quinta-feira, 30 de maio de 2013

IMB - Instituto Mises Brasil reconhece brilhantismo de Karl Marx

Quando Marx refutou Keynes e os atuais marxistas
Fonte: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1608
por , segunda-feira, 27 de maio de 2013 

marx1.pngMarxistas, social-democratas e demais defensores do intervencionismo estatal sempre afirmaram que determinados setores da economia — principalmente saúde, educação e segurança, mas também o setor elétrico e de telecomunicações — não podem ficar por conta do livre mercado e da livre concorrência porque a ganância e a busca pelo lucro não apenas são incompatíveis com tais setores, como também levariam a preços absurdamente caros, o que prejudicaria principalmente os mais pobres.
Já os economistas seguidores da Escola Austríaca sempre afirmaram categoricamente que é justamente a busca pelo lucro em um ambiente sem protecionismos, sem privilégios, sem agências reguladoras e sem subsídios o que gera serviços da alta qualidade e preços baixos.
E a explicação é simples: como empresários, no geral, não gostam de concorrência, eles sempre se mostram ávidos por fazer lobby e utilizar o poder estatal em seu próprio interesse com o intuito de banir a concorrência e solidificar sua posição de domínio.  Eles conseguem isso por meio de tarifas protecionistas, subsídios e agências reguladoras que cartelizam o mercado e impedem a entrada de concorrentes.
Já o livre mercado, arranjo em que não há protecionismo, subsídio e agências reguladoras, é um sistema em que são os consumidores que controlam os empresários.  No livre mercado, as empresas não têm opção: ou elas servem o consumidor de maneira eficaz ou elas fecham as portas.  E servir o consumidor de maneira eficaz significa estar sempre ofertando bens e serviços de qualidade crescente a preços cada vez menores.
É justamente o governo — com seus subsídios, privilégios especiais (como tarifas protecionistas e execução de obras públicas com empreiteiras privadas) e restrições à concorrência (por meio de agências reguladoras e exigências burocráticas) — quem promove monopólios e oligopólios, e consequentemente preços altos e serviços de baixa qualidade.  Sendo assim, se você quiser serviços de qualidade a preços cada vez menores, você tem de defender o livre mercado.
Sabe quem concorda com tudo isso?  Ninguém menos que Karl Marx.  Não deixa de ser curioso constatar que Marx entendeu perfeitamente essa realidade.  Mais ainda: ele foi explícito em demonstrar isso.  No quesito "efeitos benéficos da livre concorrência", Marx concorda com os austríacos e discorda de todos os atuais marxistas e demais intervencionistas.  Veja o que ele escreveu logo nas páginas iniciais do Manifesto Comunista:
A burguesia, pelo rápido melhoramento de todos os instrumentos de produção, pelas comunicações infinitamente facilitadas, arrasta todas as nações, mesmo as mais bárbaras, para a civilização. Os preços baratos das suas mercadorias são a artilharia pesada com que deita por terra todas as muralhas da China, com que força à capitulação o mais obstinado ódio dos bárbaros ao estrangeiro. Compele todas as nações a apropriarem o modo de produção da burguesia, se não quiserem arruinar-se; compele-as a introduzirem no seu seio a chamada civilização, i. é, a tornarem-se burguesas. Numa palavra, ela cria para si um mundo à sua própria imagem.
Em suma: além de creditar à burguesia e aos seus instrumentos de produção — isto é, ao sistema de lucros e prejuízos — a façanha de retirar nações da barbárie e levá-las à civilização, Marx afirma categoricamente que o modo de produção burguês — que nada mais é do que a busca pelo lucro — gera mercadorias a preços baratos.  E não apenas isso: ele afirma que o sistema de lucros e prejuízos compele todas as nações a adotarem este modo de produção, sob pena de se arruinarem por completo caso não o façam.
Ou seja, o real problema dos atuais marxistas e demais intervencionistas que se dizem contrários a serviços de saúde, educação, segurança, energia e telecomunicações serem ofertados em um ambiente de livre concorrência, pois seriam caros e inacessíveis para os pobres, é que eles certamente não leram Marx.  Se leram, não entenderam.  Marx entendeu perfeitamente que a busca pelo lucro sob um arranjo de livre concorrência leva ao barateamento dos produtos e serviços, e que tal barateamento é "a artilharia pesada com que [o sistema de lucros] ... compele todas as nações a apropriarem o modo de produção da burguesia [e se tornarem civilizadas], se não quiserem arruinar-se."
Ao contrário dos marxistas atuais que defendem a estatização de vários serviços sob o argumento de que isso reduziria seus preços, Marx entendeu que é a busca pelo lucro o que realmente derruba os preços, e não a estatização destes serviços.
Como se não bastasse, Marx também disparou um petardo contra keynesianos defensores de estímulos fiscais e de políticas de endividamento estatal.  Marx zombou o keynesianismo antes mesmo de este sistema ter sido criado — algo possível porque não havia absolutamente nada de original nas ideias de Keynes.
Eis o que escreveu Marx em O Capital, capítulo 24, seção 6, "A Gênese do Capitalista Industrial":
A única parte da chamada riqueza nacional que realmente está na posse coletiva dos povos modernos é a sua dívida pública.  Daí ... a doutrina moderna de que um povo se torna tanto mais rico quanto mais profundamente se endividar.  A dívida pública torna-se o credo do capital.  E, com o surgir do endividamento do Estado, vai para o lugar dos pecados contra o Espírito Santo — para os quais não há qualquer perdão — o perjúrio contra a dívida do Estado.
Como com o toque da varinha mágica, [a dívida pública] reveste o dinheiro improdutivo de poder procriador e transforma-o assim em capital.  ... [Mas] a moderna política fiscal... traz em si própria o germe da progressão automática. A sobretaxação não é um acidente, mas sim um princípio.
Conclusão
Eis, portanto, as duas crenças que um genuíno seguidor de Karl Marx deve apresentar: a busca pelo lucro em um ambiente de livre mercado gera redução de preços, e políticas fiscais keynesianas, além de serem um método de escravização, fazem com que dinheiro improdutivo seja ilusoriamente visto como capital gerador de riqueza.  Mais ainda: segundo Marx, criticar o endividamento do estado passou a ser visto pelos defensores da gastança estatal como um ato equivalente a uma blasfêmia contra o Espírito Santo.
Logo, se você é um marxista defensor dos pobres e quer que eles tenham acesso a bens e serviços de qualidade a preços baixos, você tem de defender o livre mercado.  Se você defende que o povo tenha poder sobre as empresas, você tem de defender o livre mercado.  E se você é contra a escravização do povo pelas elites financeiras, você tem de defender que os gastos do governo sejam restringidos ao máximo. 
Agora, se você defende que o governo regule o mercado e gaste demasiadamente, você estará defendendo os interesses das grandes empresas e das elites financeiras, e estará defendendo que elas tenham privilégios sobre os pobres e que elas os oprimam com a abolição da concorrência, com preços altos e com serviços precários.
Palavras de Marx.

Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

postado por Leandro Roque | 27/05/2013

18 comentários
Sergio 27/05/2013 21:56:44
Muito bom! Aliás, há várias passagens no Manifesto Comunista que são verdadeiras odes ao capitalismo. Não entendo como os marxistas não sacaram que Marx, na realidade, via o capitalismo com admiração, e justamente por isso o temia e o atacava.
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Fernando Chiocca 28/05/2013 04:21:47
Fora que Marx dizia que o socialismo só seria alcançado depois que o capitalismo se exaurisse. Ou seja, quem é marxista tem que defender o livre mercado ao extremo e ser radicalmente contra qualquer intervenção no mercado.
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Henrique Mareze 27/05/2013 23:43:06
Interessante análise, Leandro. O estranho é o fato de Marx ter feito essas asserções e, ainda assim, defender o contrário: a estatização dos meios de produção a fim de atingir o socialismo. No mínimo, bizarro.

O pior é ver muitos comunistas afirmando que empresas que foram tomadas pelos trabalhadores não só conseguiram se manter, mas como, também, produziram mais e deixaram todos no pé da igualdade. E outros, além, defendendo que povos autóctones, como as mais variadas etnias indígenas que viviam no Brasil antes de seu ''descobrimento'', formavam uma espécie de coletivismo e possuíam um bem estar geral.

Conheço até um professor que teve a infelicidade de dizer que os índios pré-descobrimento viviam melhor do que nós hoje. Haja paciência!

Abraços.
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Ali Baba 28/05/2013 11:41:08
@Henrique,

De fato viviam melhor os índios pré-descobrimento. Até os 20-25 anos, quando tinham uma dor-de-dente, o pajé resolvia tratar com infusão de folhas e o índio morria de sepse generalizada.

Mas até então sua vida consistia de caçar, pescar e faturar as índias. Não tinha cartão-ponto, hierarquia rígida ou impostos. De fato uma vida melhor... ainda que curta.
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Ricardo 27/05/2013 23:50:42
Marx também defendia o livre comércio, ao menos em alguns trechos de sua obra. E era contra os sindicatos. Como escreveu Mises,

"Karl Marx, no segundo estágio de sua carreira, não era um intervencionista; ele era um defensor do laissez-faire. Como ele imaginava que o colapso do capitalismo -- e sua consequente substituição pelo socialismo -- ocorreria somente quando a capitalismo estivesse plenamente maduro, ele era a favor de deixar o capitalismo se desenvolver plenamente. Sob esse aspecto ele era, em suas escritas e em seus livros, um defensor da liberdade econômica.

Marx acreditava que medidas intervencionistas eram prejudiciais, pois elas atrasavam a chegada do socialismo. Como os sindicatos sempre exigiam intervenções, Marx era contra eles."

www.mises.org.br/Article.aspx?id=1170
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Erick Skrabe 28/05/2013 02:09:44
Excelente artigo, Leandro.
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Leandro 28/05/2013 02:18:16
Obrigado, Erick.
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Eric Lima 28/05/2013 03:10:14
Incrível que exatamente ontem terminei de ler uma pequeno livro de Marx endereçado aos operários em que o propósito dela era explicar um pouco de economia. O nome do livro é "Trabalho Assalariado e Capital".

Ele nitidamente reconhece que o capital é essencial para o aumento da produtividade e que sem isso não é possível o aumento dos salários dos operários. Ele falha pois a argumentação dele se baseia simplesmente na inveja, pois de acordo com ele mesmo que haja, tanto para o empregador como para o empregado um aumento em seus rendimentos, o aumento do proprietário do capital é maior e, por isso, de acordo com Marx, a escravidão aumenta por causa da diferença relativa entre os ganhos dos dois.

Ele também compreende a relação entre o aumento do capital e o aumento da mão de obra e diz que existe uma tal relação entre os dois que o aumento de um implica no futuro o aumento de outro. Mais pra frente ele então se contradiz quando fala que o aumento do capital causa demissões e então critica a posição que os liberais defendiam de que esses trabalhadores seriam realocados no futuro. Mas observe que essa argumentação que ele critica está ligada ao que ele reconhece como sendo a relação entre capital e trabalho antes, ou seja, de que o aumento de um implica no aumento do outro no futuro.

Conclui, portanto, que ele conhece, se não muito bem ao menos relativamente bem, a ponto de reconhecer questões fundamentais ao funcionamento do mercado, mas acaba cometendo erros lógicos terríveis quando conecta esses fatos à realidade. Outros dois erros dele é dizer que os ganhos relativos tornam os trabalhadores escravos do capital pela mesma relação explicada antes e que o valor dos produtos estão embutidos o valor do trabalho. É triste saber que depois dele tão poucas pessoas foram capazes (se bem que quem sabe não foi preguiça de ler seus escritos) de rebater suas afirmações errôneas, pois ele reconheceu os benefícios do mercado, mas ainda sim repudiava a principal figura que o movia, o empreendedor mais conhecido como burguês.
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Arthur 28/05/2013 05:00:02
É preciso entender a diferença de estatização de empresas e socialização dos meios de produção. Não sou um estudioso da obra de Marx, mas o que para mim sempre pareceu muito claro, e que a maioria das pessoas parece se confundir, é que, no comunismo defendido por Marx, as empresas, seus lucros e despesas, são de propriedade dos trabalhadores, todos tem igual responsabilidade e participação nos ganhos, não havendo assim a figura de um empregador que enriquece graças ao trabalho de outras pessoas.
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Leandro 28/05/2013 09:58:41
Não, isso é uma confusão conceitual. Marx e os marxistas sempre foram explícitos em defender o fim da propriedade privada dos meios de produção. Uma empresa cujos meios de produção estão nas mãos dos operários ainda configura propriedade privada dos meios de produção.

Se os operários da GM fizerem um motim e tomarem a fábrica, tenha certeza de que eles imediatamente atribuirão para si, e apenas para si, o controle das máquinas. Quem está de fora não palpitará em nada. Você e eu não mandaremos em nada ali -- e isso fere a noção de abolição da propriedade privada dos meios de produção.

