“Operação o dedo de Deus” ou “operação despista”?
Por
Laerte Braga(*)
É obvio que a operação policial que está tentando desbaratar o jogo do bicho no Rio de Janeiro e outros estados, tenha recebido o nome de DEDO DE DEUS em alusão ao fato de Mário Tricano, ex-prefeito de Teresópolis vir a ser um dos acusados.
Como ocorre em todas as operações contra o tráfico e o jogo do bicho nenhum dos principais personagens foi detido e estranha-se a ausência do capitão Guimarães na relação de “banqueiros”. Será pelo fato de Guimarães ter sido um torturador no regime militar de 1964 e cooptado pelos banqueiros da época para vir a atuar no setor, muito mais lucrativo?
Os principais banqueiros de então, figuras lendárias como Castor de Andrade, Natal e Miro estavam detidos no presídio da Ilha Grande. Foi quando a ditadura tentou mostrar que ia acabar com a corrupção apesar de um dos ministros ser Roberto Campos. Guimarães era um oficial do Exército encarregado de algumas “atividades” no presídio (lá estavam misturados “contraventores”, bandidos ditos comuns e presos políticos) Nasceu ali o Comando Vermelho.
Mariel Mariscott não teve a mesma sorte de Guimarães. O capitão virou banqueiro, figura respeitável no meio, dirigente da Liga de Escolas de Samba, ao contrário do “famoso” detetive, com jeito e vida de playboy que, ao reivindicar sua parte no “negócio”, terminou no morgue como diziam os repórteres policiais daquele tempo.
E mais, a guisa de ilustração, Mariel era integrante do grupo chamado de HOMENS DE OURO DA POLÍCIA DO RIO. Isso por conta da “integridade” no combate ao crime, do caráter “incorruptível”. Flávio Cavalcanti – um apresentador de tevê ligado ao golpe de 1964 – ia ao delírio quando um dos inspetores dos HOMENS DE OURO aparecia em seu programa. Um tal Duarte que acabou envolvido em uma série de atividades criminosas. O fascismo incipiente na televisão.
O traficante Nem só foi preso no bairro da Lagoa porque lá estavam policiais federais. Não fosse isso os policiais militares que faziam a blitz teriam libertado o carro do falso “cônsul do Congo” sem questionar coisa alguma, só embolsando o dinheiro oferecido. É simples deduzir isso. Um capitão PM apresentado com o grupo que “corajosamente” prendeu Nem, foi pego e recolhido nesta semana pela rotineira prática de assaltos.
O Santo nome em vão é meio complicado. O jogo do bicho é uma das grandes hipocrisias brasileiras. E hipocrisia respaldada pelo fato de uma instituição do porte da Caixa Econômica Federal explorar diversas modalidades de jogos de azar. Milhões de pessoas, diariamente, apostam em loterias da Caixa e não poucos matemáticos são chamados a opinar sobre as chances de cada apostador, algo em torno de uma em milhões.
E com farta campanha publicitária em redes de televisão, sorteios ao vivo, etc, etc.
A banca, no caso da Caixa Econômica e a Receita Federal ficam com a parte do leão nessas várias formas de apostas.
É de tal ordem que a ilusão do ganho fácil existe todos os dias da semana. Como o jogo do bicho. Com a diferença que a tevê não propagandeia e nem noticia os resultados do bicho, mas sim os das “contravenções” oficiais.
Que banqueiros estendem suas atividades a outros setores e sejam responsáveis por crimes de maior porte, digamos assim, ninguém tem dúvida. São públicas algumas guerras por pontos de jogo de bicho ao longo da história do jogo inventado pelo Barão de Drumond.
Castor de Andrade protagonizou episódios que a grande mídia relatava tanto em tom de condenação, como de “glorificação” do “banqueiro”. Foi dirigente maior do Bangu, alcançou um campeonato carioca com aquele clube e era o patrono de uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio, a Mocidade Independente de Padre Miguel.
“Banqueiros” lavam o dinheiro da contravenção, claro, é uma contravenção, um dinheiro que não pode ser declarado como tal, a atividade é criminosa e buscam formas outras de “limpar” o negócio. São sócios de cassinos clandestinos no País, no exterior e fora de dúvida se impõem pela violência.
