quarta-feira, 4 de abril de 2012

CARRO A AR COMPRIMIDO: POR QUE NÃO?


Carro a ar comprimido? Nem pensar, o deslocamento de poder seria muito grande.




O automóvel e o ar comprimido



Meus senhores, então é assim: pouco tempo para escrever, portanto aproveito para satisfazer um pedido do Nobre Saraiva, que há alguns tempos atrás perguntou "Então, os carros que se mexem com ar comprimido, eh?".

Porque Saraiva tinha razão: os carros que andam com ar comprimido existem mesmo.

Inventado há mais de 10 anos, tal meio de transporte conseguiu obter a homologação só nos últimos tempos. Os inventores, a família francesa Negré, afirma ter sido obstaculizados e desacreditados, além de não ter recebido algum tipo de financiamento.

Agora os Negré apresentam uma inteira gama, com a marca MDI, que vala pena observar.

AirPOD

Carro pequeno (2 metros de comprimento), com capacidade para 4 ocupantes.

Com uma potência de miseráveis 5 cavalos, é um automóvel no verdadeiro sentido do termo, não faltando nada. Até possui um computador de bordo, sistema para o controle da estabilidade, recuperação de energia nas travagens, airbags, direcção assistida.

Permite alcançar 70 km/h, tem uma autonomia de 220 km em cidade, carrega-se em 90 segundos, percorre 100 km com 0.50 €.

OneFlowAir

Carro um pouco mais comprido (3,4 metros), para cinco pessoas, 15 cv de potência, alcança 110 km/h, pode ser equipado com um adicional motor de combustão interna, o que eleva a autonomia até 900 km.

Em modalidade "ar comprimido" consegue percorrer 100 km. Em modalidade "dual fuel" isso é, desfrutando também o combustível fóssil) consome 1,7 litros por cada 100 km.

Pormenor interessante: como combustível pode ser utilizada a gasolina, o gasóleo, o etanol, óleos vegetais...

Preço: 5.300 Euros.

MiniFlowAir

O mesmo conceito do modelo anterior, só em miniatura.

Com um comprimento de 2.65 metros, consegue transportar 3 pessoas, debita 50 cv, atinge 130 km/h, consome 1.8 litros de combustível por cada 100 km e tem uma autonomia de 1.500 km (50 em modo "ar").

Preço: 9.200 Euros.

CityFlowAIR

Um carro destinado ao transporte de objectos também pois de facto é uma espécie de pick-up (isso é, com uma ampla zona de carga descoberta na parte posterior do veículo). Em alternativa, pode ser um verdadeiro furgão, como na imagem ao lado.

As especificações são idênticas ao modelo anterior, sendo o CityFlowAIR apenas mais comprido (4.1 metros).

Preço: 13.000 Euros.

Em projecto há também o MultiFlowAIR, um transporte público modular, alimentado unicamente com ar comprimido para assegurar zero emissões poluentes.

Muito interessante os modelos alimentados por ar comprimido, mas não podemos esquecer os de dupla energia; estes motores de dupla energia têm uma maior autonomia e garantem:

Menos de dois litros de combustível por cada 100 km percorridos

Zero emissões NOx (óxidos de azoto)

Emissões 3 vezes inferiores de C02 em comparação com os motores clássicos.



O dono da empresa, Cyril Guy Négre, ex engenheiro da Williams (Renault), em 2007 assinou um acordo com a casa automobilística indiana Tata, pela construção dum veículo citadino: velocidade máxima 50 km/h, autonomia 200 km. Em Junho de 2009 o AirPOD é adoptado como veículo de serviço no aeroporto de Amsterdam.

Desde já é possível reservar um dos modelos no site da empresa (link no fundo do artigo). Mas atenção: a empresa fadigou não pouco para obter a homologação em França, nos outros Países é claro que as dificuldades iriam repetir-se.

Tudo simples então? Não, pois ainda há alguns problemas técnicos, nomeadamente a formação de gelo.

O principal problema do motores que funcionam com ar comprimido é que a expansão do gás subtrai calor ao ambiente, o ar no motor atinge os 40ºC negativos e a presença de humidade no ar comporta a formação de gelo no mesmo motor.

Négre afirma ter ultrapassado o problema com um sistema politrópico, mas não peçam o que isso pode significar porque não faço ideia. Todavia gelo no motor foi o que o jornalista do Guardian encontrou durante uma breve prova do carro:

Ao contrário dos convencionais motores de combustão interna, movidos a ar motores, gelo espesso forma-se rapidamente sobre o motor. Isto significa que a única característica que vem de graça no carro será o ar condicionado.

Outra empresa que apresentou um modelo movido com ar comprimido foi nada mais nada menos de que a Honda.



Em 2012 apareceu a Honda Air, protótipo de carro desportivo (imagem ao lado) que prontamente desapareceu da cena.

Até que qualquer referência ao modelo foi apagada no site da Honda: hoje carros menos poluentes significa tecnologia híbrida, gás e etanol. Todos produtos que funcionam ainda com o paleolítico motor de combustão interna.

No máximo fala-se de fuel cell, especificando que em qualquer caso será o futuro, não o presente.

A verdade é que nenhuma grande empresa parece interessada no desenvolvimento dum motor de ar comprimido. Um empresário privado, Négre, sem financiamentos ou outras ajudas, conseguiu montar uma empresa que produz carros movidos com ar comprimido. Ainda há problemas técnicos, como vimos, mas a minha pergunta é: que aconteceria se uma ou mais grandes empresas, com as imensas capacidades delas, decidissem investir na pesquisa e no desenvolvimento?

Talvez nada, talvez o motor de ar comprimido seja um beco sem saída, destinado a conviver com o problema do gelo. Mas a impressão é que falte a vontade para abandonar os combustíveis fósseis. Isso seria uma revolução, algo que subverteria a sociedade tal como é conhecida. E ninguém quer correr este risco, para não perder as posições de poder.

Por isso, lamento, mas não será possível livrar-nos do petróleo e derivados, pelo menos no futuro próximo.

Ipse dixit.

Fontes: MDI, The Guardian, Top Speed

Um comentário:

  1. olá,
    achei importante sua informação sobre a formação de gelo. não a havia encontrado até agora.
    venho me informando sobre o motor de ar comprimido com interesse. não tenho grana, mas gostaria de ter um carro assim daqui há uns 6 anos talvez.
    para criticá-lo (atendendo a seu pedido) acho que você foi lúcido, mas um tanto pessimista. acredito que estes motores devam se desenvolver melhor sim. o que pode ocorrer é que outros fatores entrem em cena para diminuir isto como "revolução".
    de todo modo, a energia dele é, em última instância, elétrica (os compressores são elétricos) e a geração dessa energia nem sempre é tão limpa...
    andré magela

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