A crítica que Marx fazia àquilo que ele chamava de "modo burguês de produção" é justamente uma crítica à propriedade privada dos meios de produção, um arranjo inerentemente voltado para o lucro. Defender o fim da propriedade privada dos meios de produção significa, por definição, defender que todos os habitantes de um país tenham poder de palpitar sobre o que deveria ser feito com cada máquina de cada fábrica. Qualquer outro arranjo que não seja esse ainda configura um resquício de propriedade privada dos meios de produção.

Agora, pode-se argumentar que Marx, no íntimo, talvez não fosse realmente contra a propriedade privada dos meios de produção, mas sim a favor de que tais meios estivessem em posse de operários. Seria um bom ponto, mas seria apenas ilação. Mesmo porque não foi isso que ele vocalizou. Ele foi explícito em defender o fim da propriedade privada dos meios de produção. E tal medida, se levada ao pé da letra, equivale a uma estatização geral dos meios de produção, com a consequência de que todos os habitantes de um país teriam uma igual fatia de poder decisório sobre o que deveria ser feito com cada máquina de cada fábrica. Exequível?
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Pedro 29/05/2013 20:53:06
Porém essa empresa tomada, agora uma cooperativa, não só repassaria o lucro igualmente - o que ainda é propriedade privada - mas produziria algo dentro das nascecidades da comunidade(a criatividade seria controlada) como venderia em troca das proprias nescidades(anulando a busca de lucro). A GM só produziria o carro padrão na contidade padrão.
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Leandro 29/05/2013 21:08:22
Falta apenas explicar como esse festival de contradições seria possível.

Primeiro você diz que o lucro seria repassado para os trabalhadores. Porém, logo em seguida, diz que a busca do lucro seria anulada. Ué, como é que isso se fecha? Se haverá uma anulação da busca pelo lucro, então como é que o lucro será repassado aos trabalhadores?

Mais ainda: você diz que a cooperativa produziria exclusivamente para suprir as necessidades da comunidade. Novos problemas. Quem vai definir as necessidades da comunidade? E se houver divergências quanto às necessidades? Pior ainda: na remota hipótese de que essa pendência seja resolvida, se as vendas serão exclusivamente para atender as necessidades, de onde virá o lucro que será repassado para os trabalhadores? Você próprio afirmou que ele seria abolido.

E tem mais: mesmo que houvesse algum lucro e este fosse repassado para os trabalhadores, como a fábrica faria investimentos para renovar suas máquinas e todos os bens de capital? Você sabe que estas coisas precisam de reposição contínua, né? Como haverá reposição sem lucros?

E para terminar: Por que estes trabalhadores que não querem ser explorados e que querem assumir o controle dos meios de produção não criam eles próprios suas cooperativas? Absolutamente nada os impede de fazer isso.

Se uma enorme quantidade de trabalhadores se juntasse, eles sequer precisariam de financiamento. Poderiam utilizar a própria poupança. O que houve com o "trabalhadores do mundo, uni-vos!"? Qualquer grupo de 100 operários do ABC poderia se juntar e criar suas próprias cooperativas. Eles não são pobres. O que os impede?

Você é a prova prática de que um marxista ainda não saiu do jardim de infância. Não tem a mínima ideia de como funciona o mundo real.
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Andre 28/05/2013 11:49:22
Outro bom argumento contra os intervencionistas é dizer que muito mais importante do que saúde, educação e segurança é a COMIDA, pois sem ela todos MORREM DE FOME, em pouquíssimo tempo.

E como sabemos sempre que o governo assumiu o controle da produção e distribuição de alimentos houve fome em massa. O que prova que nada deve ser controlado pelo governo, pois o controle/intervenção do governo só gera escassez além da que já existe naturalmente.

Vide Venezuela hoje:


Nesse ritmo daqui há alguns anos Venezuela será como Cuba. O governo dirá que tudo é maravilhoso mas ninguém que está dentro poderá sair sem deixar parentes como reféns e quem está fora não poderá entrar com câmeras para mostra as "maravilhas" do socialismo para o resto do mundo.
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Ali Baba 28/05/2013 11:52:38
O problema com o socialismo em particular, mas com qualquer forma de estatismo, é que ele presume pessoas perfeitamente morais em controle do estado.

Quando o dito "contrato social" criou o estado como um super-homem, para concentrar todos os direitos de que o homem abriu mão para viver em sociedade, ele não previu que seriam justamente homens que tomariam conta desse super-homem, o que, na prática, divide a sociedade nos que têm poder ilimitado e nos que não têm poder algum.

Pessoas perfeitamente morais (ou super-homens) não existem. Quanto antes a sociedade perceber que esse é o erro fundamental do estatismo, mais cedo teremos uma sociedade ancap. Quanto antes a sociedade se der conta que o que mantém o homem "na linha" é a propriedade privada e o sistema de lucros e prejuízos, melhor.
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Lopes 28/05/2013 16:15:15
Excelente, Leandro. Entretanto, temo pelo cenário intelectual econômico moderno quando esse nos força a estabelecer uma intersecção entre o pensamento marxista e austríaco.
Tendo eu experimentado da maré vermelha no passado, foi de caráter único reviver um paralelo entre Marx e Bastiat que notara no passado quando movido pela curiosidade de construir uma opinião econômica racional.

É mister perguntarmo-nos: Que ocorrera ao debate econômico ocidental entre Stuart Mill, Marx e Keynes que motivara toda uma geração de economistas a abandonar o bom-senso e a menor capacidade de auto-crítica quanto às medidas por ela estabelecidas para atingir seus fins?

Pensamentos semelhantes aos de Keynes já prosperavam na periferia do pensamento econômico em meados do século XIX(Vide Gesell), entretanto, que absurdos ocorreram à geração de nosso Lord predileto para que viessem a estabelecer um pensamento econômico e social baseado no evangelho do gasto estatal e na sabedoria da demanda agregada?
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Pupilo 28/05/2013 19:52:34
Mas se Marx sabia dos benefícios do livre mercado, porque ele era contra a propriedade privada?
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Ricardo 28/05/2013 20:21:30
Como escreveu Mises,

"Karl Marx, no segundo estágio de sua carreira, não era um intervencionista; ele era um defensor do laissez-faire. Como ele imaginava que o colapso do capitalismo -- e sua consequente substituição pelo socialismo -- ocorreria somente quando a capitalismo estivesse plenamente maduro, ele era a favor de deixar o capitalismo se desenvolver plenamente. Sob esse aspecto ele era, em suas escritas e em seus livros, um defensor da liberdade econômica.