Anísio Abrahão David foi o responsável pela morte de um filho do locutor e médico Luís Jatobá – um nome também legendário, só que na tevê brasileira – por conta de um assalto a uma residência de sua propriedade numa das cidades da chamada Região dos Lagos.
“Banqueiros” de jogo de bicho não diferem no caráter de banqueiros como os conhecemos, falo dos donos de bancos. Escrúpulo é uma palavra desconhecida dessa gente.
E talvez até pelo contrário. Banqueiros sem aspas tentaram de todas as formas e com o apoio do então ministro do STF Nélson Jobim ficar fora das punições previstas no Código de Defesa do Consumidor. Lesam clientes numa dimensão incomensurável, ao contrário dos “banqueiros” do jogo que pagam os prêmios. E a vista em dinheiro.
“Banqueiros” do jogo do bicho subornam policiais, subornam figuras da justiça e se a medida do progresso, como gostam de falar os nossos banqueiros, empresários e latifundiários, for a geração de empregos, “banqueiros” do jogo de bicho talvez, repito talvez, explorem muito menos seus trabalhadores que banqueiros das grandes casas bancárias, verdadeiros senhores de escravos, os bancários.
Uma operação como essa, DEDO DE DEUS, do ponto de vista policial pode ter vários significados, ainda mais no mês de dezembro, o mês do décimo terceiro. Do ponto de vista da receita é outra história.
E nem pode ser deixado de lado o fato que os “banqueiros” do bicho, à época da ditadura, se tornaram cúmplices do processo repressivo integrando a “comunidade de informações”, ou doando recursos para operações de terrorismo de Estado através de suas empresas “limpas”. Muitos seguranças desses “banqueiros” eram figuras egressas dos porões da ditadura.
O que espanta nisso é que por trás de todo esse show montado pela mídia em torno da operação policial existe outro viés da hipocrisia. Quando pontificava como o todo poderoso da REDE GLOBO, Boni, o que admitiu a manipulação de noticias nas eleições de 1989 para favorecer Collor, era freqüentador da mesa de Castor de Andrade, como ao lado de Castor, era um dos grandes da Mocidade Independente. Não raras vezes foram fotografados juntos e abraçados.
Por que não trazer a público o livro do jornalista Amauri Ribeiro Júnior revelando a corrupção no governo de FHC, o envolvimento de José Serra, sua filha, os parceiros dos grandes nomes do tucanato? Por que esconder as denúncias feitas pelo jornalista se nas eleições de 2010 chamaram o levantamento feito por Amauri Ribeiro Junior de “dossiê” e acusaram o partido de Dilma Roussef de ser o responsável para tentar desmoralizar o ex-governador de São Paulo, seu principal adversário?
É simples. Querem espetáculo para tirar a atenção dos brasileiros de fatos de suma gravidade e que mostram a falência do modelo político e econômico que temos, em todos os sentidos.
Os bilhões do País vendido por FHC, Serra, do dinheiro lavado pela filha de Serra, os muitos ministros que enriqueceram, a parte que a mídia levou – em espécie e em participação – são muito mais lesivos, mas muito mesmo, que as apostas em jogo de bicho, em máquinas caça níqueis, ou em cassinos clandestinos.
E tem mais. Jogo do bicho é popular, cassinos são freqüentados pelas elites, as mesmas que vestem a máscara da moralidade pública.
E ainda mais se Sérgio Cabral estiver no meio.
Isso tudo deve ser para não contrariar Luciano Huck, o da casa ilegal legalizada pelo escritório da mulher do governador. Só pode. Ou os negócios do sogro nos transportes coletivos urbanos.
Helicóptero descendo numa cobertura em Copacabana, propriedade de um dos “banqueiros”.
Aqui em Minas a gente chama de “trem de doido”. É em matéria de “trem de doido” já bastam Aécio Neves (o homem que encomendou o livro a Amauri Ribeiro depois de ter sido chamado de alcoólatra e viciado em drogas por Serra, na disputa interna dentro do PSDB) e a aberração política Antônio Anastasia.
Que tal a operação PRIVATARIA TUCANA?
*Laerte Braga é jornalista e colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Empodera Povo“.
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