência não é predeterminada. Ela só existe no passado. Por isso se diz no existencialismo que "a existência precede e governa a essência". Por esta mesma razão cada Para-si tem a liberdade de fazer de si o que quiser.
Sartre defende que o homem é livre e responsável por tudo que está à sua volta. Somos inteiramente responsáveis por nosso passado, nosso presente e nosso futuro. Em Sartre, temos a ideia de liberdade como uma pena, por assim dizer. "O homem está condenado a ser livre". Se, como Nietzsche afirmava, já não havia a existência de um Deus que pudesse justificar os acontecimentos, a ideia de destino, passava a ser inconcebível, sendo então o homem o único responsável por seus atos e escolhas. Para Sartre, nossas escolhas são direcionadas por aquilo que nos aparenta ser o bem, mais especificamente por um engajamento naquilo que aparenta ser o bem e assim tendo consciência de si mesmo. Em outras palavras, para o autor, o homem é um ser que "projeta tornar-se Deus".
Segundo o comentário de Artur Polônio, "se a vida não tem, à partida, um sentido determinado […], não podemos evitar criar o sentido de nossa própria vida". Assim, "a vida nos obriga a escolher entre vários caminhos possíveis [mas] nada nos obriga a escolher uma coisa ou outra". Assim, dentro dessa perspectiva, recorrer a uma suposta ordem divina representa apenas uma incapacidade de arcar com as próprias responsabilidades.
Sartre não nega por completo o determinismo, mas determina o ser humano através da liberdade, não somos, afinal, livres para não ser livres. Afinal de contas, não é Deus, nem a natureza, tampouco a sociedade que nos define, que define o que somos por completo ou nossa conduta. Somos o que queremos ser, o que escolhemos ser; e sempre poderemos mudar o que somos. o quem irá definir. Os valores morais não são limites para a liberdade.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
  • COHEN-SOLAL, Annie. Sartre: uma Biografia. Tradução de Milton Persson. 2.ed. Porto Alegre: L&PM Editores, 2008. 
  • __________. Sartre. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM Editores, 2005. 
  • LÉVY, Bernard-Henri. O Século de Sartre. Tradução de Jorge Bastos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 2001. 
  • MARILENA Chaui, "Espinoza, uma filosofia da liberdade", São Paulo, Moderna, 1995.
  • MARILENA Chaui, "A Nervura do real. Imanência e liberdade em Espinoza", São Paulo, Cia. das Letras, 1999.
  • MOUTINHO, Luiz Damon Santos. Sartre: Existencialismo e Liberdade (Coleção Logos). São Paulo: Moderna, 1996. I
  • NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. São Paulo: Hemus, 1981. p. 343.
  • PLANT, Raymond. Politics, Theology and History. Port Chester, NY: Cambridge University Press, 2001. p. 246.
  • ROWLEY, Hazel. Tête-à-Tête: Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre (tradução de Adalgisa Campos da Silva) - Rio de Janeiro: Objetiva, 2006. 
  • SARTRE, Jean-Paul. As Palavras. Tradução de J. Guinsburg. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. 
  •   __________. Crítica da Razão Dialética. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2002.
  •  __________. O Existencialismo É um Humanismo. Apud Os Pensadores. Vol. XLV. São Paulo: Abril Cultural. p. 09-28.
  •  VISKER, Rudi. "Was Existentialism Truly a Humanism?" Sartre Studies International 13.1 (June 2007): 3(13). Academic OneFile. Gale. CAPES. 1.2008.

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Texto de autoria de:
Marivalton Rissatto, para a comunidade do Okut CdB
Quem quiser e se interessar por mais estudos biblicos (pelo olhar cético e ateu) convido para fazerem parte da minha comunidade no Okut.
Comunidade CdB - Contradições da Biblia
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