Marx acreditava que medidas intervencionistas eram prejudiciais, pois elas atrasavam a chegada do socialismo. Como os sindicatos sempre exigiam intervenções, Marx era contra eles."

www.mises.org.br/Article.aspx?id=1170
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Eric Lima 29/05/2013 02:00:51
Ele era um incoerente! Ele assumia os benefícios e do nada mudava o discurso dizendo que o "proletário" era escravo do capitalista e que o ganho relativo revelava a "escravidão". É claro que ele via esse ganho relativo à produção como escravidão por causa da teoria valor-trabalho

A melhor educação do mundo é 100% estatal, gratuita e universal


Postado em: 5 abr 2013 às 0:55

O documentário abaixo deveria ser assistido e discutido por todos os educadores, todas as escolas, todas as pessoas interessadas na educação no Brasil

A Finlândia tem a melhor educação do mundo. Lá todas as crianças tem direito ao mesmo ensino, seja o filho do empresário ou o filho do garçom. Todas as escolas são públicas-estatais, eficientes, profissionalizadas. Todos os professores são servidores públicos, ganham bem e são estimulados e reconhecidos. Nas escolas há serviços de saúde e alimentação, tudo gratuito.
Na Finlândia a internet é um direito de todos.
A Finlândia se destaca em tecnologia mais do que os Estados Unidos da América.
Sim, na Finlândia se paga bastante impostos: 50% do PIB.
O país dá um banho nos Estados Unidos da América em matéria de educação e de não corrupção.
Na Finlândia se incentiva a colaboração, e não a competição.
Mas os neoliberais-gerenciais, privatistas, continuam a citar os EUA como modelo.
Difícil o Brasil chegar perto do modelo finlandês? Quase impossível. Mas qual modelo devemos perseguir? Com certeza não pode ser o da privatização.
Veja o seguinte documentário, imperdível, elaborado por estadunidenses. Em inglês, com legendas em espanhol:
Leia abaixo matéria originalmente publicada no Diário do Centro do Mundo que trata da excelência do sistema de educação da Finlândia, reverenciado em todo o mundo.

Por que o sistema de educação da Finlândia é tão reverenciado

Acaba de sair um levantamento sobre educação no mundo feito pela editora britânica que publica a revista Economist, a Pearson.
É um comparativo no qual foram incluídos países com dados confiáveis suficientes para que se pudesse fazer o estudo.
Você pode adivinhar em que lugar o Brasil ficou. Seria rebaixado, caso fosse um campeonato de futebol. Disputou a última colocação com o México e a Indonésia.
Surpresa? Dificilmente.
Assim como não existe surpresa no vencedor. De onde vem? Da Escandinávia, naturalmente – uma região quase utópica que vai se tornando um modelo para o mundo moderno.
Foi a Finlândia a vencedora. A Finlândia costuma ficar em primeiro ou segundo lugar nas competições internacionais de estudantes, nas quais as disciplinas testadas são compreensão e redação, matemática e ciências.
  • A mídia internacional tem coberto o assim chamado “fenômeno finlandês” com encanto e empenho. Educadores de todas as partes têm ido para lá para aprender o segredo.

Se alguém leu alguma reportagem na imprensa brasileira, ou soube de alguma autoridade da educação que tenha ido à Finlândia, favor notificar. Nada vi, e também aí não tenho o direito de me surpreender.
melhor educação do mundo
Finlândia: a melhor educação do mundo é 100% estatal, gratuita e universal (Imagem: Reprodução / Documentário)
Algumas coisas básicas no sistema finlandês:
1) Todas as crianças têm direito ao mesmo ensino. Não importa se é o filho do premiê ou do porteiro.
2) Todas as escolas são públicas, e oferecem, além do ensino, serviços médicos e dentários, e também comida.
3) Os professores são extraídos dos 10% mais bem colocados entre os graduados.
4) As crianças têm um professor particular disponível para casos em que necessitem de reforço.
5) Nos primeiros anos de aprendizado, as crianças não são submetidas a nenhum teste.
6) Os alunos são instados a falar mais que os professores nas salas de aula. (Nos Estados Unidos, uma pesquisa mostrou que 85% do tempo numa sala é o professor que fala.)
Isto é uma amostra, apenas.
Claro que, para fazer isso, são necessários recursos. A carga tributária na Finlândia é de cerca de 50% do PIB. (No México, é 20%. No Brasil, 35%.)
Já escrevi várias vezes: os escandinavos formaram um consenso segundo o qual pagar impostos é o preço – módico – para ter uma sociedade harmoniosa.
Não é à toa que, também nas listas internacionais de satisfação, os escandinavos apareçam sistematicamente como as pessoas mais felizes do mundo.
Para ver de perto o jeito finlandês de educar crianças, basta ver um fascinante documentário de 2011 feito por americanos (vídeo publicado acima).
Comecei a ver, e não consegui parar, como se estivesse assistindo a um suspense.
Todos os educadores, todas as escolas, todas as pessoas interessadas na educação, no Brasil, deveriam ver e discutir o documentário.

Neoliberalismo devastando o estado de bem estar social da Suécia

Desigualdade crescente sempre gera revoltas e fúria também crescentes. O que vem ocorrendo na Suécia não é por acaso. Desde 2006 quando a Direita ganhou as eleiçoes e iniciou a implantação de politicas neoliberais o país que ja foi considerado um dos mais igualitários do mundo vem experimentando os nefastos resultados da desigualdade social. Nas eleições gerais de 2010, o Partido Sueco Democrático – que faz campanha contra os imigrantes, regularmente descrito como partido de extrema-direita – bateu recorde de votos elegendo 20 deputados. Em um estudo recente da OECD se descobriu que a Suécia tem o mais rápido crescimento da desigualdade dos 34 países do grupo. É verdade que quase não há pobreza absoluta no país, mas não é a pobreza absoluta que alimenta os tumultos e levantes urbanos e sim as injustiças. A sociedade sueca, afamada por ser igualitária, com oferta excepcional de bem-estar para todos, foi construída por 40 anos de governo da democracia social, dos anos de 1930 aos anos de 1970. Mas todo esse progresso vem sendo destruido desde 2006 quando subiu ao poder este governo de centro-direita que inaugurou as politicas neoliberais na Suécia. Alguns intelectuais, financiados pela elite sueca, tem sido pagos pra dizer que o aumento de violencia não esta ligado ao aumento das desigualdades, que isso é apenas uma COINCIDENCIA. Será que eles acham que os suecos são suficientemente ingenuos pra acreditar nisso?

                                                        Por que a Suécia está em chamas 
via  bloglimpinhoecheiroso



Sete anos de governos de direita desfizeram o sonho de um país justo e aberto. Desigualdade e violência policial crescentes atiçaram revolta dos imigrantes.

Tom Peck, no The Independent, e lido no Outras Palavras

A partir do instante em que Henrik Sedin controlou o puck, ainda bem atrás no próprio meio-campo, começou uma noite terrível em Estocolmo. Faltava pouco para as 22 horas de domingo, dia 26, quando o time de superstars milionários conseguiu enfiar o puck no fundo da rede vazia do adversário: 5-1. Pela primeira vez em sete anos, e em casa, frente à própria torcida, a equipe sueca era campeã mundial de hóquei sobre o gelo.

O Ericsson Dome, na parte sul da cidade, foi ao delírio. Nos pubs irlandeses, nos elegantes quarteirões de Södermalm, rolaram rios de pints de cerveja Guinness.

Mas em Husby, subúrbio no norte da cidade, distante do centro, região superpopulosa onde vivem imigrantes, começava uma conflagração, em tudo diferente do que se via entre os suecos brancos ricos. Um shopping center foi vandalizado e uma garagem incendiada, o que causou a evacuação dos moradores de um bloco de apartamentos. Quando a polícia chegou, foi recebida a pedradas por mascarados; dois policiais foram feridos. Num vídeo que chocou o país, um terceiro policial caído aparece sendo espancado e chutado; os agressores chutaram também a pistola que se vê no coldre do policial.

Quando o dia clareou, havia mais de cem carros incendiados; e quando os jogadores campeões erguiam a taça, em confraternização com o rei Carl 16 Gustaf no Kungsträdgården, à vista de 20 mil fãs, a Suécia já entrara na primeira manhã dos piores tumultos urbanos de toda a moderna história do país, que continuam.

Centenas de carros e dúzias de prédios foram incendiados, e há mais de 100 presos. Imagens dos policiais feridos e prédios em chamas, na rica, pacífica e igualitária Suécia, surpreenderam o mundo. Mas, para outros muitos, não foi surpresa. Há anos os sindicatos, trabalhadores dos serviços sociais, cientistas políticos, rappers, em confronto com número crescente de extremistas de direita, já contam o Conto das Duas Estocolmos – duas sociedades que coexistem numa mesma cidade dividida e não integrada. Mas nunca se vira oposição e contraste tão declarados quanto naquela primeira noite de fogo nas periferias, que sitiaram a festa do hóquei sobre o gelo do centro.

Para quem estava em Londres há dois anos, os tumultos em Estocolmo são assustadoramente familiares. Há duas semanas, começaram a circular notícias da morte de um imigrante português, 68 anos, atacado pela polícia dentro do apartamento onde morava em Husby, depois levado ao hospital, onde morreu. Ele teria sequestrado uma mulher, refém no apartamento, e teria recebido os policiais com um cutelo de açougueiro na mão.

Mas Megafonen, grupo que milita por mudanças sociais nos subúrbios de Estocolmo publicou fotos de um saco do tipo que a Polícia usa para remoção de cadáveres sendo retirado do mesmo apartamento, num carro que parte em seguida. Não uma ambulância: um carro. Mais tarde se soube que a dita “refém” era, de fato, o cadáver da mulher do imigrante português, de 30 anos. Segundo seu cunhado, o homem tinha na mão uma faca de cozinha, não um cutelo de açougueiro; e que tentava defender-se contra uma gangue de mascarados que dias antes perseguira ele e sua mulher. Quando a Polícia bateu à porta do apartamento, a mulher contara ao cunhado, o marido supôs que fossem os mascarados da gangue que os seguia; gritou para assustá-los, talvez um pouco assustadoramente demais; e foi morto a tiros pela polícia.

Ativistas de esquerda, alvo preferencial, hoje, da Polícia sueca, que os acusa de insuflar os tumultos de rua, dizem que quando essa versão dos eventos chegou aos subúrbios, ajudou a incendiar quatro anos de ressentimento contra a brutalidade policial – queixa já antiga e muito repetida nos subúrbios, onde já praticamente não se veem suecos brancos – e contra o desemprego alto e crescente, a sempre crescente desigualdade, a falta de oportunidades para todos.

Mas, dessa vez, os tumultos espalharam-se pela cidade, também para os subúrbios a oeste e ao sul de Estocolmo e para outras cidades – Malmö, Gothenburg, Örebro – onde escolas, restaurantes e delegacias de Polícia foram incendiadas. É difícil determinar as motivações originais. Mas, o que quer que fosse, na origem, o movimento já está hoje invadido por gangues de rua, pequenos delinquentes, ou grupos de mascarados que, simplesmente, tomaram conta dos bairros mais pobres. Parece que há algo de podre no estado sueco.

A escala dos tumultos não se compara ao que se viu em Paris em 2005 ou em Londres há dois anos, onde aconteceram em áreas distantes do centro das capitais. Na Suécia não houve mortos e houve baixo número de feridos. O pequeno subúrbio de Husby é local agradável de viver, construído para suecos ricos – que já não vivem ali. Nem de longe se parece com o conjunto habitacional Broadwater Farm, de Tottenham, marco zero dos tumultos em Londres.

Hoje, 80% dos que vivem em Husby, Estocolmo, são imigrantes, a maior parte dos quais ali chegaram como refugiados, escapados dos mais diferentes cantos do mundo em guerra – Iraque, Irã, Afeganistão, Somália, Curdistão e, mais recentemente, da Síria – atraídos pela propagada hospitalidade com que os suecos recebem refugiados. Mas o desemprego entre os jovens é alto, pelo menos para os padrões suecos: 6%.

“Estão dizendo que é por causa daquele homem que foi morto”, disse Sadiya, 13 anos, somaliana, que faz um curso de arte e artesanato no centro de Husby. “Acho que querem chamar a atenção da Polícia. O pessoal que está fazendo essas coisas é pouco mais velho que eu. Por que se preocupariam com o desemprego? São crianças.”

Na parte externa do centro onde são dados os cursos, durante o dia, mesmo no auge dos tumultos, a vida prosseguiu praticamente normal. As floristas continuaram a vender suas flores, fileiras de pequenos vasos plantados, alinhados na parte externa da loja. Os prédios de apartamentos, todos de média altura, têm jardins externos, bem cuidados. Mas todos os vidros da estação do metrô estão quebrados. As paredes que protegiam um telefone público foram destruídas. Restou o telefone, preso a um poste, no centro do que parece ser uma piscina de vidros quebrados. Na rua, um ônibus articulado foi explodido e incendiado. Há fragmentos de metal e vidro por todos os lados. Os carros incendiados já foram diligentemente removidos pelas autoridades, mas a coisa aqui parece grande demais. Uma colega de Sadiya, Sagal, diz que ninguém ali consegue dormir já há três noites.

Todas as crianças que assistem às aulas, cerca de 25, nasceram na Suécia, mas só uma é filha de pais suecos. Todas as demais são filhas de pais africanos do leste ou do meio-leste da África.

“É difícil para nós”, diz Ann-Sofie Ericson, diretora da Escola de Artes da Cidade de Estocolmo que supervisiona a área. “19% de nossas crianças abandonam a escola a cada ano. Vivo a 15 minutos de carro daqui. Meus vizinhos são iraquianos. Quando as pessoas chegam, vêm para bairros como Husby. Alguns arranjarão emprego, educação, depois se mudam. Alguns não conseguem sair.”

Quase não há pobreza absoluta, mas não é a pobreza absoluta que alimenta os tumultos e levantes urbanos. A sociedade sueca, afamada por ser igualitária, com oferta excepcional de bem-estar para todos, foi construída por 40 anos de governo da democracia social, dos anos de 1930 aos anos de 1970. Mas um crash econômico no início dos anos 90, e o governo de centro-direita que está no poder desde 2006 impuseram inúmeras restrições ao estado de bem-estar, apesar das condições econômicas relativamente benignas.

Estudo recente da OECD revelou que a Suécia tem o mais rápido crescimento da desigualdade dos 34 países do grupo – e surpreendeu muita gente. Por isso, foi muitíssimo citado ao longo da semana que passou.

Como vários lembraram, os tumultos urbanos em Londres brotaram ao final de 30 anos de economia neoliberal da linha thatcheriana e da “terceira via” – com furiosa desregulamentação das finanças justificada pela ideia de que pouco importava aumentar a desigualdade social, se as condições dos mais ricos continuassem a melhorar.

O que se vê na Suécia é que a desigualdade crescente está gerando indignação e fúria também crescentes.

Em Husby, quando cai a noite – que em maio dura pouco mais de quatro horas –, grupos de jovens reúnem-se no centro, todos usando calças e camisetas largas. “Acho que tenho até sorte, por estar na Europa” – diz Baraar Mohamed, filho de somalianos, 15 anos, cujos pais garantem que não jogou pedras nem incendiou coisa alguma. – “Comparado ao pessoal na Somália, talvez seja sorte. Mas não fiz nada, nem ando com eles, e vivo aqui, e tenho de conviver com a brutalidade da Polícia, e não tenho a mesma sorte que outros suecos da minha idade. Eu sou sueco. Sou sueco.”

Ken Ring, rapper sueco de origem queniana, que cresceu e ainda vive no subúrbio de Valingby, onde grupos de jovens apedrejaram vagões do metrô e incendiaram carros na 5ª-feira à noite, concorda.

“Nunca estive em lugar algum, do mundo, onde as pessoas saibam o que é a realidade de viver na Suécia” – diz ele. “Quando veem fotos dos nossos subúrbios, dizem ‘não, não é Estocolmo. Deve ser Londres, Marselha.’ Estocolmo é hoje uma loucura…”

Hoje com 34 anos, Ring foi nome bastante conhecido nos anos de 1990, quando foi preso depois de gravar um rap em que falava de invadir o Castelo Real e estuprar a princesa Madeleine, terceira na linha de sucessão ao trono, e que se casaria em duas semanas. Por causa do casamento, havia mobilização policial extra. Mas, depois, se reabilitou. “Onde moro vejo crianças de 14, 15 anos usando heroína. Tenho um filho de 12. Há dois anos, outra criança apontou uma arma para a cabeça de meu filho e disse ‘olhe só, você, assim, fica mais fraco que eu’. É a Suécia hoje. E não era para ser assim.”

Não era. O herói do dia, surgido dos tumultos de rua, é um bombeiro, Mattias Lassen, atingido por pedradas quando tentava apagar o fogo em casas próximas de Husby, e que, depois, publicou uma carta aberta aos que o apedrejaram pelo Facebook.

“Podem me chamar, se seu pai bater o carro e precisar de ajuda. Posso ajudar sua irmã, se a cozinha dela pegar fogo. E nado na água gelada, para salvar seu irmão pequeno, se ele cair do bote”, escreveu ele. “Também posso ajudar sua avó, se ela tiver um infarto. E posso até ajudar você, se acontecer de você pisar em gelo fino no lago, num ensolarado dia de março.”

A maré de insatisfação cresce dos dois lados. Nas eleições gerais de 2010, o Partido Sueco Democrático – que faz campanha contra os imigrantes, regularmente descrito como partido de extrema-direita – ultrapassou pela primeira vez a cláusula de barreira dos 4% de votos. Elegeu 20 deputados, para o Parlamento, de 349 cadeiras.

Na sexta-feira, dia 24, à noite, com número extra de policiais nas ruas de Estocolmo, onde as coisas estavam comparativamente mais calmas, graves tumultos irromperam em Örebro, a quase 200 quilômetros a leste da capital; e em Tumba, no sul do país. Pela primeira vez, grupos de “vigilantes” de extrema-direita tomaram as ruas, depois de postar fotos de membros do grupo, com rostos mascarados. Em Tumba, a polícia prendeu 18 deles. A polícia também está à caça de “uma pequena claque de agitadores profissionais de esquerda”, acusados de estarem viajando de cidade em cidade, usando carros particulares, disseminando táticas que conhecem bem, como destruir calçadas para soltar as pedras, e provocando agitação por onde passam.

A grande maioria dos presos durante os primeiros dias de tumultos de rua já foi libertada. O primeiro a comparecer ante o juiz foi um arrependido e trêmulo jovem de 18 anos. “Nunca deveria ter-me juntado a eles” – disse ele. – “Queria ser bombeiro. Agora, acho que nunca conseguirei.”

Ontem, em Åkersberga, 60 quilômetros ao norte do centro de Estocolmo, ainda havia incêndios de carros à luz do dia, com a Polícia perseguindo grupos suspeitos, em helicópteros. Ken Ring, embora condene firmemente a violência geral, ainda tem esperanças. “Essas coisas ajudam a chamar a atenção. Os jornais falam, as televisões mostram. O governo não poderá deixar de ver o que está acontecendo.”

Depois que acabarem os incêndios provocados, com os ativistas de esquerda, os extremistas da direita fascista e os imigrados irados já julgados em tribunais justos, talvez, então, sim, o mundo perceba o que muitos suecos já perceberam: desde os anos neoliberais, as coisas na Suécia já não são o que parecem.

Tradução: Vila Vudu

sexta-feira, 24 de maio de 2013

PARA MULHER DE SERRA, “BOLSA FAMÍLIA” É O “BOLSA VAGABUNDAGEM”


Saiu no Valor: “Mônica Serra corrige crítica ao Bolsa Família”.




O marido certamente discorda dela




Saiu no Valor, pág. A11, de titulo “Mônica Serra corrige crítica ao Bolsa Família”.

Está lá: “… pouco antes de criticar o programa ‘Bolsa Família’. ‘As pessoas não querem mais trabalhar, não querem assinar carteira e estão ensinando isso para os filhos”.





Como disse aquele amigo mineiro: o Serra vai vender o Bolsa Familia à Wal Mart.

Em tempo: no texto do Valor não se sabe como a sra. Serra “corrigiu” o que disse sobre o Bolsa Vagabundagem.

Sabe-se que Fernanda Richa, mulher do candidato tucano no Paraná, Beto Richa, “o programa será mantido, mas por um período, ATÉ QUE A PESSOA TENHA PROMOÇÃO SOCIAL” (ênfase minha – PHA).

Aí é que reside o perigo, amigo navegante.

No “ATÉ QUE” e na “PROMOÇÃO SOCIAL” .





Paulo Henrique Amorim

Antonio Cândido indica 10 livros para conhecer o Brasil

Quando nos pedem para indicar um número muito limitado de livros importantes para conhecer o Brasil, oscilamos entre dois extremos possíveis: de um lado, tentar uma lista dos melhores, os que no consenso geral se situam acima dos demais; de outro lado, indicar os que nos agradam e, por isso, dependem sobretudo do nosso arbítrio e das nossas limitações. Ficarei mais perto da segunda hipótese.
Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da valia de ambos.
Por isso, é sempre complicado propor listas reduzidas de leituras fundamentais. Na elaboração da que vou sugerir (a pedido) adotei um critério simples: já que é impossível enumerar todos os livros importantes no caso, e já que as avaliações variam muito, indicarei alguns que abordam pontos a meu ver fundamentais, segundo o meu limitado ângulo de visão. Imagino que esses pontos fundamentais correspondem à curiosidade de um jovem que pretende adquirir boa informação a fim de poder fazer reflexões pertinentes, mas sabendo que se trata de amostra e que, portanto, muita coisa boa fica de fora. 
São fundamentais tópicos como os seguintes: os europeus que fundaram o Brasil; os povos que encontraram aqui; os escravos importados sobre os quais recaiu o peso maior do trabalho; o tipo de sociedade que se organizou nos séculos de formação; a natureza da independência que nos separou da metrópole; o funcionamento do regime estabelecido pela independência; o isolamento de muitas populações, geralmente mestiças; o funcionamento da oligarquia republicana; a natureza da burguesia que domina o país. É claro que estes tópicos não esgotam a matéria, e basta enunciar um deles para ver surgirem ao seu lado muitos outros. Mas penso que, tomados no conjunto, servem para dar uma ideia básica.
Entre parênteses: desobedeço o limite de dez obras que me foi proposto para incluir de contrabando mais uma, porque acho indispensável uma introdução geral, que não se concentre em nenhum dos tópicos enumerados acima, mas abranja em síntese todos eles, ou quase. E como introdução geral não vejo nenhum melhor do que O povo brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro, livro trepidante, cheio de ideias originais, que esclarece num estilo movimentado e atraente o objetivo expresso no subtítulo: “A formação e o sentido do Brasil”.
Quanto à caracterização do português, parece-me adequado o clássico Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, análise inspirada e profunda do que se poderia chamar a natureza do brasileiro e da sociedade brasileira a partir da herança portuguesa, indo desde o traçado das cidades e a atitude em face do trabalho até a organização política e o modo de ser. Nele, temos um estudo de transfusão social e cultural, mostrando como o colonizador esteve presente em nosso destino e não esquecendo a transformação que fez do Brasil contemporâneo uma realidade não mais luso-brasileira, mas, como diz ele, “americana”. 
Em relação às populações autóctones, ponho de lado qualquer clássico para indicar uma obra recente que me parece exemplar como concepção e execução: História dos índios do Brasil (1992), organizada por Manuela Carneiro da Cunha e redigida por numerosos especialistas, que nos iniciam no passado remoto por meio da arqueologia, discriminam os grupos linguísticos, mostram o índio ao longo da sua história e em nossos dias, resultando uma introdução sólida e abrangente.
Seria bom se houvesse obra semelhante sobre o negro, e espero que ela apareça quanto antes. Os estudos específicos sobre ele começaram pela etnografia e o folclore, o que é importante, mas limitado. Surgiram depois estudos de valor sobre a escravidão e seus vários aspectos, e só mais recentemente se vem destacando algo essencial: o estudo do negro como agente ativo do processo histórico, inclusive do ângulo da resistência e da rebeldia, ignorado quase sempre pela historiografia tradicional. Nesse tópico resisto à tentação de indicar o clássico O abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco, e deixo de lado alguns estudos contemporâneos, para ficar com a síntese penetrante e clara de Kátia de Queirós Mattoso, Ser escravo no Brasil (1982), publicado originariamente em francês. Feito para público estrangeiro, é uma excelente visão geral desprovida de aparato erudito, que começa pela raiz africana, passa à escravização e ao tráfico para terminar pelas reações do escravo, desde as tentativas de alforria até a fuga e a rebelião. Naturalmente valeria a pena acrescentar estudos mais especializados, como A escravidão africana no Brasil (1949), de Maurício Goulart ou A integração do negro na sociedade de classes (1964), de Florestan Fernandes, que estuda em profundidade a exclusão social e econômica do antigo escravo depois da Abolição, o que constitui um dos maiores dramas da história brasileira e um fator permanente de desequilíbrio em nossa sociedade.
Esses três elementos formadores (português, índio, negro) aparecem inter-relacionados em obras que abordam o tópico seguinte, isto é, quais foram as características da sociedade que eles constituíram no Brasil, sob a liderança absoluta do português. A primeira que indicarei é Casa grande e senzala (1933), de Gilberto Freyre. O tempo passou (quase setenta anos), as críticas se acumularam, as pesquisas se renovaram e este livro continua vivíssimo, com os seus golpes de gênio e a sua escrita admirável – livre, sem vínculos acadêmicos, inspirada como a de um romance de alto voo. Verdadeiro acontecimento na história da cultura brasileira, ele veio revolucionar a visão predominante, completando a noção de raça (que vinha norteando até então os estudos sobre a nossa sociedade) pela de cultura; mostrando o papel do negro no tecido mais íntimo da vida familiar e do caráter do brasileiro; dissecando o relacionamento das três raças e dando ao fato da mestiçagem uma significação inédita. Cheio de pontos de vista originais, sugeriu entre outras coisas que o Brasil é uma espécie de prefiguração do mundo futuro, que será marcado pela fusão inevitável de raças e culturas.
Sobre o mesmo tópico (a sociedade colonial fundadora) é preciso ler também Formação do Brasil contemporâneo, Colônia (1942), de Caio Prado Júnior, que focaliza a realidade de um ângulo mais econômico do que cultural. É admirável, neste outro clássico, o estudo da expansão demográfica que foi configurando o perfil do território – estudo feito com percepção de geógrafo, que serve de base física para a análise das atividades econômicas (regidas pelo fornecimento de gêneros requeridos pela Europa), sobre as quais Caio Prado Júnior engasta a organização política e social, com articulação muito coerente, que privilegia a dimensão material. 
Caracterizada a sociedade colonial, o tema imediato é a independência política, que leva a pensar em dois livros de Oliveira Lima: D. João VI no Brasil (1909) e O movimento da Independência (1922), sendo que o primeiro é das maiores obras da nossa historiografia. No entanto, prefiro indicar um outro, aparentemente fora do assunto: A América Latina, Males de origem (1905), de Manuel Bonfim. Nele a independência é de fato o eixo, porque, depois de analisar a brutalidade das classes dominantes, parasitas do trabalho escravo, mostra como elas promoveram a separação política para conservar as coisas como eram e prolongar o seu domínio. Daí (é a maior contribuição do livro) decorre o conservadorismo, marca da política e do pensamento brasileiro, que se multiplica insidiosamente de várias formas e impede a marcha da justiça social. Manuel Bonfim não tinha a envergadura de Oliveira Lima, monarquista e conservador, mas tinha pendores socialistas que lhe permitiram desmascarar o panorama da desigualdade e da opressão no Brasil (e em toda a América Latina).
Instalada a monarquia pelos conservadores, desdobra-se o período imperial, que faz pensar no grande clássico de Joaquim Nabuco: Um estadista do Império(1897). No entanto, este livro gira demais em torno de um só personagem, o pai do autor, de maneira que prefiro indicar outro que tem inclusive a vantagem de traçar o caminho que levou à mudança de regime: Do Império à República(1972), de Sérgio Buarque de Holanda, volume que faz parte da História geral da civilização brasileira, dirigida por ele. Abrangendo a fase 1868-1889, expõe o funcionamento da administração e da vida política, com os dilemas do poder e a natureza peculiar do parlamentarismo brasileiro, regido pela figura-chave de Pedro II. 
A seguir, abre-se ante o leitor o período republicano, que tem sido estudado sob diversos aspectos, tornando mais difícil a escolha restrita. Mas penso que três livros são importantes no caso, inclusive como ponto de partida para alargar as leituras. 
Um tópico de grande relevo é o isolamento geográfico e cultural que segregava boa parte das populações sertanejas, separando-as da civilização urbana ao ponto de se poder falar em “dois Brasis”, quase alheios um ao outro. As consequências podiam ser dramáticas, traduzindo-se em exclusão econômico-social, com agravamento da miséria, podendo gerar a violência e o conflito. O estudo dessa situação lamentável foi feito a propósito do extermínio do arraial de Canudos por Euclides da Cunha n’Os sertões (1902), livro que se impôs desde a publicação e revelou ao homem das cidades um Brasil desconhecido, que Euclides tornou presente à consciência do leitor graças à ênfase do seu estilo e à imaginação ardente com que acentuou os traços da realidade, lendo-a, por assim dizer, na craveira da tragédia. Misturando observação e indignação social, ele deu um exemplo duradouro de estudo que não evita as avaliações morais e abre caminho para as reivindicações políticas. 
Da Proclamação da República até 1930 nas zonas adiantadas, e praticamente até hoje em algumas mais distantes, reinou a oligarquia dos proprietários rurais, assentada sobre a manipulação da política municipal de acordo com as diretrizes de um governo feito para atender aos seus interesses. A velha hipertrofia da ordem privada, de origem colonial, pesava sobre a esfera do interesse coletivo, definindo uma sociedade de privilégio e favor que tinha expressão nítida na atuação dos chefes políticos locais, os “coronéis”. Um livro que se recomenda por estudar esse estado de coisas (inclusive analisando o lado positivo da atuação dos líderes municipais, à luz do que era possível no estado do país) é Coronelismo, enxada e voto (1949), de Vitor Nunes Leal, análise e interpretação muito segura dos mecanismos políticos da chamada República Velha (1889-1930). 
O último tópico é decisivo para nós, hoje em dia, porque se refere à modernização do Brasil, mediante a transferência de liderança da oligarquia de base rural para a burguesia de base industrial, o que corresponde à industrialização e tem como eixo a Revolução de 1930. A partir desta viu-se o operariado assumir a iniciativa política em ritmo cada vez mais intenso (embora tutelado em grande parte pelo governo) e o empresário vir a primeiro plano, mas de modo especial, porque a sua ação se misturou à mentalidade e às práticas da oligarquia. A bibliografia a respeito é vasta e engloba o problema do populismo como mecanismo de ajustamento entre arcaísmo e modernidade. Mas já que é preciso fazer uma escolha, opto pelo livro fundamental de Florestan Fernandes, A revolução burguesa no Brasil (1974). É uma obra de escrita densa e raciocínio cerrado, construída sobre o cruzamento da dimensão histórica com os tipos sociais, para caracterizar uma nova modalidade de liderança econômica e política. 
Chegando aqui, verifico que essas sugestões sofrem a limitação das minhas limitações. E verifico, sobretudo, a ausência grave de um tópico: o imigrante. De fato, dei atenção aos três elementos formadores (português, índio, negro), mas não mencionei esse grande elemento transformador, responsável em grande parte pela inflexão que Sérgio Buarque de Holanda denominou “americana” da nossa história contemporânea. Mas não conheço obra geral sobre o assunto, se é que existe, e não as há sobre todos os contingentes. Seria possível mencionar, quanto a dois deles, A aculturação dos alemães no Brasil (1946), de Emílio Willems; Italianos no Brasil (1959), de Franco Cenni, ou Do outro lado do Atlântico (1989), de Ângelo Trento – mas isso ultrapassaria o limite que me foi dado.
No fim de tudo, fica o remorso, não apenas por ter excluído entre os autores do passado Oliveira Viana, Alcântara Machado, Fernando de Azevedo, Nestor Duarte e outros, mas também por não ter podido mencionar gente mais nova, como Raimundo Faoro, Celso Furtado, Fernando Novais, José Murilo de Carvalho, Evaldo Cabral de Melo etc. etc. etc. etc. 
* Artigo publicado na edição 41 da revista Teoria e Debate – em 30/09/2000
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Antonio Candido é sociólogo, crítico literário e ensaísta